Há dias, conversávamos na Sala de Professores sobre a estratégia que muitos alunos seguem para os seus trabalhos de consulta à Wikipédia - impressão do(s) artigo(s), acção de corte e cola e entrega ao professor. Havia quem mostrasse alguma indignação quanto a este processo e à forma pouco criteriosa como os artigos que circulam na net, e na Wikipédia, são, frequentemente, feitos. Por essa mesma altura, tinha conversado com os meus alunos sobre isso, recomendando-lhes que consultassem a Wikipédia (deveriam procurar informação sobre Almeida Garrett) como primeiro passo de trabalho, mas aconselhando-os também a confrontarem os dados aí recolhidos com outras fontes, como uma “história da literatura”, uma outra enciclopédia, outros sítios da net ou um “dicionário de autores”. O problema não está na utilização da Wikipédia (ou de qualquer outra enciclopédia), antes reside no confronto da informação recolhida, numa leitura crítica, mesmo porque as enciclopédias mais clássicas cometem também erros – um exemplo: uma enciclopédia publicada em Portugal há poucos anos inseria dois verbetes sobre Carolina Michaelis de Vasconcelos, um no volume 13, entrado como “Michaelis de Vasconcelos”, outro no volume 20, entrado como “Vasconcelos”; no primeiro caso, o texto não ia além da meia dúzia de linhas e era dito que ela casou com Leite de Vasconcelos, o que é falso, enquanto no segundo, que ocupava mais de uma coluna, era dito, correctamente, que ela foi casada com Joaquim de Vasconcelos; a questão não foi corrigida e houve várias tiragens com o mesmo erro (apetece perguntar quem e quando se corrige um erro de enciclopédia?)
A questão do uso da Wikipédia está candente, porque vários estudos têm sido publicados sobre o fenómeno, haja em vista a recente edição do estudo La Révolution Wikipédia – Les encyclopedies vont-elles mourir?, de Béatrice Roman-Amat e de Delphine Soulas. O título é apelativo. Não li a obra, mas o número de Novembro da revista L’Histoire chama o assunto para capa (“Wikipédia est-elle fiable?”) e traz uma apresentação do livro.
E começam as autoras: “C’est ce qui s’appelle une ascension fulgurante. Moins de sept ans après sa création en 2001, plus personne ne peut ignorer l’encyclopédie en ligne Wikipédia (de wiki, «vite» en hawaïen). Presque 50 millions de visiteurs par mois aux États-Unis; 9 millions en France, soit près d’un internaute sur trois. Les raisons de ce succès? Le nombre impressionnant de notices mises à la disposition du public, et ce, gratuitement.” E os números continuam: a Wikipédia é publicada em 253 línguas e, fazendo jus à autoria em colaboração por parte dos cibernautas, em França, só o artigo sobre Napoleão foi redigido por 260 pessoas e o que aborda Pétain teve 400 participações. Decididamente, esta ideia da enciclopédia livre na colaboração e na distribuição, que pode ser melhorada a toda a hora, pegou.
No entanto, as autoras apontam duas desvantagens: por vezes, os artigos longos, a resvalarem para fora do contexto que interessa, neles entrando a informação importante, mas também a anedótica e o “fait-divers”; por outro lado, os erros, resultem eles das leituras tendenciosas ou das falhas de informação. A neutralidade e a melhoria constante parecem ser intenções e propósitos dos editores e, se não existe uma comissão de leitura, é, pelo menos, pedido aos colaboradores que mencionem as fontes, forma de atestar a fiabilidade dos artigos e das informações. Mesmo assim, houve necessidade de ser atribuído a alguns textos o estatuto de “artigo de qualidade” – de tal forma a expressão entrou na modernidade como sinal de garantia –, designação que resulta de um conjunto de características verificáveis no texto como “estilo correcto, artigo completo, argumentação, neutralidade e conteúdo que não se altera de forma significativa de um momento para o outro”.
