sábado, 31 de maio de 2008
Máximas em mínimas (28)
sexta-feira, 30 de maio de 2008
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Luísa Todi e mais 29 portuguesas do tempo de Bocage
Depois deste parágrafo (entre passados, presentes e futuros), que inicia o capítulo biográfico de Luísa Todi no quarto volume de Portuguesas com História, de Anabela Natário (Lisboa: Círculo de Leitores, 2008), a vida da cantora lírica setubalense surge rápida e vertiginosa, numa dezena de páginas de acção, ao sabor do ritmo que consta no parágrafo inicial, em jeito de crónica jornalística, leve e eficaz. À semelhança da escrita épica, temos a história a começar “in medias res”, no momento em que a jovem Luísa Rosa de Aguiar (seu nome de solteira) entra na carreira artística, que haveria de a catapultar para lugar cimeiro no canto e na fama. É esse percurso que aqui se acompanha, ainda que ressalte também alguma amargura e alguma dose de humanidade no retrato que de Luísa Todi é delineado.
Das restantes figuras cujo perfil biográfico é traçado, mais duas tiveram uma relação com Setúbal, ainda que não de uma forma directa. Menciono Luísa Clara de Portugal (n. 1703) e Catarina Lencastre (1749-1824). Quanto à primeira, que ficou conhecida como “Flor de Murta”, foi filha do Governador da Torre do Outão Bernardo de Vasconcelos, casou aos 16 anos com Jorge Francisco de Meneses (quase com o dobro da idade dela e senhor de vários títulos – comendador da Ordem de Cristo, de São Silvestre de Requião e de São Miguel de Alvarães) e depois foi amante de D. João V e do seu sobrinho. Relativamente a Catarina Lencastre, de Guimarães, viveu em Londres e, depois de enviuvar, dedicou-se à poesia, tendo ficado conhecida como a “Safo portuguesa” num meio artístico com o qual nem sempre teve uma relação pacífica, referindo a autora os casos de alguns “amores perdidos” como terá acontecido no relacionamento com Bocage, “mais novo dezasseis anos, com quem há-de zangar-se depois de com ele trocar mimos poéticos.”
Portuguesas com História, de Anabela Natário (n. 1960, jornalista) é obra prevista para seis volumes, tendo já saído os dedicados aos séculos X a XIII (primeiro), XIV e XV (segundo), XVI e XVII (terceiro) e XVIII (quarto). No final, cerca de 180 figuras femininas estarão retratadas pelas suas histórias para a História.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Que língua é esta, que povo é este?
terça-feira, 27 de maio de 2008
Rostos (54)
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Máximas em mínimas (27)
"O prazer da leitura", da FNAC, e um conto de João Aguiar
A primeira narrativa, por ordem de página, é a de João Aguiar, intitulada “Verba volent, scripta manent” (isto é: as palavras voam, a escrita permanece). De tal forma o ritmo da história é interessante que pensei lê-lo aos meus alunos de 8º ano. E, em três turmas, a adesão foi total. Porque se passava com um jovem pouco mais velho do que eles; porque havia um aluno em cada turma com o nome da personagem principal; porque é uma história escrita em jeito de registo no diário, criando uma cumplicidade de segredo, de simpatia e de reserva entre o narrador e o leitor; porque muitos (quase todos) se conseguiram rever naquela personagem, que tinha perante a escola, a leitura e a família uma atitude em muito semelhante à dos jovens ouvintes; porque ficaram maravilhados com algumas descrições (por exemplo, a da biblioteca); porque acreditaram que é possível a transformação das pessoas; porque a salvação chegou através da natureza, da leitura e da música.
Não vou aqui apresentar a história. Apenas direi que a adesão foi tão generosa que alguns manifestaram vontade de adquirir o livro, enquanto outros (muitos!) solicitaram uma cópia daquele conto. E foi bom ouvi-los dizer: “Sinto que estou exactamente como a personagem” ou “é mesmo o retrato do que se passa comigo” ou “foi muito interessante a forma como o jovem descobriu a alternativa da leitura”.
