quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

António Manuel Couto Viana, 85 anos, hoje

No dia de hoje de 1923, nascia em Viana do Castelo António Manuel Couto Viana, filho de Manuel Couto Viana, figura importante para a vida cultural e social da urbe do Lima.
A marca do envolvimento cultural prolongar-se-ia na família através do próprio António Manuel Couto Viana e de suas irmãs, Maria Manuela Couto Viana (1919-1983) e Maria Adelaide Couto Viana (1921-1990), que constituíram um trio ligado à literatura, cultivado em vários géneros – a poesia, a narrativa, o memorialismo, o teatro.
De António Manuel Couto Viana ficar-nos-ão, sobretudo, o seu percurso lírico, bem como os seus escritos ensaístico-memorialísticos. Mas gostaria de destacar a primeira vertente, afirmada logo desde os primeiros escritos e ainda hoje, quando passam os 85 anos, cultivada.
Com efeito, foi logo no livro inicial, O avestruz lírico, de 1948, que ficou registado o seu estatuto de poeta, evidente nas duas estrofes de “O poeta e o mundo”, que recusam o circunstancialismo na poesia e afirmam o valor do eu nessa mesma poesia:

Podem pedir-me, em vão,
Poemas sociais,
Amor de irmão pra irmão
E outras coisas mais:

Falo de mim – só falo
Daquilo que conheço.
O resto… calo
E esqueço.


Depois, foi o prosseguir na senda da poesia, em regime de fidelidade a este propósito, com uma produção continuada e intensa, chegando a haver várias compilações da obra, fosse como reunião de “obra completa”, fosse como antologia, de que se referem títulos como Uma vez uma voz (Lisboa: Editorial Verbo, 1985), O velho de novo (Porto: Edições Caixotim, 2004) e 60 Anos de poesia (Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2004, em 2 vols.). Paralelamente, um género como o memorialismo viu já vários títulos publicados por Couto Viana, com destaque para os ensaios dedicados a personalidades várias da cultura portuguesa (sendo impossível enumerá-las todas, gostaria de destacar os nomes de Sebastião da Gama e de David Mourão-Ferreira, com quem trabalhou e teve intensa relação de amizade), resultantes da experiência e do testemunho do leitor e do conhecedor da história de que tem sido contemporâneo, sendo justo assinalar obras como Coração arquivista (1977), As (e)vocações literárias (1980), Gentes e cousas d’Antre Minho e Lima (1988), Colegial de letras e lembranças (1994), Escavações de superfície (1995), Ler, escrever e contar (1999) e Poetas Minhotos, Poetas do Minho (2002-2005, em 3 vols.). Finalmente, o teatro, área em que Couto Viana foi não apenas actor ou conhecedor dos meandros da arte de representar, mas também autor, sobretudo no âmbito da dramaturgia que privilegiou o público juvenil e de que se pode ver a recolha em Teatro infantil e juvenil (Lisboa: Nova Arrancada, 1997), a partir da primeira peça, Era uma vez… um dragão.
As antologias, o conto, a crónica são ainda outras áreas que têm merecido a atenção deste autor. A sua obra revela uma atitude vincadamente lírica, denota forte presença do humor e da ironia e deixa-se conduzir, muitas vezes, por uma fina tonalidade aristocrática. Em Couto Viana, a sensibilidade, a escrita e a cultura caminham juntas.
Quando passam 60 anos sobre o seu título inaugural, quando giram 85 anos de um trajecto de vida dedicado ao saber e à arte, justo é que se felicite esta voz e este percurso!
[foto de Setembro de 2005]

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