quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Setúbal visto desde Tróia

"Perspectiva da Vila de Setúbal vista da Casa do Trapixe, no sítio de Tróia, desenhada em 1816" (Teotónio Banha)

Giovanni Licciardello tem escrito em O Setubalense uma série de artigos sob o tema “Pensar Setúbal”. Na edição de 31 de Dezembro, sob o título “Conquistar o mar”, apresentou um problema: na promoção que está a ser feita da Tróia do futuro, nada há que refira Setúbal. O problema relaciona-se com o paradoxo de, por um lado, Tróia ter sido sentida sempre como “uma extensão, um prolongamento de Setúbal”, enquanto, por outro, parece que os responsáveis imobiliários da Tróia querem “cortar o cordão umbilical” que une a península a Setúbal.
O artigo não assenta em lamúrias, o retrato é duro (mas baseia-se na experiência) e constitui numa chamada de atenção muito crítica para quem está do lado de cá do Sado, resultante de um posicionamento que leve a perceber o porquê de tal atitude. E transcrevo:
O turismo de luxo é compatível com centenas de pessoas a invadirem o areal, deixando lixo espalhado por todo o lado, vociferando, deixando fezes de cão espalhadas pelo chão, gritando, exibindo má educação generalizada? Não. O turismo de luxo é compatível com carros constantemente a passar para lá e para cá nos ferrys, lixo largado das viaturas (fraldas usadas, garrafas de água, pacotes de sumos, de leite, latas de refrigerantes, restos de comida, etc.), com buzinadelas, impropérios à mistura e más educações? Não. Quais são portanto, olhando da outra margem para a nossa, com olhos Sonae, os benefícios que Setúbal, tal como está, pode trazer à Sonae? Muito poucos. O que podem pretender de nós? Pouco. O que e que eu faria, se fosse Sonae? Desviava o local de atracagem dos ferrys para o mais longe possível da zona mais sensível, que é, nem mais nem menos, o que estão a fazer. Pode criticar-se? Pode. Pode não se gostar? Pode. Eu como Setubalense, não me agrada nada a ideia de ter de cortar o cordão umbilical com uma zona que me é querida, que faz parte da minha vida, do meu roteiro pessoal, mas se fosse Sonae, faria exactamente o mesmo que estão a fazer.
Solução? Recurso a um provérbio: “em vez de amaldiçoares a escuridão, acende uma vela”, conclui Giovanni Licciardello. Para bom entendedor…
[O original da gravura reproduzida pertence ao acervo do Museu de Setúbal e tem uma reprodução na obra O Museu de Setúbal, de Fernando António Batista Pereira (Lisboa: Soctip, 1990)]

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