O Largo do Carmo, que abre para a sadina Avenida Todi ali nas imediações da igreja do Carmo, alberga o busto de uma das mais importantes figuras da cultura setubalense, o pintor João Vaz, voltado para o Sado, o rio que constituiu pretexto para muitas das suas telas.
O pintor sadino, nascido em 1859, foi discípulo de Tomás da Anunciação e de Silva Porto e fundador do designado "Grupo do Leão", criado na cervejaria de Lisboa "Leão de Ouro", que durou até 1889 (constituído por nomes da cultura da época, o Grupo foi retratado por Columbano em 1885 numa tela em que se podem ver, entre outros, José Malhoa, João Vaz, Silva Porto, Rafael Bordalo Pinheiro e o próprio Columbano). Professor e director da Escola Afonso Domingues, expôs em Portugal e no estrangeiro e recebeu vários títulos, entre os quais o de Oficial da Ordem de Sant'Iago. Além de ter sido responsável pela decoração da representação portuguesa na Exposição Universal de Paris de 1900 e nas exposições internacional de St. Louis (1904) e nacional do Brasil (1908), João Vaz colaborou também na decoração de uma sala da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, da sala dos "Passos Perdidos" da Assembleia da República, do Hotel do Buçaco, dos Teatros Luísa Todi (então, D. Amélia, em Setúbal) e Garcia de Resende (Évora), entre outras obras.
Após o seu falecimento em 1931 (que O Setubalense, de 18 de Fevereiro desse ano, noticiou de forma discreta, ainda que traçando um curto percurso biográfico e considerando-o "insigne pintor, setubalense ilustre" e "um dos mais lídimos e distintos representantes de artistas notáveis"), logo no ano seguinte a Sociedade Nacional de Belas Artes e os familiares do pintor organizaram uma exposição em Janeiro, reunindo mais de uma centena de peças da obra de João Vaz. No catálogo, escreveu António Arroyo, considerando o pintor setubalense o "mais ilustre pintor de marinhas", com "paleta de perene e jovial mocidade" e uma obra "consoladoramente luminosa".
O tom poético da pintura de João Vaz foi assinalado em texto não assinado do catálogo de exposição efectuada em Setúbal em 1949, que regista o facto de a sua obra não ter marcas de "feitura amaneirada, rebusca vã de efeitos estranhos e de falsos contrastes", antes as evidências de uma "arte, sobretudo, emotiva e lírica".
Para além de motivos ligados a Setúbal (preponderantes na sua obra) e ao Tejo, João Vaz retratou também outras regiões do país (Algarve, Buarcos, Vila do Conde, Funchal) e do estrangeiro (Rio de Janeiro, Roma, Florença).
O espólio do Museu de Setúbal tem algumas obras de João Vaz, mas, um pouco por todo o país, podem ser encontradas obras suas noutros museus e em várias colecções particulares.
O pintor sadino, nascido em 1859, foi discípulo de Tomás da Anunciação e de Silva Porto e fundador do designado "Grupo do Leão", criado na cervejaria de Lisboa "Leão de Ouro", que durou até 1889 (constituído por nomes da cultura da época, o Grupo foi retratado por Columbano em 1885 numa tela em que se podem ver, entre outros, José Malhoa, João Vaz, Silva Porto, Rafael Bordalo Pinheiro e o próprio Columbano). Professor e director da Escola Afonso Domingues, expôs em Portugal e no estrangeiro e recebeu vários títulos, entre os quais o de Oficial da Ordem de Sant'Iago. Além de ter sido responsável pela decoração da representação portuguesa na Exposição Universal de Paris de 1900 e nas exposições internacional de St. Louis (1904) e nacional do Brasil (1908), João Vaz colaborou também na decoração de uma sala da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, da sala dos "Passos Perdidos" da Assembleia da República, do Hotel do Buçaco, dos Teatros Luísa Todi (então, D. Amélia, em Setúbal) e Garcia de Resende (Évora), entre outras obras.
Após o seu falecimento em 1931 (que O Setubalense, de 18 de Fevereiro desse ano, noticiou de forma discreta, ainda que traçando um curto percurso biográfico e considerando-o "insigne pintor, setubalense ilustre" e "um dos mais lídimos e distintos representantes de artistas notáveis"), logo no ano seguinte a Sociedade Nacional de Belas Artes e os familiares do pintor organizaram uma exposição em Janeiro, reunindo mais de uma centena de peças da obra de João Vaz. No catálogo, escreveu António Arroyo, considerando o pintor setubalense o "mais ilustre pintor de marinhas", com "paleta de perene e jovial mocidade" e uma obra "consoladoramente luminosa".
