PAZ NAS ESCOLAS? QUE MOTIVOS? – «(…) Dificilmente a paz regressará às escolas. Por vários motivos. O primeiro é o corte radical, afectivo e político, entre os professores e a ministra. Já nada pode sarar a ferida aberta, uma ferida onde ontem, paradoxalmente, a ministra ainda pôs mais sal ao recusar-se a assumir qualquer erro, ao anunciar medidas que objectivamente contrariam o seu discurso recente (vai "simplificar a burocracia" quando jurou que esta não existia, que bastava "preencher duas folhas"), ao voltar a culpar as escolas por alguns dos problemas detectados. (…) O segundo é que muito vai depender da avaliação que, professor a professor, escola a escola, se fizer das reais consequências destas medidas. De se perceber se elas facilitam a vida e se permitem um processo de avaliação mais sério - e pelo menos num ponto permitem, pois ao retirar as notas dos alunos dos critérios para a avaliação dos professores, a ministra evita um dos efeitos mais perversos da sua lei, a inflação artificial das notas para conseguir uma boa avaliação. O terceiro é perceber se aquilo que começou por incomodar mais os professores - o Estatuto da Carreira Docente (ECD) - não vai tornar-se no centro das suas reivindicações, pois o tema começou a surgir com uma força crescente nas últimas semanas sobretudo porque, este ano, ao regressarem às aulas, os professores perceberam que o problema do ECD não residia apenas na forma iníqua como havia designado os "professores titulares", mas nas imposições que criou e que muitos entendem inúteis ou deslocadas. Mais: o despacho "clarificador" sobre o Estatuto dos Alunos, se acalmou os "meninos dos ovos", introduziu novos elementos de laxismo que preocupam os professores mais responsáveis. Finalmente, muitos docentes enfrentam o dilema de continuarem a protestar quando isso os distrai daquilo que gostam de fazer - ensinar - ou de aderir a uma greve quando o dinheiro que lhes será descontado nos ordenados lhes faz muita falta. (…)»
ERROS – «(…) O erro maior que cometeu Maria de Lurdes Rodrigues foi não estender a mão aos professores, mantendo o seu registo crispado de quem insiste em que mudou para não mudar, ou que não mudou para mudar, mas que lhe assistiu sempre toda a razão. Ora, numa altura em que os pais, com ou sem avaliação, querem paz nas escolas, e sentem que nelas algo se degradou do ano passado para este, já nem importa muito voltar a demonstrar como quase tudo continua errado no nosso sistema de ensino. Salve-se ao menos o ano lectivo, e para isso é necessário contar realmente com os professores.»
José Manuel Fernandes. “ O recuo tardio que pode não trazer paz de volta às escolas”. Público (hoje).
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