É para a escola que vai o último aviso do texto: é que, em França, como cá, “l’encyclopédie en ligne est déjà omniprésente dans le monde de l’éducation. Tous les professeurs le savent: c’est aujourd’hui le premier réflexe des élèves en quête de documentation”. Mas as autoras alertam para o facto de competir aos professores não deixarem que a Wikipédia se torne na “fonte documental única e pretensamente neutra”, sobretudo recorrendo a exercícios em que sejam valorizados o rigor, o confronto documental e o espírito crítico.
Em jeito de aconselhamento, em caixa, surgem três “mandamentos” para lidar com a Wikipédia, sugeridos por Olivier Loubes, professor em Toulouse: “1) Wikipédia existe mais n’est pas un prophète: ses articles tu confronteras avec d’autres sources; 2) Wikipédia existe mais les voies du savoir sont infinies: comme un portail d’accès tu t’en serviras; 3) Wikipédia existe mais au début était le verbe: un article d’encyclopédie tu t’exerceras à écrire.”
A questão do uso da Wikipédia está candente, porque vários estudos têm sido publicados sobre o fenómeno, haja em vista a recente edição do estudo La Révolution Wikipédia – Les encyclopedies vont-elles mourir?, de Béatrice Roman-Amat e de Delphine Soulas. O título é apelativo. Não li a obra, mas o número de Novembro da revista L’Histoire chama o assunto para capa (“Wikipédia est-elle fiable?”) e traz uma apresentação do livro.
E começam as autoras: “C’est ce qui s’appelle une ascension fulgurante. Moins de sept ans après sa création en 2001, plus personne ne peut ignorer l’encyclopédie en ligne Wikipédia (de wiki, «vite» en hawaïen). Presque 50 millions de visiteurs par mois aux États-Unis; 9 millions en France, soit près d’un internaute sur trois. Les raisons de ce succès? Le nombre impressionnant de notices mises à la disposition du public, et ce, gratuitement.” E os números continuam: a Wikipédia é publicada em 253 línguas e, fazendo jus à autoria em colaboração por parte dos cibernautas, em França, só o artigo sobre Napoleão foi redigido por 260 pessoas e o que aborda Pétain teve 400 participações. Decididamente, esta ideia da enciclopédia livre na colaboração e na distribuição, que pode ser melhorada a toda a hora, pegou.
No entanto, as autoras apontam duas desvantagens: por vezes, os artigos longos, a resvalarem para fora do contexto que interessa, neles entrando a informação importante, mas também a anedótica e o “fait-divers”; por outro lado, os erros, resultem eles das leituras tendenciosas ou das falhas de informação. A neutralidade e a melhoria constante parecem ser intenções e propósitos dos editores e, se não existe uma comissão de leitura, é, pelo menos, pedido aos colaboradores que mencionem as fontes, forma de atestar a fiabilidade dos artigos e das informações. Mesmo assim, houve necessidade de ser atribuído a alguns textos o estatuto de “artigo de qualidade” – de tal forma a expressão entrou na modernidade como sinal de garantia –, designação que resulta de um conjunto de características verificáveis no texto como “estilo correcto, artigo completo, argumentação, neutralidade e conteúdo que não se altera de forma significativa de um momento para o outro”.
É para a escola que vai o último aviso do texto: é que, em França, como cá, “l’encyclopédie en ligne est déjà omniprésente dans le monde de l’éducation. Tous les professeurs le savent: c’est aujourd’hui le premier réflexe des élèves en quête de documentation”. Mas as autoras alertam para o facto de competir aos professores não deixarem que a Wikipédia se torne na “fonte documental única e pretensamente neutra”, sobretudo recorrendo a exercícios em que sejam valorizados o rigor, o confronto documental e o espírito crítico.
Em jeito de aconselhamento, em caixa, surgem três “mandamentos” para lidar com a Wikipédia, sugeridos por Olivier Loubes, professor em Toulouse: “1) Wikipédia existe mais n’est pas un prophète: ses articles tu confronteras avec d’autres sources; 2) Wikipédia existe mais les voies du savoir sont infinies: comme un portail d’accès tu t’en serviras; 3) Wikipédia existe mais au début était le verbe: un article d’encyclopédie tu t’exerceras à écrire.”
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