sábado, 12 de janeiro de 2008

Quatro textos (de fim-de-semana) sobre a pachecal figura (e mais um de silêncio)

1) António Guerreiro. “Pacheco comediante e livre”. Expresso (suplemento “Actual”). 12.Janeiro.2008 – “(…) Luiz Pacheco foi uma figura da irrisão, alguém que ocupou no meio literário um lugar de comediante, que constrói uma personagem que está para além da verdade e da falsidade. O seu olhar implacável, liberto de constrangimentos da moral social e da ‘bienséance’, reduziu o meio literário, muitas vezes, a uma desavergonhada Babel, povoada por gente vaidosa e pouco respeitável. O retrato é quase sempre de escárnio e caricatural. E como ninguém se salva, como todos os que o rodearam se sentiram potencialmente ou efectivamente vítimas, Luiz Pacheco ganhou o estatuto de inimputável, o homem de todas as traições. (…) Representou, à sua maneira, uma ideia de autonomia do escritor e da obra literária, e uma ideia crítica da literatura, que caducaram ou só resistem – ameaçadas – de modo muito minoritário. Para a posteridade, talvez esse exemplo seja até mais importante do que a obra escrita. (…)

2) João Pedro George. “Prefácio” a Crocodilo que voa (livro de entrevistas com Luiz Pacheco a sair brevemente). Expresso (suplemento “Actual”, em pré-publicação). 12.Janeiro.2008 – “(…) Luiz Pacheco sempre foi um crítico arrojado e um tipo singularmente divertido, um trocista desbragado, com um desplante e uma sem-cerimónia invulgares. Um homem que não leva a sério as regras consuetudinárias nem os convencionalismos da moral. Em suma, alguém que não faz parte da normalidade social, aquilo que as sociedades consideram um indivíduo ‘extravagante’ ou ‘excêntrico’. (…)

3) José Manuel dos Santos. “Luiz Pacheco”. Expresso (suplemento “Actual”). 12.Janeiro.2008 – “(…) Luiz Pacheco escrevia com a vida, fazendo da transgressão insolente e da provocação calculada um estilo literário. No Portugal morno de Salazar e, afinal, no de todos os regimes, a figura de Pacheco é tão inaceitável que a reacção mais comum foi a de a recalcar no que tinha de essencial e ‘infeccioso’, reduzindo-a a um acidental jocoso ou satírico. (…) Aprendi [nas visitas que fiz a Pacheco] a conhecer o método de Pacheco. Lia e escrevia todo o dia. Tinha uma grande cultura, antiga e actualizada, de Platão a Roland Barthes. Falava com uma inteligência violenta. Do que em Portugal se publicava, seguia tudo. Ouvi-lo era perceber como se pode desautorizar. (…) A sua morte tira relevo ao mundo. E mostra-o na sua melancólica verdade de hoje: uma extensa, conformista e normalizadora linha de produção em série de seres humanos, sem diferença, sem heresia, sem loucura. Apenas competitivos, deprimidos e nulos.

4) Ricardo Nabais / Vladimiro Nunes. “Não estou aqui a fazer poses” (última entrevista de Luiz Pacheco, feita em finais de Novembro). Sol (suplemento “Tabu”). 12.Janeiro.2008 – Luiz Pacheco no seu estilo inconfundível, em 12 páginas, dizendo sobre o momento que estava a viver [num lar montijense, onde residia havia poucos dias], como resposta à pergunta “A quem acha graça hoje em dia?”: “Agora acho muito pouca graça. E aqui então não se pode. Já mandei uma gaja aí à merda. Porque isto é um ambiente deprimente. Sexualmente isto é um desgosto. Mas aqui há namoros! É claro que vocês estão cá meia hora e depois arejam. Mas para a pessoa que cá fica… O que vale é que estou isolado… Também é muito cedo para dizer que estou mal. Ainda estou a experimentar. Em oito dias, só hoje é que fui conhecer o andar de cima. Ainda me desnorteia, não sei onde é o elevador. De resto, parece-me muito bom. É melhor do que eu supunha. Mas é difícil achar graça a alguma coisa com esta idade. Tenho 82 anos, porra! Há aquela coisa que é a PDI, a Puta Da Idade, o caruncho… E o velho, geralmente, é egoísta. Ou é mais egoísta do que o novo. Mas estou a falar de coisas muito tristes… (…)

5) O Setubalense. 7.Janeiro.2008; 9.Janeiro.2008; 11.Janeiro.2008 – Silêncio. Um jornal para que Luiz Pacheco trabalhou e onde publicou alguns textos, no suplemento literário “Arca do Verbo”, coordenado pelo poeta João Carlos Raposo Nunes.

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