“Unus non sufficit orbis” (“um só mundo não basta”) é o título da exposição de fotografia e pintura que, até fim de Fevereiro, pode ser vista no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. A fotografia é de José A. Carvalho (professor em Setúbal); a pintura é de Andreas Stöcklein (alemão residente em Setúbal, com trabalhos no âmbito da pintura e do azulejo).
O tema de ambas as formas de expressão é o Convento de S. Francisco, em Setúbal, nelas perpassando uma quase poética das ruínas e, simultaneamente, um grito contra a incúria e contra a afronta à memória cultural, pois das obras expostas não anda distante o que é o actual estado desta peça do património construído em Setúbal ou o que tem sido o seu trajecto de cerca de seis séculos (a serem cumpridos dentro de dois anos, provavelmente sobre um monte de ruínas ou sobre uma degradação ainda maior).
“O Convento que andou de mão em mão” – assim chamou Almeida Carvalho (1827-1897) ao Convento de S. Francisco (in Acontecimentos, Lendas e Tradições da Região Setubalense – vol. IV / 1ª Parte. Setúbal: Junta Distrital de Setúbal, 1970). A descrição que Almeida Carvalho fez do convento quando corria o séc. XIX é próxima da que, hoje, mais de cem anos volvidos, se pode registar: “A oeste de Setúbal existem ainda os restos do incompleto e arruinado edifício, que fora do extinto Convento de S. Francisco, da Província dos Algarves. As ruínas deste edifício mostram-nos a solidez da construção das paredes, abóbadas e eirados, e que ao seu magnífico fabrico deve o ter podido resistir por tantos anos, se bem que abandonado, à intempérie e à destruição dos tempos. Porém quase de todo desabou sob o camartelo do vandalismo e às mãos devastadoras dos homens!” Hoje, acrescentaríamos às duas formas destrutivas o… desinteresse dos homens.
Fundado em 1410 por D. Maria Anes Escolar, este Convento - que foi o primeiro de Setúbal - pertenceu a franciscanos e a jesuítas, foi propriedade particular, pertenceu ao Estado, albergou soldados, serviu de residência a famílias vindas de África aquando da descolonização, esteve a cargo da Casa Pia e… jaz ao abandono, apesar de, em Setúbal, a LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) ter trazido em 2006 para debate público a situação do Convento, uma vez que a Direcção-Geral do Património tinha em mãos uma proposta para a demolição da construção.
Desafiando os modismos do tempo, inabalável na sua vetustez e sobriedade, o Convento de S. Francisco ali se mantém. Com cores de ruína. Com rugas de história. Com marcas de memória. Sendo objecto do olhar sobre os homens e o sítio, sendo agora motivo de arte. Como escreve Andreas Stöcklein no Jornal da Exposição, “o gesto humano ficou decalcado onde tudo o resto desaba em ruína”. Ou “ainda a vela enegrece a parede e funde os mundos numa mancha difusa”.
O tema de ambas as formas de expressão é o Convento de S. Francisco, em Setúbal, nelas perpassando uma quase poética das ruínas e, simultaneamente, um grito contra a incúria e contra a afronta à memória cultural, pois das obras expostas não anda distante o que é o actual estado desta peça do património construído em Setúbal ou o que tem sido o seu trajecto de cerca de seis séculos (a serem cumpridos dentro de dois anos, provavelmente sobre um monte de ruínas ou sobre uma degradação ainda maior).
“O Convento que andou de mão em mão” – assim chamou Almeida Carvalho (1827-1897) ao Convento de S. Francisco (in Acontecimentos, Lendas e Tradições da Região Setubalense – vol. IV / 1ª Parte. Setúbal: Junta Distrital de Setúbal, 1970). A descrição que Almeida Carvalho fez do convento quando corria o séc. XIX é próxima da que, hoje, mais de cem anos volvidos, se pode registar: “A oeste de Setúbal existem ainda os restos do incompleto e arruinado edifício, que fora do extinto Convento de S. Francisco, da Província dos Algarves. As ruínas deste edifício mostram-nos a solidez da construção das paredes, abóbadas e eirados, e que ao seu magnífico fabrico deve o ter podido resistir por tantos anos, se bem que abandonado, à intempérie e à destruição dos tempos. Porém quase de todo desabou sob o camartelo do vandalismo e às mãos devastadoras dos homens!” Hoje, acrescentaríamos às duas formas destrutivas o… desinteresse dos homens.
Fundado em 1410 por D. Maria Anes Escolar, este Convento - que foi o primeiro de Setúbal - pertenceu a franciscanos e a jesuítas, foi propriedade particular, pertenceu ao Estado, albergou soldados, serviu de residência a famílias vindas de África aquando da descolonização, esteve a cargo da Casa Pia e… jaz ao abandono, apesar de, em Setúbal, a LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) ter trazido em 2006 para debate público a situação do Convento, uma vez que a Direcção-Geral do Património tinha em mãos uma proposta para a demolição da construção.
Desafiando os modismos do tempo, inabalável na sua vetustez e sobriedade, o Convento de S. Francisco ali se mantém. Com cores de ruína. Com rugas de história. Com marcas de memória. Sendo objecto do olhar sobre os homens e o sítio, sendo agora motivo de arte. Como escreve Andreas Stöcklein no Jornal da Exposição, “o gesto humano ficou decalcado onde tudo o resto desaba em ruína”. Ou “ainda a vela enegrece a parede e funde os mundos numa mancha difusa”.
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