domingo, 11 de novembro de 2007

No dia de hoje, há 89 anos, a guerra acabou às 11 da manhã


Monumentos aos portugueses mortos na 1ª Grande Guerra - Coimbra e Lagos
"Paris, 11 de Novembro - Esta manhã, às onze e meia, tiros longínquos de canhão, gritos nas ruas, janelas que se abrem. O dia está coberto, mas não chove e não faz frio. Pelos Campos Elíseos, de que vejo uma nesga, passam à desfilada pesados camiões, carregados de soldados americanos que agitam grandes bandeiras. Das janelas da ambulância do Astória, as enfermeiras dão palmas, acenam com os lenços. É o armistício que foi assinado, é o fim da guerra, é a paz? Minha mulher chega de fora, diz que as janelas – espectáculo nunca visto em Paris – estão cheias de gente, sobretudo mulheres, que se interrogam, palram, olham para o céu, olham para a rua, dão palmas, dão gritos de alegria. (…) Depois do almoço saí a ver Paris neste grande dia. Os Campos Elíseos começavam a tornar-se multicores, como se uma súbita primavera os cobrisse subitamente de flores. As bandeiras e pavilhões surgiam das janelas, surgiam do solo. Já grandes magotes de populares desciam festivamente ao centro da cidade. (…) Enquanto desço aos Campos Elíseos vou verificando se a nossa bandeira aparece. Sim! Lá estão algumas, mas essas mesmas fomos nós, com o nosso esforço incompreendido e recompensado com a ingratidão, que lá as arvorámos. (…) Na Praça da Concórdia, dcetive-me um momento à beira de um passeio a fixar na minha memória a visão do espectáculo maravilhoso de um povo que subitamente cai de um terrível pesadelo e encara com os clarões da mais deslumbrante realidade. Sobre um oceano de cabeças, os canhões tomados aos alemães levantavam para o céu as suas goelas negras. Na boca de uma peça de 110, um rapazito alcandorado a grande altura agitava uma bandeira. Todos os veículos de Paris pareciam ter sido tomados de assalto. Automóveis, fiacres, camiões, carroças levavam gente nos tejadilhos e pendurada nos estribos. (…) À porta do Ministério da Marinha, um homem velho não oculta a sua comoção, deixa correr duas grossas lágrimas pela face enrugada. (…) Pela rua do Faubourg Saint Honoré passa uma Vanda de canadianos que pára em frente da embaixada inglesa. Junta-se aí um povoléu enorme que aclama os hinos aliados. Uma enfermeira é levantada ao colo e por um instante vejo-a de pé, sobre a multidão, envolta numa bandeira, a fronte coroada de flores, cantando. Uma mulher ao meu lado, limpando as lágrimas, exclama: Oh! Que c’est beau! Oh! Que c’est beau! (…)
Quem assim escreveu há 89 anos foi João Chagas (cf. Diário - IV. Lisboa: Edições Rolim, 1987), um "guerrista" convicto, assistindo em Paris ao que foi o Dia do Armistício, que pôs fim à Primeira Grande Guerra. O documento do Armistício foi assinado às 5 da manhã numa carruagem de comboio na floresta de Compiègne. A guerra tinha que acabar no prazo de 6 horas, isto é, às 11 horas do dia 11 do 11º mês de 1918. A Grande Guerra vivia matando e destruindo desde o Verão de 1914, tendo sido a primeira que, pelas suas proporções, adquiriu o estatuto de "mundial". Formas de destruição fortes nesta guerra foram as trincheiras, os gases e... os tanques, constituindo estes uma novidade. Pelo(s) caminho(s) do combate, ficaram cerca de 8 milhões de mortos, 22 milhões de feridos e 2 milhões de desaparecidos. No que respeita a Portugal, que entrou na guerra em duas frentes - em África (Angola e Moçambique) e na Europa (Flandres) -, houve 7200 mortos, 13750 feridos e 12300 desaparecidos.
Nas fotos inferiores: Recriação museológica de cenários da1ª Grande Guerra - Museu do Brinquedo (Sintra) e Museu de Cera (Fátima)

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