O tom poético da pintura de João Vaz foi assinalado em texto não assinado do catálogo de exposição efectuada em Setúbal em 1949, que regista o facto de a sua obra não ter marcas de "feitura amaneirada, rebusca vã de efeitos estranhos e de falsos contrastes", antes as evidências de uma "arte, sobretudo, emotiva e lírica".
Para além de motivos ligados a Setúbal (preponderantes na sua obra) e ao Tejo, João Vaz retratou também outras regiões do país (Algarve, Buarcos, Vila do Conde, Funchal) e do estrangeiro (Rio de Janeiro, Roma, Florença).
O espólio do Museu de Setúbal tem algumas obras de João Vaz, mas, um pouco por todo o país, podem ser encontradas obras suas noutros museus e em várias colecções particulares.
Busto de João Vaz tem 60 anos
Inaugurado em 18 de Setembro de 1949 por iniciativa da Câmara Municipal de Setúbal, o busto é reprodução de um outro que foi erigido em Lisboa, na Escola Afonso Domingues, em 1926, da autoria do escultor José Pereira.
Nesse Setembro de 1949, quando já passavam dezoito anos sobre o falecimento de João Vaz, Setúbal decidiu prestar a homenagem que nunca fizera ao pintor, promovendo ainda uma exposição retrospectiva no Salão Nobre dos Paços do Concelho, que reuniu 48 quadros.
Segundo o periódico local O Setubalense, de 19 desse mês, as celebrações em honra de João Vaz iniciaram-se com uma missa na igreja de S.Julião presidida pelo beneditino Fr. Vicente Morais Vaz, filho do pintor, que teve a assistência de familiares, das entidades oficiais e de figuras gradas do mundo da cultura como Diogo de Macedo (a representar a Academia das Belas Artes) e os pintores Celestino Alves e Álvaro Perdigão. Depois, pelas cinco da tarde, "no Largo do Carmo, cujas janelas ostentavam colgaduras, procedeu-se à inauguração do monumento perante numerosa assistência", tendo o busto sido descerrado por Maria José, uma neta do pintor. Os discursos da praxe enalteceram, segundo o mesmo jornal, "o significado espiritual do acto e realçaram apologeticamente a figura de João Vaz e o seu sentido artístico". No final da cerimónia, Rui Carlos de Morais Vaz, neto do homenageado, agradeceu em nome da família.
O repórter finaliza o relato com a informação de que, "durante a noite, o pequeno jardim do Largo do Carmo, onde se ostenta a memória e que se encontrava artisticamente iluminado, foi visitado por vários milhares de pessoas".
No dia anterior à inauguração do monumento, em 17 de Setembro, a edição de O Setubalense publicava em primeira página um artigo do pintor Álvaro Perdigão intitulado "Um Rio, Uma Cidade, Um Pintor", que preparava os caminhos para o reconhecimento que a população de Setúbal devia a João Vaz. Invocando elementos ligados à vida do rio e à agitação do mar, Perdigão apelava: "Pescadores do Sado! Homens de rija epiderme e mimoso coração, homens que tratam por tu o Mar e os perigos do Mar, homens que veneram muito especialmente a Senhora do Cais e a Senhora da Arrábida, não procureis, desta vez, na prestimosa Rosa dos Ventos, a causa de tão insólita, desusada agitação. O mesmo sopro invisível, estranho aos pontos cardeais, passou alguma vez pelo coração dum pintor setubalense, aquele que será recordado, duradouramente, por um monumento singelo mas devidamente justo no tranquilo recanto do Largo do Carmo".
Quanto à retrospectiva, Perdigão anunciava que "o Salão Nobre vai ser pequeno para conter a surpresa, a admiração, o orgulho de todos os setubalenses, seja qual for a sua posição social, a sua formação mental". Desta forma, João Vaz era catapultado para figura cimeira da vida setubalense, quer pelo papel que atingiu no domínio da pintura, quer pela intervenção que teve no universo da educação, designadamente no ensino técnico, assim se justificando perante a cidade a imponência do vulto que tinha dado nome à sua Escola Industrial e Comercial (a actual Escola Secundária Sebastião da Gama). Uns anos mais tarde, em 1957, Luciano Santos prestar-lhe-ia também a sua homenagem, integrando-o no tríptico dos notáveis de Setúbal, exposto no Salão Nobre da Câmara Municipal sadina.
