… por entre poesia, oração, música, cinema, natureza, pintura e vida – é a proposta do poeta, teólogo e padre José Tolentino de Mendonça, numa entrevista, conduzida por Luís Filipe Santos, a propósito do tempo quaresmal vivido pelos católicos. A entrevista, editada no sítio da agência Ecclesia, cruza a teologia, a Bíblia, Bach, Herberto Hélder, S. João da Cruz, Sebastião da Gama, Frei Agostinho da Cruz, Eugénio de Andrade, Sophia Mello Breyner, Camilo Pessanha, Daniel Faria, Miguel Torga, Piero della Francesca, Fontana, Frei Angélico e Jesus, percorrendo os caminhos do silêncio, da criação, da vida e do homem. Ficam alguns excertos do discurso de Tolentino de Mendonça, verdadeiras pistas para a valorização do humano…
1. “[O silêncio] é necessário para fugirmos ao nosso próprio ruído. O grande ruído não está na cidade, mas aquele que nós transportamos... É ressonância confusa que as coisas deixam dentro de nós. A Páscoa é um tempo de discernimento. É um tempo para treinar os sentidos. Com a Páscoa sentimos o perfume da vida. Escutamos a Palavra, como se fosse a primeira vez... Saboreamos o sentido profundo. (…) Ele sente-se porque não é apenas ausência do ruído. Ele não se define pela negativa, mas pela positiva. O silêncio é o lugar da comunicação. (…) Basta observarmos os monásticos. O silêncio não é a privação da palavra, mas um caminho alternativo de intensa comunicação e escuta. O silêncio é um lugar... (…) O silêncio é muito exigente. Se o mundo - à nossa volta e dentro de nós - é tão ruidoso é porque isso é muito mais cómodo. É mais fácil aguentar a palavra e o rumor do tempo do que se confrontar com o silêncio. Este tem uma verdade nua e sem véus. O confronto com o silêncio obriga a uma conversão. Obriga-nos a uma transformação que dói. (…)”
2. “As profissões ligadas à natureza são as menos mecânicas. São aquelas que se ligam ainda a uma lentidão. O silêncio é uma coisa lenta. (…) A poesia é uma forma de escuta e de atenção. O silêncio é a metodologia de todos os poemas que se escrevem. A grande tentação dos poetas é o silêncio. A poesia exige uma vida tentada pelo silêncio. É uma forma de comunhão. A poesia não quer suprir o silêncio nem explicá-lo. (…) É a meta de todos os versos que se escreveram. (…) Na poesia tenta-se – como se fosse a travessia das águas – atravessar sem ferir o mar. Para que no sossego das águas possamos ver o fundo, mas nem sempre isso é possível. (…) A poesia nem sempre é azul. Às vezes é escura e cerrada. A poesia não é um saber nem uma áurea. Não é um esplendor. Muitas vezes é uma noite escura. No entanto, a contemplação do mundo pede-nos uma procura. (…)”
3. “O silêncio não tem cor. Nós é que precisamos dessas cores. O silêncio é a vida nua... É a verdade. No entanto, precisamos da linguagem simbólica para viajarmos até à verdade. (…) O poeta sabe que precisa de ouvir o silêncio. (…) A vida artificial e do ar condicionado é uma vida anti-espiritual. A vida do espírito é uma vida lenta e exige uma digestão. Ela exige o reencontro com os caminhos, com os baldios e com o mar aberto. (…)”
4. “Na tradição portuguesa, a Serra da Arrábida é um lugar muito especial. Nesta serra encontramos tópicos da geografia do silêncio. Cada um de nós tem a sua serra onde encontrará o silêncio matricial. (…) O silêncio não é uma ausência. É a presença plena, inteira e intacta do mundo. (…) O silêncio é o fio secreto que conduz todas as procuras de sentido. Podem ser artísticas, intelectuais, pastorais ou orantes. No fundo, a verdade é só uma. A verdade de um grande pintor é a mesma de um mestre da fé. É a verdade do grande mistério que nos coloca perante o silêncio de Deus.”
1. “[O silêncio] é necessário para fugirmos ao nosso próprio ruído. O grande ruído não está na cidade, mas aquele que nós transportamos... É ressonância confusa que as coisas deixam dentro de nós. A Páscoa é um tempo de discernimento. É um tempo para treinar os sentidos. Com a Páscoa sentimos o perfume da vida. Escutamos a Palavra, como se fosse a primeira vez... Saboreamos o sentido profundo. (…) Ele sente-se porque não é apenas ausência do ruído. Ele não se define pela negativa, mas pela positiva. O silêncio é o lugar da comunicação. (…) Basta observarmos os monásticos. O silêncio não é a privação da palavra, mas um caminho alternativo de intensa comunicação e escuta. O silêncio é um lugar... (…) O silêncio é muito exigente. Se o mundo - à nossa volta e dentro de nós - é tão ruidoso é porque isso é muito mais cómodo. É mais fácil aguentar a palavra e o rumor do tempo do que se confrontar com o silêncio. Este tem uma verdade nua e sem véus. O confronto com o silêncio obriga a uma conversão. Obriga-nos a uma transformação que dói. (…)”
2. “As profissões ligadas à natureza são as menos mecânicas. São aquelas que se ligam ainda a uma lentidão. O silêncio é uma coisa lenta. (…) A poesia é uma forma de escuta e de atenção. O silêncio é a metodologia de todos os poemas que se escrevem. A grande tentação dos poetas é o silêncio. A poesia exige uma vida tentada pelo silêncio. É uma forma de comunhão. A poesia não quer suprir o silêncio nem explicá-lo. (…) É a meta de todos os versos que se escreveram. (…) Na poesia tenta-se – como se fosse a travessia das águas – atravessar sem ferir o mar. Para que no sossego das águas possamos ver o fundo, mas nem sempre isso é possível. (…) A poesia nem sempre é azul. Às vezes é escura e cerrada. A poesia não é um saber nem uma áurea. Não é um esplendor. Muitas vezes é uma noite escura. No entanto, a contemplação do mundo pede-nos uma procura. (…)”
3. “O silêncio não tem cor. Nós é que precisamos dessas cores. O silêncio é a vida nua... É a verdade. No entanto, precisamos da linguagem simbólica para viajarmos até à verdade. (…) O poeta sabe que precisa de ouvir o silêncio. (…) A vida artificial e do ar condicionado é uma vida anti-espiritual. A vida do espírito é uma vida lenta e exige uma digestão. Ela exige o reencontro com os caminhos, com os baldios e com o mar aberto. (…)”
4. “Na tradição portuguesa, a Serra da Arrábida é um lugar muito especial. Nesta serra encontramos tópicos da geografia do silêncio. Cada um de nós tem a sua serra onde encontrará o silêncio matricial. (…) O silêncio não é uma ausência. É a presença plena, inteira e intacta do mundo. (…) O silêncio é o fio secreto que conduz todas as procuras de sentido. Podem ser artísticas, intelectuais, pastorais ou orantes. No fundo, a verdade é só uma. A verdade de um grande pintor é a mesma de um mestre da fé. É a verdade do grande mistério que nos coloca perante o silêncio de Deus.”
[foto: Tolentino de Mendonça, a partir do sítio Ecclesia]
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