«(...) O que é essencial para os professores (e escrevemos professores e não sindicatos, pois aquilo a que assistimos ultrapassou muito a capacidade de mobilização dos sindicatos, foi algo que veio do fundo da alma de dezenas de milhares de docentes que nunca imaginaram ir a uma manifestação ou fazer uma greve)? Que se perceba que este modelo de avaliação é impraticável, burocrático e gerador de injustiças e que se reabra o debate sobre um Estatuto da Carreira Docente e a bizarra criação da figura do "professor titular". O que é essencial para o ministério? Que exista um sistema de avaliação mais rigoroso do que o antes existente (apesar de não ser verdade repetir que os professores não eram avaliados quando o problema estava nas debilidades do sistema de avaliação e de carreiras). Onde é que ontem se viram sinais de que pode haver uma luz ao fundo do túnel? Quando Mário Nogueira se recusou a reafirmar, na RTPN, que não haveria negociações sem a suspensão imediata do processo de avaliação e quando, minutos depois, Jorge Pedreira disse que o ministério não aceitava desistir do "processo da avaliação", não tendo repetido a fórmula habitual, que insistiu sempre "neste modelo de avaliação".
E onde é que, aqui, podiam e deviam entrar todos os que se interessam pelo problema da qualidade do nosso ensino - e também devia entrar a oposição? Onde é que deviam entrar os que no passado foram demasiado passivos e agora são os principais protagonistas, os professores que não têm de se rever obrigatoriamente nos sindicatos existentes? Num processo que demonstrasse, do lado dos professores, e que revelasse, do lado dos outros protagonistas, que há uma genuína vontade de melhorar o sistema que temos. Para as escolas, esta é uma oportunidade para ganharem mais autonomia. Para os pais, o momento em que devem mostrar mais interesse. Para a oposição, a oportunidade que não está apenas do lado do contra. Para os outros agentes, que têm propostas e querem ser ouvidos - mesmo quando defendem soluções radicalmente diferentes.
Os responsáveis do ministério, a não ser que estejam definitivamente autistas, só podem ter percebido que, com este modelo e à força, fazem mal às escolas e se desgastam politicamente. Aos professores, agora unidos na recusa do que era realmente um modelo disparatado, não deve meter medo reivindicarem mais autonomia e mais responsabilidade, mesmo sabendo que depois podem voltar a dividir-se sobre a melhor solução. E a oposição deve correr o risco de fazer propostas que não se destinem a agradar a todos, mas procurem ser melhores, mais coerentes e mais realistas do que as deste ministério.
É isto muito difícil? É, mas não é impossível. Até porque não implica abdicar das ideias próprias, apenas respeitar as daqueles com quem se debate e negoceia. No limite, apenas exige humildade para ouvir e a convicção de que é pela argumentação, e não pela força, que as melhores ideias se impõem.»
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