"Perspectiva da Vila de Setúbal vista da Casa do Trapixe, no sítio de Tróia, desenhada em 1816" (Teotónio Banha)
Giovanni Licciardello tem escrito em O Setubalense uma série de artigos sob o tema “Pensar Setúbal”. Na edição de 31 de Dezembro, sob o título “Conquistar o mar”, apresentou um problema: na promoção que está a ser feita da Tróia do futuro, nada há que refira Setúbal. O problema relaciona-se com o paradoxo de, por um lado, Tróia ter sido sentida sempre como “uma extensão, um prolongamento de Setúbal”, enquanto, por outro, parece que os responsáveis imobiliários da Tróia querem “cortar o cordão umbilical” que une a península a Setúbal.
O artigo não assenta em lamúrias, o retrato é duro (mas baseia-se na experiência) e constitui numa chamada de atenção muito crítica para quem está do lado de cá do Sado, resultante de um posicionamento que leve a perceber o porquê de tal atitude. E transcrevo:
“O turismo de luxo é compatível com centenas de pessoas a invadirem o areal, deixando lixo espalhado por todo o lado, vociferando, deixando fezes de cão espalhadas pelo chão, gritando, exibindo má educação generalizada? Não. O turismo de luxo é compatível com carros constantemente a passar para lá e para cá nos ferrys, lixo largado das viaturas (fraldas usadas, garrafas de água, pacotes de sumos, de leite, latas de refrigerantes, restos de comida, etc.), com buzinadelas, impropérios à mistura e más educações? Não. Quais são portanto, olhando da outra margem para a nossa, com olhos Sonae, os benefícios que Setúbal, tal como está, pode trazer à Sonae? Muito poucos. O que podem pretender de nós? Pouco. O que e que eu faria, se fosse Sonae? Desviava o local de atracagem dos ferrys para o mais longe possível da zona mais sensível, que é, nem mais nem menos, o que estão a fazer. Pode criticar-se? Pode. Pode não se gostar? Pode. Eu como Setubalense, não me agrada nada a ideia de ter de cortar o cordão umbilical com uma zona que me é querida, que faz parte da minha vida, do meu roteiro pessoal, mas se fosse Sonae, faria exactamente o mesmo que estão a fazer.”
Solução? Recurso a um provérbio: “em vez de amaldiçoares a escuridão, acende uma vela”, conclui Giovanni Licciardello. Para bom entendedor…
O artigo não assenta em lamúrias, o retrato é duro (mas baseia-se na experiência) e constitui numa chamada de atenção muito crítica para quem está do lado de cá do Sado, resultante de um posicionamento que leve a perceber o porquê de tal atitude. E transcrevo:
“O turismo de luxo é compatível com centenas de pessoas a invadirem o areal, deixando lixo espalhado por todo o lado, vociferando, deixando fezes de cão espalhadas pelo chão, gritando, exibindo má educação generalizada? Não. O turismo de luxo é compatível com carros constantemente a passar para lá e para cá nos ferrys, lixo largado das viaturas (fraldas usadas, garrafas de água, pacotes de sumos, de leite, latas de refrigerantes, restos de comida, etc.), com buzinadelas, impropérios à mistura e más educações? Não. Quais são portanto, olhando da outra margem para a nossa, com olhos Sonae, os benefícios que Setúbal, tal como está, pode trazer à Sonae? Muito poucos. O que podem pretender de nós? Pouco. O que e que eu faria, se fosse Sonae? Desviava o local de atracagem dos ferrys para o mais longe possível da zona mais sensível, que é, nem mais nem menos, o que estão a fazer. Pode criticar-se? Pode. Pode não se gostar? Pode. Eu como Setubalense, não me agrada nada a ideia de ter de cortar o cordão umbilical com uma zona que me é querida, que faz parte da minha vida, do meu roteiro pessoal, mas se fosse Sonae, faria exactamente o mesmo que estão a fazer.”
Solução? Recurso a um provérbio: “em vez de amaldiçoares a escuridão, acende uma vela”, conclui Giovanni Licciardello. Para bom entendedor…
[O original da gravura reproduzida pertence ao acervo do Museu de Setúbal e tem uma reprodução na obra O Museu de Setúbal, de Fernando António Batista Pereira (Lisboa: Soctip, 1990)]
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