No início dos anos 40 do século passado, Agostinho da Silva publicava, enquanto autor e editor, uns “Textos para a juventude”, fascículos de cultura e de coisas práticas, com o título mais vasto de À volta do Mundo. Foi em 1943 que deu à estampa o título Viagem à Lua, caderninho de 32 páginas (capa incluída), que iniciava assim: “É possível que venhas a ler um dia, se te não tomarem todo o tempo outras obras muito mais importantes, uma peça romântica, Cyrano de Bergerac, da autoria de um escritor francês, chamado Rostand.”
A primeira observação ressalta deste tratamento de proximidade usado, mais sugerindo uma conversa com o leitor, usando um “tu” que vai atravessar todo o livrinho, como a chamar a atenção do seu interlocutor, uma medida também pedagógica, em que o mestre se aproxima do discípulo, ora reconhecendo os seus conhecimentos, ora aconselhando, ora opinando. Nesta prática, estes fascículos são exemplares, quase levando o leitor, suposto jovem, a servir-se do texto como se um guia fosse.
A segunda observação vem a propósito do texto de Bergerac. O que Agostinho da Silva pretendia não era falar da obra de Rostand, mas explicar que o protagonista da obra era decalcado de uma figura do século XVII, que escreveu sobre uma viagem à lua (Les états et empires de la lune, 1649), considerada “bem curiosa”, sobretudo pelo engenho posto nas formas possíveis de lá chegar – “a do frasco de orvalho, a dos foguetes, a da caixa de fumo e a do íman”, afinal métodos que esqueceram a questão “do ar respirável” e que denotavam a pouca cientificidade das possibilidades admitidas pelo autor seiscentista.
Mas, neste texto de Agostinho da Silva, Cyrano funciona apenas como pretexto para falar das possibilidades de ida até à Lua, visíveis na literatura, sendo o autor seguinte Jules Verne, do século XIX, graças às suas duas obras Da terra à Lua (1865) e À roda da Lua (1869), títulos que são resumidos para o leitor e que o levam à conclusão possível: as personagens não puderam alunar, devido ao encontro com um asteróide. O autor seguinte é H. G. Wells, com apresentação sumária de algumas das suas obras e particular demora no título Os primeiros homens na Lua (1901), cujas personagens, Cavor e Bedford, conseguiram alunar, divertindo-se a saltar, mas desencontrando-se na sua aventura.
Depois deste curto trajecto pela visão apresentada pela literatura de ficção quanto a uma chegada à Lua, Agostinho da Silva questiona o seu (jovem) leitor: “E será realmente possível ir à Lua?”. De imediato, lhe dá a resposta: “Claro que é possível e não será absurdo afirmar-se que é mesmo tão fácil como ir a qualquer outra parte: tudo consiste no meio de transporte”. E quais são as condições? Poder percorrer a distância, de acordo com as várias camadas de ar que vai encontrando (passagem que serve para explicar o porquê de esta viagem não se poder efectuar em balão ou em aeroplano, mas admitindo que o foguete poderia dar uma ajuda). Outras condições são a conjugação dos movimentos e a protecção do homem que arrisque a viagem. Em conclusão: “Se escaparem da viagem e do bombardeamento [de asteróides], se levarem aparelhos respiratórios e fatos de aquecimento ou de resfriamento, para a noite ou para o dia, poderão os exploradores visitar a Lua e percorrer-lhe todos os acidentes de terreno, trazendo-nos muitas noções científicas novas”.
E o texto de Agostinho da Silva termina com um sonho – o que poderia o homem contemplar a partir da Lua? “O que ainda despertaria maior interesse seria a descrição das paisagens da Lua e dos aspectos do Céu: os homens que lá fossem poderiam (…) ver surgir e pôr-se o sol sempre rodeado de chamas e numa lenta carreira pelo firmamento; e poderiam à noite contemplar o que deve ser o mais extraordinário dos espectáculos: a Terra em fases, como nós vemos a Lua”. E vem a chamada de atenção ao (jovem) leitor: “Calcula o que será ver-se a Terra, quando o hemisfério visível estiver todo iluminado, quando for Terra cheia, quatro vezes maior do que a Lua que nós vemos e lançando uma luz 14 vezes maia intensa que o luar.”
