Há dias, grande grupo de professores da minha escola reuniu-se num jantar para despedida de sete outros professores que deixaram de o ser por motivos de aposentação. Uma colega tinha uma mensagem preparada para transmitir a todos. Mas as condições da sala em que a reunião ocorreu não permitiram a leitura. Por outro lado, o facto de serem sete os homenageados terá também pesado na decisão de não ler a missiva, porque era pessoal. No entanto, posteriormente, distribuiu a mensagem por uns tantos amigos mais próximos, entre os quais fui incluído.
Pedi-lhe autorização para aqui transcrever alguns passos, por me parecer que, também aqui, além de um retrato de professor (que pouco ou nada tem a ver com os estereótipos que a sociedade e a política mais recentes têm vindo a fazer), há um outro retrato de escola, que deve ser um espaço feliz, sem demagogias e sem ser campo de batalha (como, infelizmente, tem vindo a suceder!). Reproduzo, pois, alguns excertos. De uma mensagem que tem o saber e o fazer de 30 anos de escola…
«(…) Foram mais de 30 anos. Tanto e tão pouco! Desde as tardes que passava a brincar às professoras com as minhas bonecas, ainda não sabia bem o que era a escola, até ao último dia de Abril de 2008, passou a maior parte da minha vida … um instante … e eu não dei por isso?! Mas, como?!
Talvez porque a nossa seja a mais bela profissão!
Digo-o, não porque esteja a pensar nos tantos e magistrais saberes e competências que é suposto possuirmos. Digo-o, porque estou sinceramente convencida de que, no acto de ensinar, se processa algo de único entre aquele que ensina e aquele que aprende, sendo que o que se aprende não é só o que se ensina, outras aprendizagens vão no “quando” e no “como” de o fazer.
(…) Digo-o, logo, porque acho que viverei para além dos meus dias em tudo o que deixei junto daqueles com quem trabalhei e convivi e em tudo o que estes a outros deixem.
Sei que falo numa altura em que estas reflexões foram adiadas porque o dia-a-dia das escolas perturba a dedicação ao saber, às competências, à cultura, à partilha.
Mas, por muito que isto custe a alguns, outros dias virão. As travessias dos desertos, esta nossa feita de desrespeitos e de ignorâncias, chegam sempre ao seu fim. A razão vence sempre, só que não vence logo. O momento virá em que, reduzidos ao quanto, alguém perguntará pelo como.
Como Philippe Meirieu ainda há pouco tempo dizia numa conferência em Lisboa, a pedagogia não é um dom, nem uma ciência, nem uma arte. Será antes uma «arte de fazer», arte de bricolage entre dois pólos antagónicos: o princípio da educabilidade (todos podem aprender e crescer) e o princípio da liberdade (ninguém pode obrigar ninguém a aprender e a crescer). Charneira entre estes dois pólos, o professor pode, pelo acto de transmissão de cultura, transformá-los em pólos de atracção. E cumprir-se!
Este tempo da minha vida passou depressa porque acreditei nisto que vos digo. Digo-o não para vos “consolar”, mas para vos incentivar … à resistência pela razão que nos assiste, pela dignidade de que nunca poderemos prescindir.
Confesso que fui feliz com o meu trabalho porque fiz dele um desafio para a vida. Sinto-me como que tenha aplicado o pensamento com que me deparei, há pouco tempo, e cuja autoria não era referida: «todos querem o cimo da montanha, mas a felicidade está durante a subida». Eu … apreciei cada passo da minha subida!
(…) Termino com um voto. Que a nossa razão vença porque feita de saber, de dignidade e de respeito pelo outro.
(…) Será sonho? Sim, e porque não? Já um poeta que muito admiro dizia que pelo sonho é que vamos e dele nos sustentaremos! (…)»
Pedi-lhe autorização para aqui transcrever alguns passos, por me parecer que, também aqui, além de um retrato de professor (que pouco ou nada tem a ver com os estereótipos que a sociedade e a política mais recentes têm vindo a fazer), há um outro retrato de escola, que deve ser um espaço feliz, sem demagogias e sem ser campo de batalha (como, infelizmente, tem vindo a suceder!). Reproduzo, pois, alguns excertos. De uma mensagem que tem o saber e o fazer de 30 anos de escola…
«(…) Foram mais de 30 anos. Tanto e tão pouco! Desde as tardes que passava a brincar às professoras com as minhas bonecas, ainda não sabia bem o que era a escola, até ao último dia de Abril de 2008, passou a maior parte da minha vida … um instante … e eu não dei por isso?! Mas, como?!
Talvez porque a nossa seja a mais bela profissão!
Digo-o, não porque esteja a pensar nos tantos e magistrais saberes e competências que é suposto possuirmos. Digo-o, porque estou sinceramente convencida de que, no acto de ensinar, se processa algo de único entre aquele que ensina e aquele que aprende, sendo que o que se aprende não é só o que se ensina, outras aprendizagens vão no “quando” e no “como” de o fazer.
(…) Digo-o, logo, porque acho que viverei para além dos meus dias em tudo o que deixei junto daqueles com quem trabalhei e convivi e em tudo o que estes a outros deixem.
Sei que falo numa altura em que estas reflexões foram adiadas porque o dia-a-dia das escolas perturba a dedicação ao saber, às competências, à cultura, à partilha.
Mas, por muito que isto custe a alguns, outros dias virão. As travessias dos desertos, esta nossa feita de desrespeitos e de ignorâncias, chegam sempre ao seu fim. A razão vence sempre, só que não vence logo. O momento virá em que, reduzidos ao quanto, alguém perguntará pelo como.
Como Philippe Meirieu ainda há pouco tempo dizia numa conferência em Lisboa, a pedagogia não é um dom, nem uma ciência, nem uma arte. Será antes uma «arte de fazer», arte de bricolage entre dois pólos antagónicos: o princípio da educabilidade (todos podem aprender e crescer) e o princípio da liberdade (ninguém pode obrigar ninguém a aprender e a crescer). Charneira entre estes dois pólos, o professor pode, pelo acto de transmissão de cultura, transformá-los em pólos de atracção. E cumprir-se!
Este tempo da minha vida passou depressa porque acreditei nisto que vos digo. Digo-o não para vos “consolar”, mas para vos incentivar … à resistência pela razão que nos assiste, pela dignidade de que nunca poderemos prescindir.
Confesso que fui feliz com o meu trabalho porque fiz dele um desafio para a vida. Sinto-me como que tenha aplicado o pensamento com que me deparei, há pouco tempo, e cuja autoria não era referida: «todos querem o cimo da montanha, mas a felicidade está durante a subida». Eu … apreciei cada passo da minha subida!
(…) Termino com um voto. Que a nossa razão vença porque feita de saber, de dignidade e de respeito pelo outro.
(…) Será sonho? Sim, e porque não? Já um poeta que muito admiro dizia que pelo sonho é que vamos e dele nos sustentaremos! (…)»
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