São cerca de três dezenas os textos que compõem Raio de luar (Lisboa: Oficina do Livro, 2003), conjunto de “artigalhada” produzida para jornais, em que revemos Luiz Pacheco na sua força e na sua coerência, apetecendo dizer com Rui Zink (que prefacia o livro): “Já fiz mais-valia com a leitura de Luiz Pacheco. Tradução: já ganhei muito com a sua leitura. E garanto que, nestes tempos cinzentos, não é coisa pouca, encontrar livros que nos dêem mais-valia.”
Pelas páginas de Raio de luar perpassam memórias e olhares sobre o mundo e sobre a cultura portuguesa, ao mesmo tempo que vai ficando um rasto autobiográfico assumido. Pacheco escreve sobre os outros para também falar de si. A variedade temática é grande, ocupando destacado e principal lugar a literatura, seja pelos nomes que são invocados, seja pelos assuntos trazidos (censura e liberdade, epistolografia, movimentos, vida editorial), seja pelas leituras que vão sendo acusadas.
A ironia e o riso surpreendem em muitas ocasiões, numa escrita que acompanha o gesto do próprio “escriba” – “onde o destempero das duas manas me deu enorme vontade de rir, foi quando a Clarinha revelou que tem medo do futuro. Medo de ficar sem emprego. É boa!” Mas também a pedagogia entra neste conjunto de textos, haja em vista a história de uma consulta no hospital de S. José, contada em “Granito? Não, obrigado”, que bem poderia constituir um texto de importância para o atendimento hospitalar… ainda que conclua com a promessa de, numa próxima consulta, transportar “uma moca tipo riomaior”…
Embora falando preferencialmente do que vê e lê, não esquece também as pequenas histórias do que viveu, em muitas ocasiões deixando que o eu se exponha – pelos sítios que frequenta (entre Palmela, no lar, e Setúbal, nas livrarias e na Biblioteca, por exemplo), pelo ambiente do seu quotidiano (o olhar sobre os companheiros de residência), pelas considerações quanto ao que lhe falta (“em Palmela, há um castelo, mas livrarias, que é delas?”, “Setúbal, cidade sob vários aspectos periférica em termos culturais”), pelas identificações (“o que mais me encanta neste livro é a alegria que ali julgo surpreender no acto da escrita”, dirá a propósito de O manto, de Agustina), pelas memórias agradáveis guardadas de alguns professores (Câmara Reys, que lhe indicou leituras, Vitorino Nemésio, o “labioso volúvel” que apreciava, ou António Gedeão, aliás Rómulo de Carvalho, verdadeiro “exemplo do humano”), pelo recuo até à infância alentejana (a propósito de uns poemas de Manuel Alegre), pelos “fait-divers” (como a sua entrada no filme Conversa acabada), pelo seu gosto e orgulho enquanto editor (“se há coisa que me encha de cagança é essa minha actividade de Editor, a qual excede de longe a de Autor e lanço daqui mesmo um desafio: não pode haver em Portugal nenhuma bibliotecazinha decente que não tenha lá um livro editado por mim – poesia ou teatro, cinema, ficção, ensaio”) e pela sua exposição do que considera ser um “escritor maldito” (título com que o cognominaram) em texto que encerra o livro.
Raio de luar lê-se de seguida, que o difícil é parar. E por essa escrita vai passando o tom oralizante de Pacheco, quase como se numa conversa estivéssemos… mas apenas ouvindo-o. Lendo-o, aliás.
Pelas páginas de Raio de luar perpassam memórias e olhares sobre o mundo e sobre a cultura portuguesa, ao mesmo tempo que vai ficando um rasto autobiográfico assumido. Pacheco escreve sobre os outros para também falar de si. A variedade temática é grande, ocupando destacado e principal lugar a literatura, seja pelos nomes que são invocados, seja pelos assuntos trazidos (censura e liberdade, epistolografia, movimentos, vida editorial), seja pelas leituras que vão sendo acusadas.
A ironia e o riso surpreendem em muitas ocasiões, numa escrita que acompanha o gesto do próprio “escriba” – “onde o destempero das duas manas me deu enorme vontade de rir, foi quando a Clarinha revelou que tem medo do futuro. Medo de ficar sem emprego. É boa!” Mas também a pedagogia entra neste conjunto de textos, haja em vista a história de uma consulta no hospital de S. José, contada em “Granito? Não, obrigado”, que bem poderia constituir um texto de importância para o atendimento hospitalar… ainda que conclua com a promessa de, numa próxima consulta, transportar “uma moca tipo riomaior”…
Embora falando preferencialmente do que vê e lê, não esquece também as pequenas histórias do que viveu, em muitas ocasiões deixando que o eu se exponha – pelos sítios que frequenta (entre Palmela, no lar, e Setúbal, nas livrarias e na Biblioteca, por exemplo), pelo ambiente do seu quotidiano (o olhar sobre os companheiros de residência), pelas considerações quanto ao que lhe falta (“em Palmela, há um castelo, mas livrarias, que é delas?”, “Setúbal, cidade sob vários aspectos periférica em termos culturais”), pelas identificações (“o que mais me encanta neste livro é a alegria que ali julgo surpreender no acto da escrita”, dirá a propósito de O manto, de Agustina), pelas memórias agradáveis guardadas de alguns professores (Câmara Reys, que lhe indicou leituras, Vitorino Nemésio, o “labioso volúvel” que apreciava, ou António Gedeão, aliás Rómulo de Carvalho, verdadeiro “exemplo do humano”), pelo recuo até à infância alentejana (a propósito de uns poemas de Manuel Alegre), pelos “fait-divers” (como a sua entrada no filme Conversa acabada), pelo seu gosto e orgulho enquanto editor (“se há coisa que me encha de cagança é essa minha actividade de Editor, a qual excede de longe a de Autor e lanço daqui mesmo um desafio: não pode haver em Portugal nenhuma bibliotecazinha decente que não tenha lá um livro editado por mim – poesia ou teatro, cinema, ficção, ensaio”) e pela sua exposição do que considera ser um “escritor maldito” (título com que o cognominaram) em texto que encerra o livro.
Raio de luar lê-se de seguida, que o difícil é parar. E por essa escrita vai passando o tom oralizante de Pacheco, quase como se numa conversa estivéssemos… mas apenas ouvindo-o. Lendo-o, aliás.
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