«O candidato Vital Moreira tem feito uma campanha oscilante. Ora para se afirmar à esquerda (contra o Bloco), ora para se afirmar à direita (contra o PSD). Para a esquerda inventou, por exemplo, o voto contra Barroso (o cúmplice de Bush). Para a direita, quando as sondagens começaram a mudar, resolveu sair com o escândalo BPN: um acto de outra seriedade e natureza. Vital Moreira é um candidato gaffeur (ponto em que de resto está bem acompanhado). Desde o princípio que passa o tempo a dizer que não disse exactamente o que disse ou a explicar que, se por acaso disse, o que disse não queria dizer o que parecia. Toda a gente via com complacência a irremediável confusão daquela cabeça coimbrã e o zelo sempre extravagante do convertido. Coitado, não era. Mas, no caso do BPN, as coisas não se podem tomar com tanta ligeireza. Vital Moreira ligou expressamente a "roubalheira" do BPN a "figuras gradas" do PSD e pediu a Manuela Ferreira Leite "explicações" sobre o assunto. O tom "heróico" deste despropósito - "A mim (Ferreira Leite) não me intimida, nem me amordaça" - seria só ridículo, se não fosse inadmissível. O que fica implícito nesta posição de Vital Moreira é que o PSD como partido (e não o sr. A. ou sr. B., que a ele acidentalmente pertencem) incitou, facilitou ou escondeu a enorme fraude do BPN e que, por consequência, o PSD deve condenar pública e politicamente o sr. A. e o sr. B., como directo responsável pelos crimes que eles cometeram, se na verdade os cometeram. Nunca ninguém se atreveu a ir tão longe na demagogia eleitoral.
No próprio PS houve quem se espantasse com este delírio, que, tratando o PSD como uma associação criminosa, ignora militantemente as regras básicas da democracia. Maria de Belém (presidente da comissão parlamentar de inquérito ao BPN) protestou. E, como se calculará, José Lello correu a criticar Belém e a confortar Vital. É agora decisivo que se saiba - e se saiba com muita clareza - para que lado Sócrates se vai inclinar. Manuela Ferreira Leite já lhe exigiu, como é óbvio, uma declaração inequívoca. Inequívoca e, convém acrescentar, indispensável, porque se o secretário-geral do PS (e, além disso, primeiro-ministro) aprova, ou tolera, os métodos de Vital Moreira por uns votos numa eleição secundária, tudo é de facto permitido - e tudo inevitavelmente se pagará mais tarde.»
Vasco Pulido Valente. "Vital Moreira". Público: 31.Maio.2009.
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