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Grégoire, 13 anos, aluno no 5º ano de escolaridade – “Está bem, eu sei, há qualquer coisa que não está certa. Explico já, não vale a pena contarem pelos dedos. Chumbei duas vezes: na 2ª classe e no 5º ano.” Filho único, a sua situação escolar é pretexto para as discussões contínuas dos pais e para um insucesso marcado e lembrado não menos continuadamente. O refúgio é o avô. Um duplo refúgio, de resto: porque tem uma cabana no fundo do quintal onde se armazenam maquinarias e apetrechos que dão para alimentar o saber manual e onde se refugiam os dois quando querem confidenciar e porque o entende, porque o encaminha, porque o leva a pensar, porque o entusiasma a ser sincero com o que gosta de fazer e o leva a escrever a tal carta.
Era a primeira vez que Grégoire pedia para ir à escola, facto nada estranho se lembrarmos que o livro começa com frases de manifesto: “Detesto a escola. É a coisa que mais odeio no mundo. E mais ainda… Ela dá cabo da minha vida.” E este sentimento era vivido desde os três anos, idade pré-escolar, tempo em que, recusando ir à escola, levou uma bofetada da mãe. “Era a primeira da minha vida. Pois era. Era a escola. Era o princípio do pesadelo.”
No final, o leitor percebe que a narração ocorreu nas últimas 24 horas da vida da personagem. E que este gesto de narrar se ficou a dever, uma vez mais, à presença do avô, Léon. E também se fica a saber que a história é a da recuperação de um rapaz para a escola porque se sentiu motivado no tipo de escola que frequentava, sobretudo técnica, que ia ao encontro das suas aptidões e criatividade. E há duas razões mais para cativarem nesta leitura: a valorização do esforço individual e do pensar, por um lado, e os afectos, por outro. Tudo junto, dá uma emocionante história sobre o crescimento, sobre a adolescência, sobre a escola. E um retrato possível de situações com que nos confrontamos.
(Título original: 35 kilos d’espoir, 2002. 1ª edição portuguesa: 2005)
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