E, já que disto se fala, como o título do conto é em latim, não o li no início, mas pedi-lhes para pensarem num título para aquela história, que depois me iriam dizer; em troca, revelar-lhes-ia depois o título dado por João Aguiar, com explicação adequada. Todos os alunos colaboraram conforme sugerido. E, de acordo com os meus gostos, a melhor proposta veio de um rapaz, que sugeriu o título de “Castigo encadernado”. Agora, some-se esta proposta com o título original e… o que sugiro? Isso mesmo: um pretexto para embarcar n’O prazer da leitura.
domingo, 25 de maio de 2008
A língua portuguesa no mundo
José Paulino Pereira e o bisturi como chave da memória
Este livro recolhe textos que, na sua quase totalidade, foram já publicados e que, como regista o autor, em texto que serve como apresentação da obra, foram “inspirados em situações vividas”. A observação é importante, pois garante o pendor autobiográfico desta escrita, onde se cruzam espaços, pessoas e histórias vividas pelo narrador das evocações.
Podemos referir que este conjunto de textos constitui a geografia de José Paulino Pereira. Paradigmaticamente, a primeira narrativa intitula-se “A minha rua” e constitui a chave que permite a entrada no livro e a viagem até à infância em Torres Vedras – “foi nela que nasci, cresci e brinquei”. E é um desfiar de lembranças de amigos, de familiares, de intimidades.
O grupo de escritos dedicados a Torres Vedras tem ainda espaço para lembrar a história das Termas dos Cucos (narrativa em que descobri uma afinidade com a minha aldeia, pois houve alguém que, de Alvarães, no concelho de Viana do Castelo, pelos idos de 1932, questionou a legitimidade do testamento que fizera passar as termas para as mãos de José António Vieira), a pretensão já sentida de Torres Vedras querer ser a capital de um distrito que chegou a estar pensado para a região do Oeste, a história da medicina torriense, a ligação à Associação de Bombeiros.
Os outros pontos desta cartografia do tempo assentam em Coimbra (com histórias do tempo da formatura universitária e das visitas ali feitas depois, a propósito das reuniões de curso), Peniche (local de férias, com histórias vividas de descoberta) e Setúbal (ponto de fixação profissional nos hospitais – primeiro, da Misericórdia e, depois, de S. Bernardo –, com referências múltiplas à história local e a episódios passados com os respectivos pacientes).
Neste itinerário descontínuo e seleccionado de vida, há também lugar para identificações e preferências, aliando as sensibilidades de outros à descoberta própria, conjugando arte e saber, como surge neste exemplo que relembra uma viagem à Arrábida: “Eu não sou poeta. Não tenho esse dom, mas ninguém me impede de subir ao cimo da imponente Serra da Arrábida, imitando nessa caminhada o príncipe dos poetas setubalenses que se chamou Sebastião da Gama. Ninguém como ele conhecia os seus segredos que o convidavam à meditação.”
Quando Paulino Pereira fala de pessoas, são-lhes enaltecidos os dotes, que podem entrar para o lote de valores a preservar. Assim, surgem referências de apreço a mestres ou a figuras que foram importantes para a formação do próprio narrador por características como o trabalho em equipa, a formação humanista, a competência, a disponibilidade para os outros, a relação próxima e afectiva entre médico e doente. O humor está também presente, seja por alguns momentos relembrados e pelo cómico da situação que constituíram, seja pelo tom com que, à distância, são evocados. As qualidades das personagens e o sentido de humor conjugam-se bem nos quatro contos que constituem a última parte do livro, de tal forma que nem parece que se entra no registo da ficção, antes se continua no da memória…
Ao longo destes textos, o leitor vai ainda convivendo com a coerência do homem e do profissional, que não deixa margem para dúvidas depois de uma crónica como “Decisão na hora certa”, em que, a propósito da facilidade com que se põem em causa as práticas dos profissionais de alguns serviços, nomeadamente da saúde, Paulino Pereira relata a decisão que teve que tomar, ao levar um doente para o hospital, à sua própria custa, contra a vontade da família mas com o acordo do paciente, numa situação que poderia ser decisiva. A intervenção acabou por ter sucesso e a crónica conclui com a seguinte reflexão: “O êxito foi total. Mas, se o desfecho fosse outro, o que me teria acontecido? Os homens que me julgassem. Perante o tribunal da minha consciência ficaria absolvido.”
