Nossa Senhora da Anunciada, em Setúbal, é paróquia desde 1553, instituída pelo mesmo diploma que criou a paróquia de S. Sebastião. O nome da freguesia anda associado a lenda desde o século XIII, mas revela o fervor que ali despontou, ao longo de uma história que nem sempre foi pacífica. O espaço que constituiu a primitiva igreja da Anunciada e o hospital que lhe foi anexo são hoje serviços diocesanos, com estrutura remodelada recentemente, pretexto que levou ao aparecimento do livro Nossa Senhora da Anunciada – Devoção e História no Povo de Setúbal, de Carlos Fernando Russo (Prior Velho: Paulinas, 2008).
Ao longo de meia centena de páginas, Carlos Russo traça a história dos dois edifícios: a igreja, desde o que seria a ermida fora de muralhas em honra da Senhora da Anunciada, passando pela criação da Confraria respectiva, pela protecção régia, pelos desastres provocados pelos terramotos de 1531 e de 1755, pela criação da paróquia, pela igreja que foi dos jesuítas, pelas vicissitudes das misturas de momentos políticos conturbados (implantação da República), pelas utilizações do espaço que foi da igreja para fins absolutamente diferentes dos religiosos; por outro lado, o hospital, desde a sua função de aplicação dos princípios da caridade e das obras de misericórdia até à passagem para a Santa Casa da Misericórdia, com referências à enfermaria dos frades (onde morreu Frei Agostinho da Cruz). O autor confessa a dificuldade na obtenção de documentos que contem a história, mas insere alguns que se revelam importantes para demonstrar a importância deste espaço e deste serviço para Setúbal ao longo dos tempos, seja através de crónicas e testemunhos, seja por meio de diplomas régios.
O livro é ainda constituído por mais três textos, que surgem como “apêndices” – José Luís Neto, arqueólogo, escreve sobre “A intervenção arqueológica no Hospital da Confraria de Nossa Senhora da Anunciada – Dados Preliminares”, tarefa exigida pelo facto de este espaço se situar no centro histórico de Setúbal e ter carecido de movimentações de terras, em que historia a arqueologia urbana em Setúbal e dá conta das sondagens que ali efectuou em 2006; Nathalie Antunes-Ferreira assina “Os indivíduos exumados na Igreja de Nossa Senhora da Anunciada”, a partir da quase centena de inumações, concluindo sobre doenças várias que afectaram os indivíduos (85 adultos, 10 não-adultos, sendo os de sexo feminino mais do dobro relativamente ao masculino); Angelino Gomes, arquitecto, subscreve “Memórias do Projecto de Remodelação da Cúria de Setúbal, Novos Tempos”, apresentando uma memória descritiva das obras de adaptação levadas a cabo, que constituíram tarefa “de difícil génese devido à ocupação de numerosos espaços com paredes anteriores ao terramoto de 1755, o que dificultou a leitura do espaço na sua integralidade”.
Torna-se útil esta obra pelos recuos que faz na memória e na história e por congregar um interessante conjunto de informação pluridisciplinar sobre um espaço importante para a consolidação da cidade de Setúbal.
Carlos Fernando Russo (n. 1961), setubalense, é pároco de Alcochete e é ainda autor de A Ordem de Santiago e o Papado no tempo de D. Jorge: De Inocêncio VIII a Paulo III (Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2007), que constituiu a sua tese de mestrado.
Ao longo de meia centena de páginas, Carlos Russo traça a história dos dois edifícios: a igreja, desde o que seria a ermida fora de muralhas em honra da Senhora da Anunciada, passando pela criação da Confraria respectiva, pela protecção régia, pelos desastres provocados pelos terramotos de 1531 e de 1755, pela criação da paróquia, pela igreja que foi dos jesuítas, pelas vicissitudes das misturas de momentos políticos conturbados (implantação da República), pelas utilizações do espaço que foi da igreja para fins absolutamente diferentes dos religiosos; por outro lado, o hospital, desde a sua função de aplicação dos princípios da caridade e das obras de misericórdia até à passagem para a Santa Casa da Misericórdia, com referências à enfermaria dos frades (onde morreu Frei Agostinho da Cruz). O autor confessa a dificuldade na obtenção de documentos que contem a história, mas insere alguns que se revelam importantes para demonstrar a importância deste espaço e deste serviço para Setúbal ao longo dos tempos, seja através de crónicas e testemunhos, seja por meio de diplomas régios.
O livro é ainda constituído por mais três textos, que surgem como “apêndices” – José Luís Neto, arqueólogo, escreve sobre “A intervenção arqueológica no Hospital da Confraria de Nossa Senhora da Anunciada – Dados Preliminares”, tarefa exigida pelo facto de este espaço se situar no centro histórico de Setúbal e ter carecido de movimentações de terras, em que historia a arqueologia urbana em Setúbal e dá conta das sondagens que ali efectuou em 2006; Nathalie Antunes-Ferreira assina “Os indivíduos exumados na Igreja de Nossa Senhora da Anunciada”, a partir da quase centena de inumações, concluindo sobre doenças várias que afectaram os indivíduos (85 adultos, 10 não-adultos, sendo os de sexo feminino mais do dobro relativamente ao masculino); Angelino Gomes, arquitecto, subscreve “Memórias do Projecto de Remodelação da Cúria de Setúbal, Novos Tempos”, apresentando uma memória descritiva das obras de adaptação levadas a cabo, que constituíram tarefa “de difícil génese devido à ocupação de numerosos espaços com paredes anteriores ao terramoto de 1755, o que dificultou a leitura do espaço na sua integralidade”.
Torna-se útil esta obra pelos recuos que faz na memória e na história e por congregar um interessante conjunto de informação pluridisciplinar sobre um espaço importante para a consolidação da cidade de Setúbal.
Carlos Fernando Russo (n. 1961), setubalense, é pároco de Alcochete e é ainda autor de A Ordem de Santiago e o Papado no tempo de D. Jorge: De Inocêncio VIII a Paulo III (Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2007), que constituiu a sua tese de mestrado.
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