sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Os jornais de Viana na memória

A imprensa regional vianense conta agora com uma referência de elevado interesse – a obra Publicações periódicas vianenses, de Rui Faria Viana e António José Barroso (Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2009), integrada na série de edições a propósito dos 750 anos do foral afonsino atribuído à cidade do Lima.
Num conjunto de 640 páginas, os autores catalogaram 370 publicações por ordem alfabética (não tendo tido acesso directo a 17), “excluindo as impressas por meios não tipográficos, como as policopiadas e, até mesmo, as electrónicas”, fazendo constar em cada registo ficha técnica adequada (datas de início, responsáveis e colaboradores, conteúdos e características físicas), além de reprodução fotográfica do número mais antigo a que acederam. O período abrangido é lato, tão aberto quanto se sabe que tem sido a história do jornalismo vianense, desde 1855 (ano da criação de A Aurora do Lima) até Fevereiro de 2009 (data em que surgiu Vale do Neiva Filatélico, em Barroselas). No final da obra, surgem quatro muito úteis índices – de títulos, de responsáveis pelas publicações, geográfico e cronológico.
O maior período que houve sem o aparecimento de novas publicações foi o de 1859-1867, enquanto a maior sucessão de anos com novos títulos é a que se inicia em 1982 e vem até 2009, período de 28 anos durante os quais sempre surgiram novas publicações, havendo cinco desses anos em que nasceu apenas um novo título (1982, 1983, 1986, 1990 e 2009).
Os anos que revelaram maior número de nascimentos de títulos foram: no século XIX, o de 1892 (8); no século XX, os de 1922, 1970, 1985 e 1994 (8 títulos em cada) e 1913, 1914, 1959, 1991, 1992 e 1998 (7 por ano); mais recentemente, foram os anos de 2002 e 2004, cada um deles com 8 títulos.
A longevidade de A Aurora do Lima (saindo desde 1855, o que o torna no mais antigo título em publicação em Portugal continental) não esconde uma grande quantidade de jornais ou revistas que tiveram número único como edição – ainda no século XIX, a primeira situação aconteceu com Doris, em 1878, mas houve outros 14 títulos com igual destino; ao longo do século XX, em todas as décadas houve publicações de número único, totalizando 43; nos tempos mais próximos, os anos de 2002 e de 2003 tiveram também títulos de número único (um em cada ano). Em grande parte dos casos, estes números únicos são publicações com a finalidade de evocar efemérides ou acontecimentos sociais muito importantes (normalmente por solidariedade social), mas é curioso o paradoxo existente de uma publicação como Diário de Viana (de 1879), que não chegou a ter a periodicidade sugerida no título porque dela saiu apenas um número… Aliás, maior é o paradoxo se repararmos que, nesta história de mais de século e meio, não houve nenhum jornal diário a partir de Viana do Castelo, ainda que haja uma longa história de correspondentes de diários nacionais de referência na cidade.
Quanto aos títulos, há os que nos despertam a curiosidade, seja pelo que sugerem, seja pela originalidade: entre os primeiros, O snob (1905), A troça (1911), O peneira (1912), O gabiru (1913), O pedante (1913), Atira-le… Bernardo (1914), Zé da Gaita (1914) e O safado (1924), por exemplo; entre os segundos, refiro os casos de RTP (de 1958, publicação escolar surgida por altura do Natal, com propósito social, aproveitando o efeito do aparecimento recente da televisão em Portugal, mas identificando-se como Rápida, Total e Pronta a colaboração dos alunos para a consoada dos mais pobres), de Apolo (de 1969, jornal escolar saído em Abril, com título a propósito da proeza das 10 voltas à Lua feitas pela nave Apolo 8) e de Dar que falar (2004, aproveitando a sonoridade da expressão linguística para remeter para o ponto de origem, Darque).
Este volume Publicações periódicas vianenses é uma obra que se consulta com prazer, pelo que conta e pelo que dá a descobrir, com organização acessível e apresentação agradável, deixando no leitor a ideia de como a história local ou regional e a comunicação social se conjugam e se apoiam. Apesar de organizado alfabeticamente, este trabalho vai muito além do que é um registo enciclopédico de verbetes, quer pelo contributo que dá para o estudo da imprensa periódica, quer pelo pormenor a que desce na apresentação de cada título (orientações, tipo de conteúdos, colaboradores, mudanças na orientação, reprodução fotográfica do rosto de cada título), quer pela dificuldade na sua elaboração, uma vez que sabemos que, por se ligar à efemeridade, o jornal raramente é conservado, marca que dificulta a organização de um trabalho deste género. Aliás, os próprios autores o reconhecem ao mencionarem as bibliotecas (públicas ou particulares) que percorreram ou ao referirem as quase duas dezenas de títulos de que obtiveram referências mas que não conseguiram encontrar. Esta obra cultiva, pois, a memória local e a memória daquilo que se tem construído a partir da efemeridade, os jornais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Orgulhosamente temos os nossos "Cabeçalhos",publicados em julho de 1984 (trabalho notavel para a época,deixamos aqui uma lembrança à responsável IDILIA MARTINS) ´daí para cá ,e por falta de instalações de uma BM (estão sempre a mudar de local),tem sido de todo impossível encetar seja o q fôr.Trabalho feito qu'é dele?ã
aqrosa