A escrita de Paulino Pereira neste Bisturi do tempo é simples, acessível e directa, parecendo que se está perante um contador de histórias de vida. Os retratos que ressaltam são os da disponibilidade e do prazer no exercício médico, quase nos surgindo pela frente um João Semana, distante do que Júlio Dinis nos apresentou no séc. XIX pelas mudanças operadas pelo tempo, mas próximo pela sensibilidade e pela humanidade no trato e na vida, marcas que popularizaram e notabilizaram essa personagem como médico.
sábado, 24 de maio de 2008
A "Colóquio-Letras" à distância de um clic
Surgida em 1971, após o desmembramento do título Colóquio (1959-1970), que originou, também em 1971, Colóquio-Artes (aparecendo, mais tarde, em 1988, a Colóquio-Ciências e, em 1992, a Colóquio-Educação), foi inicialmente co-dirigida por Hernâni Cidade e Jacinto do Prado Coelho (nº 1, Março de 1971, até ao nº 8, Julho de 1972). Ao longo da sua história, pelo lugar de direcção da revista passaram: Hernâni Cidade (a partir do nº 9, de Novembro de 1972), Jacinto do Prado Coelho (desde o nº 24, de Março de 1975, depois de ter sido seu director-adjunto a partir do nº 9), David Mourão-Ferreira (desde o nº 80, de Julho de 1984) e Joana Morais Varela (desde o nº 142, de Outubro de 1996, depois de ter exercido os cargos de assessora - a partir do nº 108, de Março de 1989 - e de directora-adjunta - a partir do nº 121, de Julho de 1991). Outros dois nomes a destacar são o de Luís Amaro (secretário de redacção desde o primeiro número, director-adjunto desde o nº 94, de Novembro de 1986, e consultor editorial a partir do nº 108, de Março de 1989, até ao nº 142, de Outubro de 1996) e o de Abel Barros Baptista (director-adjunto desde o nº duplo 143/144, de Janeiro de 1997).
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Francisco Lucas Pires - o pai que Jacinto Lucas Pires escreve
quinta-feira, 22 de maio de 2008
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Um retrato escrito do Vale do Neiva
Por este livro é dada ao leitor a oportunidade de ser viajante no tempo, recuando a histórias, práticas e costumes entranhados e vividos desde um tempo de que ninguém se lembra até ao tempo que corre, numa permanente visita à memória. O apego à região em que cresci e o cruzamento com relatos de que guardo retratos na memória determinaram a minha adesão a este itinerário em que o Vale do Neiva surge autêntico.
Alguns textos configuram mais a prática do conjunto de apontamentos; muitos outros vivem sobre as memórias de entrevistados, com o seu vocabulário próprio, com as marcas de linguagem regional (por vezes, local). Há notícias sobre o quotidiano, sobre as vidas – da actividade económica à vida familiar, da linguagem à religião, da festa à alimentação, da matança do porco à consoada, das brincadeiras infantis à alternativa da medicina popular, do cancioneiro às memórias, das rezas ao folclore e às crenças.
Um exemplo (entre muitos possíveis) em que a língua respira vivacidade e originalidade é no testemunho prestado por Beatriz da Silva (com 74 anos em 1984, ano do depoimento), ao descrever como era feita a “fornada”, misto de técnica, de crença, de necessidade, de saber, de arte e de engenho: “Primeiro peneira-se a farinha para dentro da masseira, deita-se nela água morna, sal e o fermento, que ficou da última fornada. Imberbe-se tudo com a rapadeira, com as mãos apezunha-se, dá-se-lhe três voltas, alivia-se a seguir a massa, para ficar estufadinha. A seguir, junta-se a massa, onde se faz uma cruz com o dedo, a um canto da masseira, é tapada com um pano e aí fica a levedar. Estando levedada a massa e o forno bem quente, limpa-se o forno com uma férrea, tiram-se as brasas com um varredoiro, limpa-se de todas as brasas e borralha. À porta do forno deixam-se ficar algumas brasas para evitar que o forno arrefeça. Estando limpo o forno, põem-se primeiro os bolos – pão baixo, que é geralmente recheado de sardinhas, chouriço ou toucinho – que se comem na primeira refeição. Para cozer os bolos não se tapa a boca do forno. Retirados os bolos cozidos, segue o pão de broa. Com a ajuda da gamela apadeja-se e sobre a pá coloca-se a broa, introduzindo-a no forno. Cada broa pesa 4 a 5 quilos. Geralmente o forno leva cerca de seis broas. Estando cheio, antes de pôr a tampa, faz-se com a pá uma cruz à boca do forno e diz-se ‘Deus te acrescente, dentro do forno e fora do forno e que deias pão para os pobres todos, ámen Jesus’. Põe-se a porta de madeira e tapa-se as frestas para que o calor não se perca (utilizava-se bosta de gado, que secava com o calor, ou, nos tempos mais recentes, massa de farinha, quando deixou de ser uso andar a apanhar a bosta para cozer a broa). A fornada leva cerca de duas horas a cozer. Depois, retira-se a porta e com o cabo da vassoira dá-se um toque em cada broa, que é para acordar o pão.” Depois, havia pão para duas semanas…
Felizmente, sobre a região do Vale do Neiva tem havido divulgação bibliográfica – por as ter à mão, refiro obras como a organizada por Cândido Maciel (Vale do Neiva – Subsídios monográficos. Durrães: 1982) e a de Manuel Moreira do Rego (Crenças, tradições e a sua evolução no Vale do Neiva. Neves: Centro Recreativo e Cultural das Neves, 2005) – a que vem agora juntar-se este livro, que, de acordo com as palavras do editor, é o primeiro volume de “um projecto de publicação de trabalhos de cariz cultural”.