O sonho estava exposto, alimentando a esperança de que se chegaria a pisar solo lunar. Isto foi escrito em 1943. Teriam de passar 26 anos para o sonho ser concretizado. O que é importante é que, no início dos anos 40, Agostinho da Silva era um espírito aberto a essa possibilidade e divulgava ao público juvenil o sonho que o alimentava (e que alimentava a Humanidade também). Agora, que passam 40 anos sobre a chegada do Homem à Lua, torna-se interessante lembrar este texto de Agostinho da Silva…
A primeira observação ressalta deste tratamento de proximidade usado, mais sugerindo uma conversa com o leitor, usando um “tu” que vai atravessar todo o livrinho, como a chamar a atenção do seu interlocutor, uma medida também pedagógica, em que o mestre se aproxima do discípulo, ora reconhecendo os seus conhecimentos, ora aconselhando, ora opinando. Nesta prática, estes fascículos são exemplares, quase levando o leitor, suposto jovem, a servir-se do texto como se um guia fosse.
A segunda observação vem a propósito do texto de Bergerac. O que Agostinho da Silva pretendia não era falar da obra de Rostand, mas explicar que o protagonista da obra era decalcado de uma figura do século XVII, que escreveu sobre uma viagem à lua (Les états et empires de la lune, 1649), considerada “bem curiosa”, sobretudo pelo engenho posto nas formas possíveis de lá chegar – “a do frasco de orvalho, a dos foguetes, a da caixa de fumo e a do íman”, afinal métodos que esqueceram a questão “do ar respirável” e que denotavam a pouca cientificidade das possibilidades admitidas pelo autor seiscentista.
Mas, neste texto de Agostinho da Silva, Cyrano funciona apenas como pretexto para falar das possibilidades de ida até à Lua, visíveis na literatura, sendo o autor seguinte Jules Verne, do século XIX, graças às suas duas obras Da terra à Lua (1865) e À roda da Lua (1869), títulos que são resumidos para o leitor e que o levam à conclusão possível: as personagens não puderam alunar, devido ao encontro com um asteróide. O autor seguinte é H. G. Wells, com apresentação sumária de algumas das suas obras e particular demora no título Os primeiros homens na Lua (1901), cujas personagens, Cavor e Bedford, conseguiram alunar, divertindo-se a saltar, mas desencontrando-se na sua aventura.
Depois deste curto trajecto pela visão apresentada pela literatura de ficção quanto a uma chegada à Lua, Agostinho da Silva questiona o seu (jovem) leitor: “E será realmente possível ir à Lua?”. De imediato, lhe dá a resposta: “Claro que é possível e não será absurdo afirmar-se que é mesmo tão fácil como ir a qualquer outra parte: tudo consiste no meio de transporte”. E quais são as condições? Poder percorrer a distância, de acordo com as várias camadas de ar que vai encontrando (passagem que serve para explicar o porquê de esta viagem não se poder efectuar em balão ou em aeroplano, mas admitindo que o foguete poderia dar uma ajuda). Outras condições são a conjugação dos movimentos e a protecção do homem que arrisque a viagem. Em conclusão: “Se escaparem da viagem e do bombardeamento [de asteróides], se levarem aparelhos respiratórios e fatos de aquecimento ou de resfriamento, para a noite ou para o dia, poderão os exploradores visitar a Lua e percorrer-lhe todos os acidentes de terreno, trazendo-nos muitas noções científicas novas”.
E o texto de Agostinho da Silva termina com um sonho – o que poderia o homem contemplar a partir da Lua? “O que ainda despertaria maior interesse seria a descrição das paisagens da Lua e dos aspectos do Céu: os homens que lá fossem poderiam (…) ver surgir e pôr-se o sol sempre rodeado de chamas e numa lenta carreira pelo firmamento; e poderiam à noite contemplar o que deve ser o mais extraordinário dos espectáculos: a Terra em fases, como nós vemos a Lua”. E vem a chamada de atenção ao (jovem) leitor: “Calcula o que será ver-se a Terra, quando o hemisfério visível estiver todo iluminado, quando for Terra cheia, quatro vezes maior do que a Lua que nós vemos e lançando uma luz 14 vezes maia intensa que o luar.”
O sonho estava exposto, alimentando a esperança de que se chegaria a pisar solo lunar. Isto foi escrito em 1943. Teriam de passar 26 anos para o sonho ser concretizado. O que é importante é que, no início dos anos 40, Agostinho da Silva era um espírito aberto a essa possibilidade e divulgava ao público juvenil o sonho que o alimentava (e que alimentava a Humanidade também). Agora, que passam 40 anos sobre a chegada do Homem à Lua, torna-se interessante lembrar este texto de Agostinho da Silva…
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