Em Março de 2007, António Manuel Couto Viana proferiu uma conferência na Delegação Económica e Comercial de Macau, em Lisboa, cujo texto foi agora publicado, sob o título O Poeta no Oriente do Oriente (Col. “Mosaico”, Instituto Internacional de Macau, 2008).
Este texto assume um cariz autobiográfico, ainda que a partir de uma história que é contada na 3ª pessoa, protagonizada por uma personagem apenas designada como “Poeta”, mas a que, num poema a pretexto da gruta de Camões, acrescenta o nome próprio como identificação: “António sou (tenho o teu nome) / E escravo, também, da poesia. / Para ela é que estendo, em cada dia, / A mão à minha fome.” Mas o cunho autobiográfico aparece logo no título, ao associar a personagem a uma das obras do próprio poeta.
São quatro os títulos de poesia que António Manuel Couto Viana dedicou ao Oriente: No Oriente do Oriente (1987), Não há outro mais leal e Até ao longínquo China navegou (ambos de 1991) e Orientais (1999), conjunto que, neste texto, serve como referência para explicar o fascínio desde cedo sentido por essa região e para apresentar o seu roteiro iniciático pelo Oriente a partir da sua poesia e de outros poetas portugueses nela evocados, em cuja linhagem Couto Viana se integra.
Convidado para trabalhar no âmbito do teatro em Macau em 1985, Couto Viana deixou-se arrastar pelo apelo do Oriente que já se exercia desde a infância – “O fascínio do Oriente distante e sortílego exercera-se logo sobre o seu espírito, recém-saído do colo materno e do hesitante tem-tem, surpreendendo, pelas salas da casa familiar, um ou outro móvel de exótico fabrico (…); um ou outro prato de faiança delicada e ornado de rosas e aves de comprido pescoço; o azul cantonês dos pagodes (…); a caixa de charão lustroso (…); a lata de chá com figuras estranhas de rabicho e cabaia (…)”. Houve ainda as histórias contadas pelo pai, vindas através de um amigo que conviveu com Camilo Pessanha, e a própria actividade do avô, em cujo comércio havia peças japonesas, “graças às diligências de Wenceslau de Morais”. Houve ainda a descoberta de Macau através da mão (e dos ensinamentos) de Monsenhor Manuel Teixeira e o prazer de redescobrir o Oriente com marcas de portugueses, sobretudo escritores, aqui se mencionando Pessanha, Camões, Bocage, Osório de Castro, António Patrício. E há também uma poesia que se nutre do ambiente das ruas povoadas, das paisagens, do clima, do folclore, da história, das mulheres, dos tufões, do encanto de Á-Má. O poeta vive intensamente o seu tempo macaense: “”Mergulho-me na vida, na voz deste bazar / Com lojas, tendas, vendedores de rua: / É um rio de rumor e cor, tentacular, / que flui, reflui e, de repente, estua.”
Em 1988, Couto Viana regressava a Portugal, vindo de Macau, onde assumiu um papel “de enamorado e pedagogo”. Foi um regresso sentido e difícil. Mas, passados quase vinte anos, é ainda forte o enamoramento por esse Oriente que viveu. Nesta palestra, tudo fica muito próximo do “breve roteiro lírico de Macau”, texto em prosa com que abriu o seu livro No Oriente do Oriente: “Chegas por mar. (…) E, neste primeiro instante, quase lamentas não ter aportado aqui, muitos séculos atrás, ao asilo da praia acolhedora, penetrado de lenda, trajando uns trapos sujos de cabaia do pescador que, por suprema felicidade, transportara no seu junco a divindade de A-Má (…).”
Este texto assume um cariz autobiográfico, ainda que a partir de uma história que é contada na 3ª pessoa, protagonizada por uma personagem apenas designada como “Poeta”, mas a que, num poema a pretexto da gruta de Camões, acrescenta o nome próprio como identificação: “António sou (tenho o teu nome) / E escravo, também, da poesia. / Para ela é que estendo, em cada dia, / A mão à minha fome.” Mas o cunho autobiográfico aparece logo no título, ao associar a personagem a uma das obras do próprio poeta.
São quatro os títulos de poesia que António Manuel Couto Viana dedicou ao Oriente: No Oriente do Oriente (1987), Não há outro mais leal e Até ao longínquo China navegou (ambos de 1991) e Orientais (1999), conjunto que, neste texto, serve como referência para explicar o fascínio desde cedo sentido por essa região e para apresentar o seu roteiro iniciático pelo Oriente a partir da sua poesia e de outros poetas portugueses nela evocados, em cuja linhagem Couto Viana se integra.
Convidado para trabalhar no âmbito do teatro em Macau em 1985, Couto Viana deixou-se arrastar pelo apelo do Oriente que já se exercia desde a infância – “O fascínio do Oriente distante e sortílego exercera-se logo sobre o seu espírito, recém-saído do colo materno e do hesitante tem-tem, surpreendendo, pelas salas da casa familiar, um ou outro móvel de exótico fabrico (…); um ou outro prato de faiança delicada e ornado de rosas e aves de comprido pescoço; o azul cantonês dos pagodes (…); a caixa de charão lustroso (…); a lata de chá com figuras estranhas de rabicho e cabaia (…)”. Houve ainda as histórias contadas pelo pai, vindas através de um amigo que conviveu com Camilo Pessanha, e a própria actividade do avô, em cujo comércio havia peças japonesas, “graças às diligências de Wenceslau de Morais”. Houve ainda a descoberta de Macau através da mão (e dos ensinamentos) de Monsenhor Manuel Teixeira e o prazer de redescobrir o Oriente com marcas de portugueses, sobretudo escritores, aqui se mencionando Pessanha, Camões, Bocage, Osório de Castro, António Patrício. E há também uma poesia que se nutre do ambiente das ruas povoadas, das paisagens, do clima, do folclore, da história, das mulheres, dos tufões, do encanto de Á-Má. O poeta vive intensamente o seu tempo macaense: “”Mergulho-me na vida, na voz deste bazar / Com lojas, tendas, vendedores de rua: / É um rio de rumor e cor, tentacular, / que flui, reflui e, de repente, estua.”
Em 1988, Couto Viana regressava a Portugal, vindo de Macau, onde assumiu um papel “de enamorado e pedagogo”. Foi um regresso sentido e difícil. Mas, passados quase vinte anos, é ainda forte o enamoramento por esse Oriente que viveu. Nesta palestra, tudo fica muito próximo do “breve roteiro lírico de Macau”, texto em prosa com que abriu o seu livro No Oriente do Oriente: “Chegas por mar. (…) E, neste primeiro instante, quase lamentas não ter aportado aqui, muitos séculos atrás, ao asilo da praia acolhedora, penetrado de lenda, trajando uns trapos sujos de cabaia do pescador que, por suprema felicidade, transportara no seu junco a divindade de A-Má (…).”
O Poeta no Oriente do Oriente é, assim, a palavra que revisita as terras e o tempo do fascínio, numa peregrinação em que a memória escrita e poética é uma forte aliada.
1 comentário:
Realmente o meu tio é um poeta de sempre e de todos.
Obrigado pela lembrança que dele sempre irá ficar.
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