terça-feira, 20 de maio de 2008
Retrato de Setúbal e palavras de D. Manuel Martins
A pretexto deste retrato, o jornal foi ouvir D. Manuel Martins (hoje no Porto), cujas palavras, mais uma vez, não são enigmáticas e dão continuidade àquele que foi o seu discurso nos tempos da actividade centrada na sua diocese de Setúbal, numa luta contra o marasmo. Que sinais são necessários? “Que a Igreja seja pobre. Gostava de uma Igreja que não condenasse, que dialogasse, que derrubasse muros, que comungasse os problemas do mundo, que ouvisse os clamores das pessoas e lhes soubesse responder. Quero uma Igreja que aprenda com o mundo e descubra uma maneira nova de estar. (…) A Igreja tem de estar num esforço permanente de reconversão. Depois, tem de sair para a rua, para o povo notar que está ao serviço do Homem. Toda esta descoberta da dignidade funda-se na democracia, que passa pela vivência e pelo testemunho de uma descoberta de valores. E estamos muito longe de qualquer coisa a que se possa chamar democracia.”
Se a voz deste homem pode ser entendida como uma reacção ao correr dos tempos, então o retrato é ainda mais negro do que se possa imaginar. Já não podemos atirar o futuro ou a mudança para o século XXII, por ser despropositado. Mas, no século XXI, que estamos a viver, o valor do Homem é cada vez menor. Como dava a entender Gedeão… o Homem Novo é cada vez mais uma réplica do Homem Velho. Talvez com tendência para piorar! E este nosso mundo será cada vez mais um espaço maior de desgosto e de insatisfação, de exploração e de pobreza. Inevitavelmente, isso reflecte-se na (nossa) vida. Inevitavelmente também, o bispo emérito de Setúbal poderá continuar a dizer, como um dia escreveu numa mensagem para a Semana da Solidariedade (in Pregões de Esperança. Setúbal: Caritas Diocesana, 1997): “Fazem chorar (e corar de vergonha) tantas situações de carências primárias que todos os dias nos batem à porta”, que todos os dias todos vemos.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Dos carrinhos de rolamentos
Na aula de Educação Tecnológica, surgiu a ideia dos carrinhos de rolamentos. E a construção começou. Com apuros nas sessões de aula, com ajudas em casa, com investimento da turma, com alegria, aplicando conhecimentos.
domingo, 18 de maio de 2008
sábado, 17 de maio de 2008
Rómulo de Carvalho e António Gedeão em Setúbal
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Fumar mata?
Sobre o castelo de Palmela
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Alice Vieira com o seu público
A escrita de Alice Vieira entusiasma os jovens, seja pelos retratos da adolescência traçados nas histórias, a que os jovens leitores se colam, seja pela busca da identidade que esses adolescentes-personagens sempre demandam, seja pelo quadro de referências relacionais que anima as narrativas, seja pelo humor que por ali transborda. Com facilidade encontramos leitores de Alice Vieira, nem que seja de uma obra apenas, independentemente de género.
Alguns alunos leram poemas por eles mesmos produzidos; outros leram poemas da antologia apresentada. Depois, Alice Vieira falou sobre poesia, contou histórias, riu-se, aproximou-se. E, depois ainda, no contacto com a escritora, brotaram perguntas sobre as obras, revelando curiosidade simples ou demonstrando algum conhecimento dos textos por ela assinados. Saltaram referências a Rosa, minha irmã Rosa (1979), a Graças e desgraças na corte de el-rei Tadinho ou a Viagem à roda do meu nome (ambos de 1984), a Flor de mel (1986), entre outros. Mas os leitores quiseram mais: Porque decidiu optar pelo jornalismo? Qual o livro que lhe deu mais gozo a escrever? Como lhe surgiu o título X…? Onde vai buscar imaginação para todas estas histórias? Porque começou a escrever?...
