sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O Português, entre os Estados Unidos e Timor

O Diário de Notícias de hoje conta que “o ensino do português como segunda língua nos EUA foi tomado como exemplo por George W. Bush para a forma como o Congresso desbarata o dinheiro dos contribuintes”, informando que, estando Bush a discursar no estado de Indiana, disse: “Alguns dos projectos esbanjadores incluem um museu das prisões, uma escola de vela de ensino a bordo de um catamarã, e um programa de 'português como segunda língua'. O Congresso deve aos contribuintes esforços melhores. E por isso hoje, na Sala Oval, vetei esta proposta de lei”. Em causa estava a proposta de um congressista para a atribuição de uma verba ao Rhode Island College para um Programa de Estudos Lusófonos.
Ora, esta posição do senhor Bush não é para admirar, depois de tantos exemplos caricatos de que tem sido protagonista. A verdade é que existe mais de um milhão de portugueses nos Estados Unidos; a verdade é que Portugal tem dado jeito ao senhor Bush em diversos momentos; a verdade é que a língua portuguesa é uma das mais faladas no mundo, sustenta uma história cultural grande e parece ganhar mais influência; a verdade é que, geograficamente, o senhor Bush está muito próximo de países de línguas latinas, aí incluindo o português; a verdade é que o senhor Bush… tem um respeito que se circunscreve ao umbigo.
Mais destemidos somos nós, que investimos no ensino do inglês logo desde os primeiros anos de estudo. Obviamente, não por respeito para com o senhor Bush, mas por respeito para com nós próprios e por respeitarmos a necessidade de comunicação com o outro, vectores que ao senhor Bush dizem… nada.
Mais corajosos e inteligentes são os timorenses, porque, mesmo lá no canto onde estão, com o Pacífico a separá-los da América e meio mundo a distanciá-los de Portugal, respeitam a sua história e, como refere o Público de hoje, estão apostados no “enraizamento” da língua portuguesa, citando o presidente Ramos-Horta, ainda que isso possa demorar o tempo de duas gerações. A distância entre as duas atitudes tem razões históricas, eu sei; mas também tem respeito pelas identidades e pelo outro. Para Bush, é mais interessante o campo de batalha; para Ramos-Horta, mais importante é o “enraizamento” (belas conotações) do seu país!

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