«(...) Surpreende que uma magistrada dê uma ordem com urgência para a remoção de algo que não chegara sequer a ver, apesar de a "obra" estar exposta na via pública há duas semanas. Surpreende também que horas depois a mesma magistrada diga daquilo que mandara tirar que afinal de contas podia ficar. Surpreende ainda que não se tenha sabido com base em que lei foi mandado substituir o falso ecrã do Magalhães. E surpreende pelo caminho que o procurador-geral Pinto Monteiro, instado a pronunciar-se sobre a magna questão do Entrudo de Torres, tenha dito que a imagem final montada no "computador" era diferente da que fora mandada retirar.
Que grande trapalhada! E tudo por causa do que parece ser uma precipitação de uma magistrada por conta de uma vulgar brincadeira de Carnaval. Quando o autarca socialista de Torres Vedras saudou a magistrada e o queixoso pela publicidade que tinham dado ao Carnaval, estava escrito um final feliz, à altura desta história sem pés nem cabeça. É que ficou provado, pela primeira vez, que um Carnaval português até pode ter graça. Basta que em vez de tentar ridicularizar os outros, o Carnaval passe a ser ele próprio ridículo. É uma das lições de toda esta insólita e absurda história.
Há todo um Portugal de anedota que se revela aqui. Da juíza que remove com urgência e sem ver o que estava exposto há 15 dias, à autoglorificação dos promotores do corso, promovidos em importância pelo gesto censório, acabando na restauração em festa das moças no Magalhães, após uma curta tarde fascista, ficou demonstrado como a piada do Carnaval era o próprio Carnaval.
E no meio deste barulho todo, ninguém explicou o essencial, ou seja, como é que tudo isto foi possível. Não é que seja muito importante. Mas eu fiquei sem perceber e gostava de saber com base em quê, afinal de contas, um tribunal pode mandar retirar uma paródia de Carnaval. É que isso, dando de barato o ridículo do episódio, não tem graça. Mesmo no Carnaval.»
Miguel Gaspar. "O Magalhães, censurado". Público: 23.Fevereiro.2009
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