No final, a sessão de autógrafos. Inevitável. Alguns, leitores já conhecidos, traziam os livros que rebuscaram lá por casa. Outros, em descoberta recente, adquiriam os livros na bancada ali ao lado. Outros ainda, sem possibilidades de chegar aos livros, aproveitavam o desdobrável de apresentação da escritora que a Biblioteca fez para lhe pedirem um autógrafo e uma dedicatória… O contacto com a escritora era merecido. Falou-se e exerceu-se a leitura de uma maneira diferente. E gostaram!
No prefácio da antologia organizada por Alice Vieira, fica a recomendação: “Lembra-te que um bom poema nunca é aborrecido, nunca é banal, nunca te deixa indiferente. Como escreveu um dia um poeta (e grande professor) português chamado Sebastião da Gama: Poesia / para quê buscar-te para além dos astros / se andas tão perto da gente?”
Os recuos no tempo são sempre interessantes...
Aí está o 150º aniversário da Escola Secundária de Bocage (antigo Liceu de Setúbal) a atravessar a História de todos nós. É sugestão. Serve como convite. É já amanhã...
De um e-mail, que recebi de pessoa amiga, transcrevo a justificação para a actividade e para o tema: «Os participantes terão a oportunidade de integrar a recriação de uma feira da época, mergulhar num ambiente de festa popular, através de várias bancas de comércio, profissões e práticas de artesanato, de diversões, e de um torneio militar quinhentista (Passado Vivo), de molde a serem transportados para um período histórico de interesse e agitada actividade que se vivia em todo o reino, e na vila, decorrente do período áureo dos Descobrimentos (D. Afonso V partira desta vila para a sua grande demanda militar no Norte de África a conquista de Alcácer Ceguer, em 1458; D. João II, procurando reforçar a centralização do poder, escolhera Setúbal para assassinar o seu cunhado conspirador – o Duque de Viseu; na mesma vila é ratificado o Tratado de Tordesilhas, em 1499, que estabeleceu a divisão do mundo entre duas grandes potências coloniais, Portugal e Espanha).»
Alteração (em 15 de Maio): De acordo com informação recebida na tarde de hoje, esta acção, devido ao mau tempo, foi adiada para 17 de Maio.
terça-feira, 13 de maio de 2008
Recados da juventude via Presidência da República
Quanto à proposta de "institucionalizar" os encontros como o de ontem, no Palácio de Belém, Cavaco Silva garantiu que não invocará "problemas de agenda" e que pensará em "dar continuidade" ao debate "estimulante" com "os dirigentes das principais organizações de juventude". Uma coisa é já certa: o Presidente da República vai enviar formalmente as conclusões ontem apresentadas aos "outros órgãos de soberania".
Cavaco Silva quis deixar ontem uma mensagem de "optimismo" e elogiou os representantes que recebeu por não aceitarem "a fatalidade do afastamento dos jovens" em relação à política e por terem contribuído para "agitar as águas". Se a política apostar na "credibilização" e na "transparência", "os jovens responderão positivamente", acredita.
Os trabalhos dividiram-se por três grupos, dedicados à política local, nacional e europeia/internacional, cujas conclusões foram apresentadas, respectivamente, por Décio Santos, da Federação de Associações de Juventude dos Açores, Nelson Raimundo, da Associação de Escoteiros de Portugal, e Tiago Soares, do Conselho Nacional de Juventude. Mas há muitas recomendações comuns. Reconhecer o trabalho associativo e o voluntariado e valorizar a formação cívica nos currículos escolares são algumas delas.
Ao Governo, cabe "reforçar os mecanismos de co-gestão e co-decisão" e elevar a "emancipação juvenil" ao estatuto de "objectivo estratégico da política de juventude". Habitação, emprego e educação são as três áreas de maior preocupação.
Os partidos devem "credibilizar a actividade política" e apostar em "mais e novas formas de comunicação". E as autarquias foram instadas a "potenciar o papel dos conselhos municipais de juventude" e a realizarem "orçamentos participativos" que envolvam os jovens nas decisões.
A "responsabilidade social" da comunicação social também foi realçada, pedindo-se "maior divulgação" das questões da juventude. (...)»
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Paulino Pereira - a memória entre as memórias
Aqui há uns anos – cinco, seis? –, o Dr. Paulino dizia-me que gostava de coligir num volume os seus escritos, uns de memórias, outros de histórias. A partir daí, quando o encontrava, perguntava-lhe pelo livro. Só o deixei de fazer agora para o fim, vendo-o a decair, sempre apoiado na garra da esposa, professora aposentada, a Dra. Auzenda.
