No Público de hoje, há dois artigos de opinião que parece terem sido combinados quanto à temática, abordando o espaço de manobra que a todos cada vez menos resta quanto a decisões pessoais e este pendor regulamentador de tudo e de nada, como se o mundo (um outro mundo) estivesse a ser construído agora. Só que este outro mundo é lixiviado e oleado e não se compadece com as pessoas, antes se orienta por quem quer ser dono do mundo e para quem as pessoas são instrumentos da engrenagem. Decididamente, é a era do paradoxo da liberdade regulamentada ou do “despotismo iluminado” (como lhe chama Vasco Pulido Valente) ou de uma época em que… “eles estão doidos” (como diz António Barreto).
De “Eles estão doidos!”, de António Barreto, que inventaria situações de proibições comezinhas que nos vão entrando no curso da vida: “Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado. Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo (…). Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.”
De “Eles estão doidos!”, de António Barreto, que inventaria situações de proibições comezinhas que nos vão entrando no curso da vida: “Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado. Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo (…). Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.”
De “O despotismo iluminado”, de Vasco Pulido Valente, que se insurge quanto a esta mania de todos terem que pensar igual: “No Portugal de 2007, (…) foi decidido o que devemos pensar sobre: multiculturalismo, sexualidade e moral sexual. O que devemos tolerar e o que não tolerar no próximo ou no comportamento do próximo. O que são ou não são políticas permissíveis para Portugal e para o mundo. E foi decidido o que um cidadão meritório come e bebe e que vícios a vontade geral lhe consente (o tabaco, não; a droga, conforme). Vivemos sob um despotismo iluminado, que não aceita a irregularidade, a dissidência, o direito de cada um à sua própria vida e ao uso irrestrito da sua própria cabeça. Ao pé disto, a pequena política doméstica não vale nada.”
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