A grande retrospectiva da obra de João Vaz havia de surgir bem mais tarde, em 2005, em Lisboa, na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, com edição de catálogo intitulado João Vaz (1859-1931) – Um pintor do Naturalismo. Setúbal vai homenagear o seu pintor neste ano de 2009 com uma conferência a ter lugar na noite de hoje, pelas 21h30, no Salão Nobre da Câmara, por Fernando António Baptista Pereira, e com uma palestra, amanhã, pelas 22h00, no café-galeria La Bohème, por António Galrinho. Segundo a edição de Março do Guia de Eventos (Setúbal: Câmara Municipal, nº 51), no final do ano, haverá “uma exposição de pintura do artista setubalense”.
Nesse Setembro de 1949, quando já passavam dezoito anos sobre o falecimento de João Vaz, Setúbal decidiu prestar a homenagem que nunca fizera ao pintor, promovendo ainda uma exposição retrospectiva no Salão Nobre dos Paços do Concelho, que reuniu 48 quadros.
Segundo o periódico local O Setubalense, de 19 desse mês, as celebrações em honra de João Vaz iniciaram-se com uma missa na igreja de S.Julião presidida pelo beneditino Fr. Vicente Morais Vaz, filho do pintor, que teve a assistência de familiares, das entidades oficiais e de figuras gradas do mundo da cultura como Diogo de Macedo (a representar a Academia das Belas Artes) e os pintores Celestino Alves e Álvaro Perdigão. Depois, pelas cinco da tarde, "no Largo do Carmo, cujas janelas ostentavam colgaduras, procedeu-se à inauguração do monumento perante numerosa assistência", tendo o busto sido descerrado por Maria José, uma neta do pintor. Os discursos da praxe enalteceram, segundo o mesmo jornal, "o significado espiritual do acto e realçaram apologeticamente a figura de João Vaz e o seu sentido artístico". No final da cerimónia, Rui Carlos de Morais Vaz, neto do homenageado, agradeceu em nome da família.
O repórter finaliza o relato com a informação de que, "durante a noite, o pequeno jardim do Largo do Carmo, onde se ostenta a memória e que se encontrava artisticamente iluminado, foi visitado por vários milhares de pessoas".
No dia anterior à inauguração do monumento, em 17 de Setembro, a edição de O Setubalense publicava em primeira página um artigo do pintor Álvaro Perdigão intitulado "Um Rio, Uma Cidade, Um Pintor", que preparava os caminhos para o reconhecimento que a população de Setúbal devia a João Vaz. Invocando elementos ligados à vida do rio e à agitação do mar, Perdigão apelava: "Pescadores do Sado! Homens de rija epiderme e mimoso coração, homens que tratam por tu o Mar e os perigos do Mar, homens que veneram muito especialmente a Senhora do Cais e a Senhora da Arrábida, não procureis, desta vez, na prestimosa Rosa dos Ventos, a causa de tão insólita, desusada agitação. O mesmo sopro invisível, estranho aos pontos cardeais, passou alguma vez pelo coração dum pintor setubalense, aquele que será recordado, duradouramente, por um monumento singelo mas devidamente justo no tranquilo recanto do Largo do Carmo".
Quanto à retrospectiva, Perdigão anunciava que "o Salão Nobre vai ser pequeno para conter a surpresa, a admiração, o orgulho de todos os setubalenses, seja qual for a sua posição social, a sua formação mental". Desta forma, João Vaz era catapultado para figura cimeira da vida setubalense, quer pelo papel que atingiu no domínio da pintura, quer pela intervenção que teve no universo da educação, designadamente no ensino técnico, assim se justificando perante a cidade a imponência do vulto que tinha dado nome à sua Escola Industrial e Comercial (a actual Escola Secundária Sebastião da Gama). Uns anos mais tarde, em 1957, Luciano Santos prestar-lhe-ia também a sua homenagem, integrando-o no tríptico dos notáveis de Setúbal, exposto no Salão Nobre da Câmara Municipal sadina.
A grande retrospectiva da obra de João Vaz havia de surgir bem mais tarde, em 2005, em Lisboa, na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, com edição de catálogo intitulado João Vaz (1859-1931) – Um pintor do Naturalismo. Setúbal vai homenagear o seu pintor neste ano de 2009 com uma conferência a ter lugar na noite de hoje, pelas 21h30, no Salão Nobre da Câmara, por Fernando António Baptista Pereira, e com uma palestra, amanhã, pelas 22h00, no café-galeria La Bohème, por António Galrinho. Segundo a edição de Março do Guia de Eventos (Setúbal: Câmara Municipal, nº 51), no final do ano, haverá “uma exposição de pintura do artista setubalense”.
[fotos: quadros "Fragatas no Tejo junto a Alcochete", "A praia", "Setúbal - Doca de pesca", "Torre das Freiras - Mosteiro de Jesus (Setúbal)" e "Póvoa de Varzim"; busto em Setúbal fotografado por Quaresma Rosa]
Sem comentários:
Enviar um comentário