É claro que já fui comprar o livro. Tinha que ser hoje, em gesto de quase homenagem, admito. Tinha que ser ainda hoje o início da sua leitura, para me reencontrar com aquele espírito humorístico, fino, crítico, requintado, que animava o Dr. Paulino. Quando, no dia 5, soube telefonicamente do falecimento do Dr. Paulino, uma pessoa que estava comigo e se apercebeu do teor da conversa perguntou-me, em jeito de confirmação, se este Dr. Paulino de que eu falara ao telefone era aquele que tivera consultório ali na 22 de Dezembro, que tinha estado a dirigir o Hospital de S. Bernardo e que era cirurgião… Disse-lhe que sim. E a senhora, que conhecera o Dr. Paulino em circunstâncias de recurso médico, não se conteve: “Esse senhor era um doce. Tão fino, tão pronto, tão atencioso, tão humano… Era uma doçura!”
Bisturi do tempo é, assim, o legado escrito que o Dr. Paulino Pereira deixou aos seus amigos e aos curiosos, obra que assenta também numa geografia própria, que é a do mapa das suas permanências, com entradas para Torres Vedras (cidade onde nasceu e que começa por evocar no texto “A minha rua”, numa ida até à rua dos Celeiros de Santa Maria), para Coimbra (onde estudou medicina), para Peniche (onde passou férias muitas vezes) e para Setúbal (cidade onde se fixou e que adoptou como sua ou por ela foi adoptado).
Não resisto sem transcrever o final do prefácio redigido por Jorge Abreu e Silva, médico e amigo do autor: “Esta é uma obra para gente que sente, que pensa, que sonha. É uma obra obrigatória para quem, como eu, o Paulino Pereira e tantos colegas da velha Universidade de Coimbra, aprendemos na Escola da Vida o valor da Amizade, a força da Liberdade, a intensidade do Amor, a magia da Medicina praticada com humanidade. Ler esta obra é sorrir, emocionarmo-nos e deixar à solta a nossa essência humana mais pura.”
A ler, obviamente.
domingo, 11 de maio de 2008
Hans Christian Andersen em Palmela
Esta exposição, a fechar o ciclo evocativo, em que o visitante é recebido por um Andersen articulado, conta com os desenhos de vários artistas plásticos que ilustraram uma edição de contos andersenianos editados por Fischer, peças de cerâmica alusivas aos contos, mostra de reproduções dos famosos recortes de papel de Andersen e trabalhos feitos por alunos de várias escolas do concelho de Palmela.
A mostra está patente na Galeria de Exposições da Biblioteca Municipal de Palmela, mas estende-se também aos pólos concelhios de Pinhal Novo, Quinta do Anjo, Poceirão e Marateca.
O tema “Tudo dança”, que anima este final do ciclo de exposições, valoriza a recriação artística em diversas vertentes da temática anderseniana (teatro, dança, música, artes plásticas), havendo ainda lugar para um concurso artístico (nas áreas da literatura e das artes plásticas) que terá entrega de trabalhos até 17 de Junho.
sábado, 10 de maio de 2008
Fernando Gandra - "O sossego como problema (peregrinatio ad loca utopica)"
Uma possível razão para este tipo de entrada é o seu primeiro parágrafo, que diz: “A linha do horizonte situa-se no ponto indefinido onde o céu e a terra se unem. É indefinido porque recua à medida que avançamos. A linha do horizonte só é fixa e acessível à distância.” E assim se vai construindo o percurso que visa entrar pelo horizonte, aproximar-se da utopia, ainda que sabendo que a distância que nos separa da utopia nunca se reduz… Sabemos que, neste caminhar, “a utopia coloca-nos entre a terra e o céu, ou, se quisermos, entre a razão civil e o mito escatológico (…). É uma revelação que registamos como improvável mas que, mesmo assim, põe em causa a coesão do nosso esmagador património de certezas. (…) É pura promessa, isto é, diálogo silencioso com o destino.”
A ideia transmitida pelo subtítulo – “peregrinatio ad loca utopica”, resultante de um empréstimo de Jorge de Sena (Peregrinatio ad loca infecta, de 1969), que também já a recolhera de uma Peregrinatio ad loca sancta, composição de uma provável freira bracarense do século IV – é aquela que mais dirá sobre o objecto deste livro: a história das utopias, numa romagem pessoal, em que entram a filosofia, a literatura, a história, a música e a política.
Uma segunda linha de apresentação do livro advém da citação de Eduardo Lourenço, que abre o discurso – “O ensaísmo no seu risco mais profundo não tem objecto próprio, mas inventa o seu objecto”, acentuando o autor que o “risco” contém a duplicidade do sulco e do perigo, um e outro na emergência de se construírem com palavras ou de à palavra darem a primazia.
