João Ubaldo Ribeiro (n. 1941) foi o vencedor do Prémio Camões. O que aprecio na sua escrita é o tom de ironia e de coerência, de frontalidade e de conhecimento do homem. E dizer que o seu livro A casa dos Budas ditosos teve venda interdita em Portugal em supermercados por causa da linguagem, corria o final do século XX! É justamente dessa obra, a cujo lançamento assisti no Estoril e em que Ubaldo Ribeiro me ensinou o significado da palavra “xará” ao escrever uma dedicatória, que transcrevo um excerto sobre deuses e religião:
“Os católicos são politeístas, botaram os santos no lugar dos deuses especializados. Os gregos e os romanos tinham um deus menor para cada coisa, regras atrasadas, artistas falidos, transações impossíveis, dívidas falimentares, casamentos, músicos bêbedos, agricultores, criadores de cabra, tudo, tudo, tudo. Os católicos substituíram os deuses pelos santos. Os músicos? Santa Cecília. Os ruins da vista? Santa Luzia. As solteironas? Santo António. E por aí, como você sabe. Até lugares. São José de Não Sei Onde? Diana de Éfeso, a mesmíssima coisa. Os deuses não foram derrotados ou eliminados, continuam imortais como sempre foram e somente mudaram de nome, se adaptaram às mudanças.” (A casa dos Budas ditosos. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999).
O Prémio Camões, criado ao abrigo do Acordo Cultural Luso-Brasileiro em 1988 por iniciativa de Mário Soares e José Sarney, teve como primeiro vencedor Miguel Torga (1989) e foi já atribuído a outros escritores brasileiros – João Cabral de Melo Neto (1990), Rachel Queirós (1993), Jorge Amado (1994), António Cândido (1998), Autran Dourado (2000), Rubem Fonseca (2003) e Lygia Fagundes Telles (2005).
“Os católicos são politeístas, botaram os santos no lugar dos deuses especializados. Os gregos e os romanos tinham um deus menor para cada coisa, regras atrasadas, artistas falidos, transações impossíveis, dívidas falimentares, casamentos, músicos bêbedos, agricultores, criadores de cabra, tudo, tudo, tudo. Os católicos substituíram os deuses pelos santos. Os músicos? Santa Cecília. Os ruins da vista? Santa Luzia. As solteironas? Santo António. E por aí, como você sabe. Até lugares. São José de Não Sei Onde? Diana de Éfeso, a mesmíssima coisa. Os deuses não foram derrotados ou eliminados, continuam imortais como sempre foram e somente mudaram de nome, se adaptaram às mudanças.” (A casa dos Budas ditosos. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999).
O Prémio Camões, criado ao abrigo do Acordo Cultural Luso-Brasileiro em 1988 por iniciativa de Mário Soares e José Sarney, teve como primeiro vencedor Miguel Torga (1989) e foi já atribuído a outros escritores brasileiros – João Cabral de Melo Neto (1990), Rachel Queirós (1993), Jorge Amado (1994), António Cândido (1998), Autran Dourado (2000), Rubem Fonseca (2003) e Lygia Fagundes Telles (2005).
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