A revista Ler (Lisboa: Fundação Círculo de Leitores), na sua saída mensal, é referência indispensável pela vida que dá aos livros, à leitura, à opinião e à cultura. O número de Março, o 78, já está nas bancas. E motivos de interesse não lhe faltam. Destaco a entrevista a António Barreto, figura de capa também, feita por Carlos Vaz Marques, num estilo em que a personagem (se) fala, (se) diz e (se) pensa. E, dela, sete excertos. Que são análise, leitura e conselhos.
Leitura online – “O modo de leitura, a pausa, o sossego, a ponderação, a moderação, a reflexão, a nota, a posição pessoal, geográfica, física com que você lê jornais e lê livros, tudo isso está em vias de extinção, a benefício dessas novas formas que são mais rápidas, que seguramente proporcionam menos reflexão. (…) O que você lia no comboio, o que lia num sítio fora de casa, sem o computador na mão, o que lia voltando para a frente e para trás, escrevendo notinhas, escrevendo no canto dos livros, escrevendo num caderninho que tem ao lado, não creio que seja possível fazê-lo com um palm (…) ou com um laptop, onde tudo está feito para ter uma informação rápida. Com um telemóvel, você, hoje, já consegue ter inúmera informação: tudo sintético, tudo compacto, tudo resumido. Os sentimentos são resumidos, são condensados. As palavras, as frases, o discurso, a narrativa – é tudo cada vez mais concentrado. Porque já se está a viver de uma maneira diferente, a correr.”
Ler – “Ler implica ter uma vida para a leitura; que na sua vida tem de haver espaço para a leitura. Quando você já não tem espaço para a leitura, não é o cheiro [do livro] que vai substituir o que quer que seja, não é o objecto físico que conta.”
Ler em Portugal – “Os portugueses aprenderam a ler muito tarde. (…) Eu não tenho nenhuma crença mística nas nações, mas elas existem. Os povos existem. Há uma memória colectiva. Quando, na nação portuguesa, metade ou dois terços das pessoas souberam ler, isso aconteceu com mais de um século de atraso, pelo menos, em relação a países como a Inglaterra, a Dinamarca, a Suécia.”
Escola e leitura, dantes – “A escola foi uma ajuda muito madrasta da leitura, em Portugal. (…) Se não fosse a minha família (…) e se não fosse um ou dois professores cujos nomes mais de 50 anos depois eu recordo, a escola não me tinha ajudado. A escola do meu tempo não incitava à leitura. Os que gostavam de ler era por outras razões, não era por causa da escola.”
Escola e leitura, hoje – “Passaram 50 anos e, por razões diferentes, a escola hoje destrói a leitura. Seja com a análise estruturalista e linguística dos textos, seja pela ideia de que a escola tem de ser mais a acção e tem de ser mais projecto e mais mil coisas que fazem a nova escola. A leitura na escola é a última das preocupações.”
Magalhães – “Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, na leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal. Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram cultura livresca. O que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. (…) O Magalhães (…) foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura.”
Leitura online – “O modo de leitura, a pausa, o sossego, a ponderação, a moderação, a reflexão, a nota, a posição pessoal, geográfica, física com que você lê jornais e lê livros, tudo isso está em vias de extinção, a benefício dessas novas formas que são mais rápidas, que seguramente proporcionam menos reflexão. (…) O que você lia no comboio, o que lia num sítio fora de casa, sem o computador na mão, o que lia voltando para a frente e para trás, escrevendo notinhas, escrevendo no canto dos livros, escrevendo num caderninho que tem ao lado, não creio que seja possível fazê-lo com um palm (…) ou com um laptop, onde tudo está feito para ter uma informação rápida. Com um telemóvel, você, hoje, já consegue ter inúmera informação: tudo sintético, tudo compacto, tudo resumido. Os sentimentos são resumidos, são condensados. As palavras, as frases, o discurso, a narrativa – é tudo cada vez mais concentrado. Porque já se está a viver de uma maneira diferente, a correr.”
Ler – “Ler implica ter uma vida para a leitura; que na sua vida tem de haver espaço para a leitura. Quando você já não tem espaço para a leitura, não é o cheiro [do livro] que vai substituir o que quer que seja, não é o objecto físico que conta.”
Ler em Portugal – “Os portugueses aprenderam a ler muito tarde. (…) Eu não tenho nenhuma crença mística nas nações, mas elas existem. Os povos existem. Há uma memória colectiva. Quando, na nação portuguesa, metade ou dois terços das pessoas souberam ler, isso aconteceu com mais de um século de atraso, pelo menos, em relação a países como a Inglaterra, a Dinamarca, a Suécia.”
Escola e leitura, dantes – “A escola foi uma ajuda muito madrasta da leitura, em Portugal. (…) Se não fosse a minha família (…) e se não fosse um ou dois professores cujos nomes mais de 50 anos depois eu recordo, a escola não me tinha ajudado. A escola do meu tempo não incitava à leitura. Os que gostavam de ler era por outras razões, não era por causa da escola.”
Escola e leitura, hoje – “Passaram 50 anos e, por razões diferentes, a escola hoje destrói a leitura. Seja com a análise estruturalista e linguística dos textos, seja pela ideia de que a escola tem de ser mais a acção e tem de ser mais projecto e mais mil coisas que fazem a nova escola. A leitura na escola é a última das preocupações.”
Magalhães – “Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, na leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal. Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram cultura livresca. O que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. (…) O Magalhães (…) foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura.”
Levar um jovem até à leitura – “No essencial, chamar-lhe a atenção para o sentido, para a narrativa, para a história. É como o amor – ou o sexo, para ser mais bruto e cru: você sabe que os sentimentos amorosos e sexuais têm, algures, uma componente bioquímica. São uns produtos que se chamam feromonas ou lá o que é e que desencadeiam umas operações no cérebro, no hipotálamo, no sistema nervoso, mas não é isso que faz o amor. (…) Você não diz a ninguém: as minhas feromonas e as tuas… Não é isso que conta. O que conta é o sentimento, o ver, o beijar. Isso é que conta. É isso que se deve ir buscar à literatura, não a química.”
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