A transdisciplinaridade é definida por Fernando Gandra como “uma espécie de sinestesia cognitiva que transgride as prescrições académicas porque dá espaço ao regime dos afectos”, um argumento mais para sustentar este seu livro, em que se cruza a filosofia com os gostos e os desgostos do mundo e da vida, em que se torna evidente a rejeição do academismo, demonstrada, por exemplo, no valor que à análise confere a experiência pessoal ou numa escrita em que o eu se não esconde ou, sobretudo, numa exposição em que as remissões bibliográficas não são inseridas e em que é mesmo recusada a necessidade de um índice remissivo, curiosamente com o argumento da liberdade – “aqui não há índice remissivo porque é quase só papel vadio, desprevenido”, diz, a fechar o livro. (...)
Que espécie de livro é este, então?
Para falar das utopias, Fernando Gandra parte, muitas vezes, de coisas simples, com que nos confrontamos no quotidiano, tais como: o adágio “água mole em pedra dura tanto dá até que fura”; a pergunta “porque fechamos os olhos e a boca aos que acabam de morrer?”; a questão da energia em que se apoiam as revoluções; os hinos nacionais, encarados como a imagem que um povo tem e quer de si; as lâmpadas sempre sujas, nas prisões e nas esquadras; a simultaneidade da existência dos “novos ricos” e da “pobreza envergonhada” na utopia do dinheiro; o valor de gestos como a “palavra de honra”; as intuições de género como aquela, feminina, de saber a importância do calar-se; a valorização de expressões como “muro de silêncio” ou aquela construção comparativa do “como se” ou outra, mais expectante, do “espero que”…
A saída [depois de se confrontar com Rousseau e a democracia, com Hegel e o absoluto à mistura com Beethoven, com Marx e os "ismos" comunismo e nazi-fascismo, com a utopia do Estado Novo] é pela utopia do silêncio, algo que já vinha anunciado no primeiro capítulo do livro, algo que suscita a “ambiguidade ontológica”, algo que “sabemos que existe, mas não sabemos bem em que consiste”.
No último capítulo, uma epopeia do silêncio, sabemos que, se absoluto, é “o último episódio de um curriculum” ou “o fim de um estado civil”, duas excelentes imagens que permitem ao homem ser a ponte entre o silêncio inicial (a “mudez pré-natal”) e a escuridão total onde “o silêncio não tem obstáculos”.
Máximas em mínimas (26)
Máximas em mínimas (25)
quinta-feira, 8 de maio de 2008
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Professores - 30 conselhos
Rostos (49)
terça-feira, 6 de maio de 2008
Sebastião da Gama estudado por Alexandre Santos em investigação de mestrado
A defesa da tese, sujeita ao título Sebastião da Gama – Milagre de vida em busca do eterno – Uma leitura da sua obra, ocorreu na tarde de hoje, na Universidade Aberta, em Lisboa, com um júri constituído pelos professores Rui Azevedo Teixeira (orientador da tese e docente da UA), Dionísio Vila Maior (docente da UA) e José Tolentino de Mendonça (arguente e professor da Universidade Católica).
O júri considerou que este trabalho teve como linhas importantes “a seriedade científica, a maturidade e uma investigação apaixonada”. José Tolentino de Mendonça iniciou a arguição dizendo que Sebastião da Gama foi um “poeta precoce” e que, devido ao seu curto período de vida, foi a obra legada que, postumamente, o firmou como poeta e escritor de mérito.
Sebastião da Gama publicou apenas três livros de poesia – Serra Mãe (1945), Cabo da boa esperança (1947) e Campo aberto (1951). Os restantes oito títulos publicados são póstumos, aí se incluindo o Diário, sobre cuja publicação passa neste ano o 50º aniversário e sobre cujo início de escrita se celebrarão os 60 anos em Janeiro de 2009.
Alexandre Francisco Ferreira dos Santos (n. 1960), pertencente à Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos), é pároco em Queijas.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Rostos (48)
Riqueza e felicidade
A questão da participação política levantada pelo Presidente da República
domingo, 4 de maio de 2008
No Dia da Mãe (com a ajuda de Sebastião da Gama)
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais…
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém…
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe…
Sebastião da Gama, 07-03-1945, Serra Mãe (1945)
História em revista
Depois, vêm as fotografias desse ano, a primeira das quais é aquele poderosíssimo instantâneo de Eddie Adams, que captou o comandante da polícia de Saigão a executar um soldado vietcong, foto que fez recrudescer o protesto dos americanos contra a guerra no Vietname e que valeu ao seu autor o prémio Pulitzer, que nunca aceitou.
