quinta-feira, 26 de março de 2009

Porque o dia 2 de Abril está a chegar... e porque há um abeto que é um monumento

NA AVENIDA LUÍSA TODI
UM MONUMENTO À IGNORÂNCIA?
Está a chegar mais um 2 de Abril. Se a muitas outras pessoas não admito o direito de o ignorar, muito menos a mim. Dia de Andersen. Dia Internacional do Livro Infantil. A Árvore de Andersen em Setúbal. O seu actualíssimo simbolismo. Não posso ficar indiferente. É o mínimo. O resto é fazer o melhor que ainda puder pela memória setubalense de Andersen e pela divulgação dos melhores livros para as nossas crianças.
Antes de começar a escrever estas linhas fui mais uma vez até à Avenida Luísa Todi, em amena tarde de domingo. Em obras ainda o coreto, um monumento. Património. Ao lado, o abeto que homenageia Hans Christian Andersen, igualmente ou ainda mais, um monumento. Património. Entre o abeto e a rua, um pequeno edifício, com muito bom design. Um novo monumento? E porque não? Só porque a finalidade não é ser utilizado por bandas de música, razão de haver coreto, por pouco utilizado que seja actualmente? É que acho muito bem o design do pequeno edifício. Parabéns ao projectista. O que não consigo compreender é como foi possível fazer do abeto dedicado a Andersen como que um anexo do que parece que será um quiosque-bar. Alguém pode acreditar que um projectista que revela tão bom gosto, implantaria ali e assim o pequeno edifício se tivesse olhado para aquele abeto com olhos de ver e se inteirasse do seu simbolismo? Por mim, não consigo acreditar.
Quando me vieram dizer que estava ali implantado aquele pequeno edifício, não quis acreditar. Devia ser algo de provisório relacionado com o andamento das obras. Tive que ir ver. Senti revolta. Maior, porém, foi o sentimento de vergonha. A revolta pode dar grito. Quem sente vergonha, por regra esconde-se ou pelo menos fica calado. Fiquei. Até que fui interpelado e como se fosse sobretudo a mim que competia gritar o “não pode ser”. O meu maior receio era que o abeto chegasse a desaparecer, ele que já passou por vários acidentes. Deixaram marcas que não sei se e como podem ser reparadas. Felizmente lá está à espera do nosso respeito.
Julgo que sou a pessoa menos indicada para abrir a boca. Até parece que… Um pouco de bom senso dá para compreender. O abeto foi oferecido pelas Autoridades Dinamarquesas a Setúbal e sua Câmara Municipal, não a mim, por mais que tudo tenha partido duma iniciativa minha e não seja preciso esconder que não foi fácil levá-la por diante para que tudo acabasse por acontecer em 28 de Outubro de 1998, com o respeito, brilho e significado que se recorda. Se estou quebrando o silêncio é para evitar confusões. A vergonha é do que vejo, não do que penso.
Insisto em que só vejo a ignorância como desculpa para o que a mim me parece (bem sei que também a outras pessoas) uma manifesta falta de respeito pela memória setubalense de Andersen. Não posso considerar como desprezo ou acinte (é perguntar: a quem?) a implantação daquele pequeno edifício no local em que está. A ignorância terá de ser a justificação, como o é para muito do que tem acontecido. Tanto poder que a ignorância tem e tem tido! No dia em que se comemoraram no Salão Nobre os 150 anos do nascimento de João Vaz ouvi o Professor Doutor Fernando António Baptista Pereira comparar o que aconteceu em Setúbal com o Teatro D. Amélia com o que acontece em Évora com o teatro da mesma época. Ainda hoje lá está, é património da cidade e continua a ser utilizado. Podia ter-se construído o Cine-Teatro Luiza Todi noutro espaço, comentou com a sua autoridade Baptista Pereira.
Se a ignorância tem tanto poder, por que não dedicar-lhe um monumento? Ao poder da ignorância! Faz ou não sentido perguntar se se justifica que o pequeno edifício da Avenida Luísa Todi, implantado ali à sombra de A Árvore de Andersen em Setúbal, seja considerado um bonito monumento à ignorância? Posso perguntar publicamente, sem me admitir entrar em guerras inúteis e sem querer ofender ninguém?
Manuel Medeiros
[Fotos: abeto em memória de Andersen e respectiva lápide evocativa, na Avenida Luísa Todi, em Setúbal]

2 comentários:

Anónimo disse...

Até lá fui ver ... para poder crer como São Tomé!
Eu chamar-lhe-ia outra coisa que não um monumento à ignorância, mas enfim, pelo menos isso será!
Também é vergonha o que sinto.
MCT

Anónimo disse...

Pois é, amigo Medeiros, quando não se ama nem se sente a cidade, acontecem destas coisas aberrantes. Sugiro que leia o que o blog etcetal.blogs.sapo.pt escreveu sobre este assunto. Ainda bem que há em Setúbal pessoas como vocês que se preocupam com o que é nosso, e não se calam.
Manuela Pereira