«(…) É necessário perceber por que motivos muitas escolas públicas têm perdido qualidade - e, provavelmente, ainda vão perder mais qualidade. A primeira de todas as respostas está na falta de real autonomia dessas escolas, uma autonomia que as liberte da burocracia imposta de cima para baixo pelo Ministério da Educação e, em contrapartida, as ligue mais às comunidades locais, às autarquias, aos que devem integrar a comunidade educativa. Não é isso que tem sucedido: a regra é o ministério multiplicar normas e acrescentar trabalhos burocráticos, estabelecendo critérios cegos às realidades locais. Um exemplo acabado disso é o kafkiano processo de avaliação dos professores que está mal não por existir - todos os trabalhadores devem ser avaliados - mas por ter sido construído de forma absurda. (…) A actual titular da pasta vê números, não vê pessoas nem vê escolas. E, ao seguir cega e surda, mas pouco muda, ignora uma outra realidade detectada pelos jornalistas do PÚBLICO: a deserção de muitos dos melhores professores, pelo menos dos que podem ir para a reforma com um prejuízo mínimo. O que traz instabilidade às escolas, o que degrada a sua qualidade, mas o que também poupa dinheiro. E, por vezes, até agrava as desigualdades já existentes, pois alguns dos bons que desertam são depois acolhidos no ensino privado. (…)»
José Manuel Fernandes, Público, “Ensino público, escolas privadas e justiça social”, 3.Nov.2008
1 comentário:
E por aqui se vê que o objectivo "desta" avaliação imposta pelo ME não é a qualidade mas a economia!
E o CNE também não apresenta melhores intenções, a julgar por este último parecer sobre as retenções...
Que tal fazer uma avaliação externa a sério sobre as causas do insucesso? Algumas surpresas (para alguns, claro!)viriam a lume. Tenho a certeza!
MCT
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