Há também uma cronologia do ano e, depois, vem “O mais longo mês de Maio”, que relembra os acontecimentos e que os analisa, agora que em França se discute essa vontade de acabar com as memórias dos “soixante-huitards”, intenção vista por Daniel Bensaid como “um discurso de exorcismo” porque “acabar com o espectro de 68 é uma tentativa de exorcizar a crença de que ele possa ressurgir”.
Praga, Vietname, Luther King (assassinado em 4 de Abril) e o racismo e a queda de Salazar são os outros destaques. Para lembrar, há ainda alguns livros (O delfim, de Cardoso Pires, ou Os afluentes do silêncio, de Eugénio de Andrade), músicas (Cantares do andarilho, de José Afonso), arte (Warhol e Júlio Pomar) e moda (entre o fim do previsível e o surto do “mosaico”) desse ano.
A finalizar, há um texto de Manuel Villaverde Cabral, exilado em Paris em 1968, que vê o Maio de 68 como uma “revolução cultural” com reflexos que perduram ainda hoje: “A retórica espontaneísta do ‘contra’ deixou marcas profundas e a actual paisagem humana e social seria bem diferente sem ela: contra o Estado e os seus mecanismos de enquadramento; contra a família convencional e o recalcamento sexual; contra o racismo e a subordinação das mulheres e crianças; contra a escola disciplinadora e reprodutora das desigualdades; contra o trabalho penoso e o consumo alienante, etc. Tudo isto é irreversível, tendo sido absorvido e massificado até ao limite do relativismo ante a falência das crenças autoritárias. E a prova está feita. Quando Sarkozy mobilizava recentemente os conservadores com o ódio ao legado de Maio, estava a esquecer-se de que era esse legado que lhe permitia casar e descasar em directo na televisão…”
Máximas em mínimas (24)
Não sei se alguém se admira, but...
«(...) Deixem-me contar-vos uma pequena história verídica: sou professora de Inglês numa escola secundária. Há tempos, um aluno de 10.º ano, nível 6 da língua inglesa, procurava desesperadamente no dicionário, palavra a palavra, durante um teste, tudo o que não sabia. Vendo que estava a perder muito tempo, abeirei-me dele e pedi-lhe que me dissesse o que procurava porque estava a perder muito tempo. Procurava a palavra "mas"! Fiquei perplexa e respondi-lhe: "Então não é but?" Agradeceu-me e, mal eu virei as costas, chamou-me e disse-me: "Já agora, professora, podia dizer-me como se diz "o". E eu: "o" de o, a, os, as?" Sim, foi a resposta!
Na mesma turma, de 27 alunos, havia excelentes alunos na disciplina, outros que tinham explicação, outros que andavam no Instituto de Línguas há anos, etc. Como é que no fim do ano, por mais esforços que o professor faça, se passa um aluno destes que nem sequer compreende uma palavra do que eu digo nas aulas? No secundário, como é sabido, as disciplinas são de passagem obrigatória, uma a uma.
E falam da Finlândia! O primeiro-ministro esteve na Finlândia a ver as escolas e veio de lá encantado. Eu conheço bem o sistema finlandês e por isso me pergunto: será que não reparou que, dentro da sala de aula, há outro professor só para ajudar estes alunos e não fazer os outros perderem tempo de aprendizagem? Será que a OCDE sabe que as famosas aulas de apoio em Portugal são facultativas ao nível do secundário? Será que a OCDE sabe que as aulas de apoio em Portugal não são "tempos lectivos" no novo Estatuto da Carreira Docente, ou seja, "ensina-se" mas não se está a "leccionar"? Será que os pais dos outros países estudados pela OCDE dizem aos filhos para deixarem uma ou duas ou três disciplinas de lado porque "não dão para aquilo"?
Não brinquem com o ensino e com os professores, se faz favor. Venham, incógnitos, disfarçados, escondidos ou às claras, ver o que se passa nas nossas escolas. Por favor, não se deixem enganar por aqueles que julgam que, por decreto, boa vontade, caridade cristã, se passam alunos que nunca perceberam o que significa estudar.
O Presidente da República espanta-se com a ignorância dos jovens em termos políticos e cívicos; aos professores já nada os espanta. Nem mesmo quando um jovem, com cinco anos completos de estudo de Inglês, não sabe dizer but! (...)»