Diário da Auto-Estima – 75
Diário – A data de 11 de Janeiro de 1949 é aquela que inaugura o Diário de Sebastião da Gama, um documento literário e também um testemunho pedagógico e profissional. No próximo ano, passarão 60 anos sobre a escrita deste diário, iniciado em ano de estágio, em Lisboa, na Escola Veiga Beirão, com uma turma de diversidades e de histórias, em que a relação pedagógica foi uma das faces mais importantes do que foi ser aluno, por um lado, e ser professor, por outro. Em tempos em que os professores sentem a inexistência do reconhecimento do seu trabalho, em tempos em que a acção docente é sucessivamente desvalorizada e posta em causa (ainda que para isso não haja razões de facto), vale a pena ler o Diário que Sebastião da Gama nos legou, pelo menos para se acreditar que a utopia existe, pelo menos para se encontrar a razão da opção de muitos professores de hoje na sua profissão, pelo menos para garantirmos a nós próprios que ser professor é um acto de reflexão, de gosto, de partilha, de humanidade, de respeito, de profissionalismo e de saber. O que está para lá disto pode ter muitos nomes, mas corta às pessoas a possibilidade de serem, de construírem, de irem pelo sonho do poeta…
Gralhas – Há dias, o jornal Público noticiou que uma análise aos livros destinados ao público infanto-juvenil, editados em Portugal, detectara problemas variados, como “gralhas, uso irregular dos artigos definidos, pontuação insuficiente ou abuso dos pronomes possessivos”. No fundo, questões de falta de cuidado, questões que se prendem com o ritmo de edição e de solicitação do mercado, questões que não estarão alheias àquilo que a qualidade não é. Todos sabemos qual a força da palavra escrita, assim como conhecemos a dificuldade em convencer a criança de que o que está escrito no livro está errado. Mas acontece. Infelizmente! Não basta haver um Plano de Leitura, por diversificado, entusiasmante, partilhado e trabalhado que seja; é necessário que haja também um cuidado no tratamento da língua portuguesa nas edições. Tão indispensável como respirar, queiramos ou não. Julgo que não teremos que chegar ao policiamento linguístico, mas não podemos, enquanto consumidores, leitores e educadores, pactuar com os erros (de língua) com que somos bombardeados em muitos livros que vemos. Em nome da cultura, da identidade e da preservação da língua.
Andersen – O contista dinamarquês, que nasceu no ano em que Bocage morreu, andou por Setúbal em 1866, quando já tinha 61 anos e os meios de transporte não eram fáceis nem detinham a rapidez dos nossos tempos, numa romagem de conhecimento do mundo e de saudade pelos irmãos O’Neill, que conhecera nos finais da década de 20 do século XIX. Aqui esteve um mês, deixando relato escrito do visto, do ouvido e do sentido. Aqui iniciou um dos seus contos, “O Sapo”, com um final triste (como era seu hábito e estilo), mas com passagens que são máximas de aprendizagem dos homens. Há dias, a professora da minha filha pediu-me para ir falar sobre Andersen aos alunos do 4º ano. E foi bom ver como eles bebiam, em jeito de “era uma vez”, a história do contista e do viajante, como eles apreciaram o que era lembrar Andersen. Em Setúbal, há o seu nome na toponímia e um pequeno abeto na Avenida Luísa Todi a homenagear o dinamarquês, coisas materiais que ajudam à memória. “E, na quinta em que ele esteve, há alguma lápide a dizer?”, perguntava uma das alunas, depois de ver que, em muitos lados, está assinalada a passagem de Andersen. Uma pessoa pára de repente porque mesmo as crianças percebem esta necessidade de haver inscrição para que a memória se mantenha viva.
Gralhas – Há dias, o jornal Público noticiou que uma análise aos livros destinados ao público infanto-juvenil, editados em Portugal, detectara problemas variados, como “gralhas, uso irregular dos artigos definidos, pontuação insuficiente ou abuso dos pronomes possessivos”. No fundo, questões de falta de cuidado, questões que se prendem com o ritmo de edição e de solicitação do mercado, questões que não estarão alheias àquilo que a qualidade não é. Todos sabemos qual a força da palavra escrita, assim como conhecemos a dificuldade em convencer a criança de que o que está escrito no livro está errado. Mas acontece. Infelizmente! Não basta haver um Plano de Leitura, por diversificado, entusiasmante, partilhado e trabalhado que seja; é necessário que haja também um cuidado no tratamento da língua portuguesa nas edições. Tão indispensável como respirar, queiramos ou não. Julgo que não teremos que chegar ao policiamento linguístico, mas não podemos, enquanto consumidores, leitores e educadores, pactuar com os erros (de língua) com que somos bombardeados em muitos livros que vemos. Em nome da cultura, da identidade e da preservação da língua.
Andersen – O contista dinamarquês, que nasceu no ano em que Bocage morreu, andou por Setúbal em 1866, quando já tinha 61 anos e os meios de transporte não eram fáceis nem detinham a rapidez dos nossos tempos, numa romagem de conhecimento do mundo e de saudade pelos irmãos O’Neill, que conhecera nos finais da década de 20 do século XIX. Aqui esteve um mês, deixando relato escrito do visto, do ouvido e do sentido. Aqui iniciou um dos seus contos, “O Sapo”, com um final triste (como era seu hábito e estilo), mas com passagens que são máximas de aprendizagem dos homens. Há dias, a professora da minha filha pediu-me para ir falar sobre Andersen aos alunos do 4º ano. E foi bom ver como eles bebiam, em jeito de “era uma vez”, a história do contista e do viajante, como eles apreciaram o que era lembrar Andersen. Em Setúbal, há o seu nome na toponímia e um pequeno abeto na Avenida Luísa Todi a homenagear o dinamarquês, coisas materiais que ajudam à memória. “E, na quinta em que ele esteve, há alguma lápide a dizer?”, perguntava uma das alunas, depois de ver que, em muitos lados, está assinalada a passagem de Andersen. Uma pessoa pára de repente porque mesmo as crianças percebem esta necessidade de haver inscrição para que a memória se mantenha viva.
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