O Público de hoje noticia que Armando Ramalho, militante socialista, decidiu avançar para a candidatura à liderança do partido nas directas que se realizarão em Fevereiro, apesar de saber estar perante uma missão quase “impossível”. E que motivos cita o jornal para esta aspiração? 1) «‘Porque o PS não existe’»; 2) porque há «um partido e um país ‘tolhido pelo medo’»; 3) porque ‘este país parece um hospício e José Sócrates é o porteiro do hospício»; 4) porque há «falta de debate no PS, um partido em que ‘os velhos socialistas quando falam fazem-no para os peixes’».
No fundo, as críticas que este militante faz são a formalização do que já há muito se vem sentindo. Nota-se que a política não se tem movido por ideais (não dando à palavra “ideal” o sentido de “interesse próprio”) nem por referências fundamentais da cultura, que os discursos de poder que se produzem têm o seu quê de acinte e muitas vezes de irónico e não apelam a uma paz social ou ao esforço conjunto (gostaria de ver em que político dos que nos governam poderia assentar um discurso humanista como o de Obama, por exemplo, sem se ficar com uma caricatura, ou mesmo o tom selecto e também humano que McCain usou no discurso em que deixou de ser candidato a presidente e passou a ser apenas um americano), que tem valido muito mais a propaganda do que a efectividade das coisas.
No fundo, as críticas que este militante faz são a formalização do que já há muito se vem sentindo. Nota-se que a política não se tem movido por ideais (não dando à palavra “ideal” o sentido de “interesse próprio”) nem por referências fundamentais da cultura, que os discursos de poder que se produzem têm o seu quê de acinte e muitas vezes de irónico e não apelam a uma paz social ou ao esforço conjunto (gostaria de ver em que político dos que nos governam poderia assentar um discurso humanista como o de Obama, por exemplo, sem se ficar com uma caricatura, ou mesmo o tom selecto e também humano que McCain usou no discurso em que deixou de ser candidato a presidente e passou a ser apenas um americano), que tem valido muito mais a propaganda do que a efectividade das coisas.
Tudo isto poderia ser anedótico se não fosse trágico, mesmo pela mensagem que vai passando para a educação e para a sociedade. E não venham com explicações da genética dos povos, da latinidade ou de outras desculpas (como o longo tempo em que em Portugal se teve que calar a liberdade) sempre úteis para justificar o (mau) feitio que temos que suportar. Daqui até às notas de rodapé em que se transformarão muitos dos nossos homens de poder (se lá chegarem) irá um passo. Só que todos temos que suportar e assistir a esse passo.
Aditamento às 20H02:
Acabei de ler agora na Visão online, transcrevendo texto da agência LUSA, declarações de D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, que confirmam o estado de espírito de que neste postal se fala. Transcrevo:
«De acordo com o Bispo de Setúbal, vive-se em "dois mundos em Portugal": o "irreal do "foguetório" e o "real das pessoas que andam cá em baixo, com os pés no chão". D. Manuel Martins considera que as "políticas não têm sido acertadas, porque não tem havido um critério humanista". "O Homem é que é o grande critério, o grande fundamento, destinatário e objectivo" da política, referiu. O Bispo desculpa, no entanto, os políticos que "não mandam nada", considerando que são conduzidos pelo poder económico, actualmente envolvido numa economia "super, hiper neo-liberal", que também não tem o "Homem" como objectivo. Face a esta realidade, D. Manuel Martins diz que o medo, que já não é só "físico", se instalou na sociedade portuguesa. "O medo instalou-se na sociedade portuguesa. Este medo foi ainda aumentado, engordou, por causa de toda esta bancarrota da banca. Além deste medo insatisfação que já vem de trás agora, vem este terramoto que só dá para assustar as pessoas", sublinhou.»
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