Diário da auto-estima – 90
Sinistrados I – Em vários pontos do distrito de Lisboa, estão em exibição na praça pública automóveis sinistrados. Dizem os passantes que isto os impressiona, porque a visão de um carro destruído significa um encontro com a morte ou, pelo menos, a possibilidade de a morte ter andado próxima; significa também a necessidade de atenção, de cuidado e de responsabilidade que todos devem sentir e partilhar; significa, finalmente, que alguns já partiram, levados por um acidente que os colheu. Na verdade, tudo isto impressiona, sobretudo porque a fragilidade da vida também mexe connosco. Não podemos deixar de pensar no choque sentido quando nos confrontamos com um acidente. E, sobretudo, quando vemos corpos espalhados pelo alcatrão, em consequência de um embate. A frieza que se apodera de nós nesses momentos deixa-nos a oscilar nas nossas certezas e na nossa força. Mas esta ideia dos carros sinistrados em exposição pública vale por isso mesmo. Cada vez mais povoada, a estrada exige que o nosso cuidado, a nossa reflexão, a nossa participação e o nosso gosto pela vida estejam sempre em primeiro lugar.
Sinistrados II – Mas a ideia das viaturas sinistradas em exposição sugere também imagens de ciclos. Há muito tempo, as exposições eram apenas de viaturas novas, cativando pela novidade, associada ao conforto, ao luxo e à autonomia. Depois, vieram as exposições dos clássicos, com a intenção de fazer lembrar outros tempos, os mais antigos, e de levar as pessoas a visitarem a história dos transportes ou a reviverem o tempo de alguns modelos que se tornaram ícones. Seguiu-se a exposição de usados ou em segunda mão, surgida em espaços fechados ou, como agora se vê, em qualquer canto, com letreirinhos a anunciar a procura de novo dono. E, para fechar o ciclo, aparecem as exposições de viaturas sinistradas. Pode ser pós-moderno este gesto. Talvez simbolicamente se esteja perante o fim desta vida dependente do carro ou, pelo menos, a notar que ele também incomoda muito e que, muitas vezes, não é sinal de qualidade de vida mas da sua falta.
Escola I – No momento em que escrevo, a vida das escolas continua agitada e a ser motivo de discussão pública. É lamentável que as coisas tenham chegado a este ponto, com posições extremadas e com argumentos em defesa de verdades que parecem unilaterais, mas que o não são. Uma profissão não pode estar vocacionada para o martírio ou para o heroísmo, da mesma forma que não pode passar pela humilhação pública de ser penalizada por decisões políticas que têm feito a história da educação no país. Muitas das opiniões veiculadas revelam que não é de educação que querem falar, mas de contestação pura e simples; que ignoram o que tem sido pedido à escola no tempo das duas últimas décadas; que há desconhecimento de várias questões responsáveis por um estado não muito positivo da educação, passando para os professores, em exclusivo, a responsabilidade do que anda menos bem e ignorando o papel fundamental que questões como o desenho curricular, os programas das disciplinas ou os manuais escolares desempenham na qualidade da escola. Têm-se discutido ódios de estimação, sem se favorecer a escola, por vezes com argumentos falaciosos (o de que os professores não querem ser avaliados é um deles).
Sinistrados II – Mas a ideia das viaturas sinistradas em exposição sugere também imagens de ciclos. Há muito tempo, as exposições eram apenas de viaturas novas, cativando pela novidade, associada ao conforto, ao luxo e à autonomia. Depois, vieram as exposições dos clássicos, com a intenção de fazer lembrar outros tempos, os mais antigos, e de levar as pessoas a visitarem a história dos transportes ou a reviverem o tempo de alguns modelos que se tornaram ícones. Seguiu-se a exposição de usados ou em segunda mão, surgida em espaços fechados ou, como agora se vê, em qualquer canto, com letreirinhos a anunciar a procura de novo dono. E, para fechar o ciclo, aparecem as exposições de viaturas sinistradas. Pode ser pós-moderno este gesto. Talvez simbolicamente se esteja perante o fim desta vida dependente do carro ou, pelo menos, a notar que ele também incomoda muito e que, muitas vezes, não é sinal de qualidade de vida mas da sua falta.
Escola I – No momento em que escrevo, a vida das escolas continua agitada e a ser motivo de discussão pública. É lamentável que as coisas tenham chegado a este ponto, com posições extremadas e com argumentos em defesa de verdades que parecem unilaterais, mas que o não são. Uma profissão não pode estar vocacionada para o martírio ou para o heroísmo, da mesma forma que não pode passar pela humilhação pública de ser penalizada por decisões políticas que têm feito a história da educação no país. Muitas das opiniões veiculadas revelam que não é de educação que querem falar, mas de contestação pura e simples; que ignoram o que tem sido pedido à escola no tempo das duas últimas décadas; que há desconhecimento de várias questões responsáveis por um estado não muito positivo da educação, passando para os professores, em exclusivo, a responsabilidade do que anda menos bem e ignorando o papel fundamental que questões como o desenho curricular, os programas das disciplinas ou os manuais escolares desempenham na qualidade da escola. Têm-se discutido ódios de estimação, sem se favorecer a escola, por vezes com argumentos falaciosos (o de que os professores não querem ser avaliados é um deles).
Escola II – Quando se fala dos resultados dos alunos no final de ciclo, e com isso se pretende dar a imagem de que uma escola é melhor do que a sua vizinha por os seus alunos terem obtido mais altas médias, já se pensou que muito desse esforço se deve à escola e aos alunos mas também às aprendizagens fora da escola, nomeadamente ao regime de explicações que existe e que as famílias pagam, na mira de um atendimento mais personalizado e de um caminhar ao encontro das dúvidas de cada um? Provavelmente, este pormenor tem sido esquecido… Mas também tem contribuído para os rankings, assim como contribuirá para a avaliação dos professores se os critérios se mantiverem…
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