Chama-se Caidé e relata as suas memórias. É o herói de Caidé – Aventuras de um cão de sala contadas pelo próprio, obra de António Torrado que teve segunda edição em 1998 (Porto: Livraria Civilização Editora), quando passavam 15 anos sobre a sua primeira apresentação, com ilustrações de Manuel Mouta Faria.
A história, contada na primeira pessoa, leva o leitor a assistir às aventuras que Caidé lembra com prazer – “o mistério da mala desaparecida”, “o naufrágio do veleiro”, “à beira da glória”, “rei dos animais” e “cão prodigioso e o menino prodígio”, todas desenvolvidas em torno da personagem que as recorda, ora com humor, ora jogando com palavras, ora mostrando o mundo segundo um ponto de vista distante do dos humanos. “O meu livro é um registo de confidências (aliás, cão fidências). Tenho de ser sincero até ao fim, nem que pelo meio me custe um bocado.” Tal é a intenção inicial do narrador, mantendo-se fiel a uma pretensa escrita memorialística…
É um cão que vive com os seus donos. Domesticado. Que sabe viver na cidade, mas, no campo, a correr à descoberta da toca de um coelho, fica a olhar o perseguido, deixando-o ir embora por ter pena da história que lhe é contada… Conhece os jardins da cidade, participa em concursos de canídeos, põe-se ao serviço das crianças enquanto resgata brinquedos e posa para um retrato. Percebe os homens, mas age com as regras e as medidas do mundo dos cães – “A quinta do Doutor Aldo era muito maior do que o jardim público, defronte da nossa casa. Para aí umas quinze mijas mais, calculo eu. Para quem não souber, esclareço que mija é uma medida de comprimento de exclusivo uso canino. Os homens usam metros, léguas, milhas. Nós, mijas. Compreende-se. Quando virem um canídeo em posição selecta, a alçar a perna para uma árvore, não julguem que ele está só a aliviar-se das águas. Está também em cálculos de medição. Não o interrompam. Não o distraiam.”
As histórias correm, contadas com prazer. “Pelo-me por aventuras”, diz. Pelas suas aventuras, coisas insignificantes aos olhos dos outros, mas coisas importantes aos olhos de um cão, deste cão, de Caidé. Do lado de cá, o ouvinte ou o leitor estão sempre presentes, numa interpelação contínua – “Espero, no fim, os vossos juízos”. E o leitor sente-se compelido a seguir atento para poder ajuizar. Pelo menos, foi esse o desafio. Mas, no final, a conclusão é apresentada pelo protagonista – “Se, depois destas narrativas, alguma conclusão querem tirar, fiquem-se com esta: nós, os cães, somos todos uns heróis ao lado dos homens, de quem aprendemos a língua, as vontades e até os caprichos. Já era altura de os homens começarem a perceber-nos mais um poucochinho. O que é que acham?” E Caidé acaba o seu discurso.
Afinal, o pequeno cocker, que, no início, “dava tudo para ser um desses cães felizardos que passam o tempo a correr e a ladrar, de uma ponta à outra do écran da televisão (…), sempre a saltarem às canelas dos bandidos, a combaterem com ursos, a escalarem montanhas, a avisarem de fogos, a salvarem gente”, tem uma história recheada de acção, assente nas aventuras do quotidiano, grandes para um cão de companhia.
A história, contada na primeira pessoa, leva o leitor a assistir às aventuras que Caidé lembra com prazer – “o mistério da mala desaparecida”, “o naufrágio do veleiro”, “à beira da glória”, “rei dos animais” e “cão prodigioso e o menino prodígio”, todas desenvolvidas em torno da personagem que as recorda, ora com humor, ora jogando com palavras, ora mostrando o mundo segundo um ponto de vista distante do dos humanos. “O meu livro é um registo de confidências (aliás, cão fidências). Tenho de ser sincero até ao fim, nem que pelo meio me custe um bocado.” Tal é a intenção inicial do narrador, mantendo-se fiel a uma pretensa escrita memorialística…
É um cão que vive com os seus donos. Domesticado. Que sabe viver na cidade, mas, no campo, a correr à descoberta da toca de um coelho, fica a olhar o perseguido, deixando-o ir embora por ter pena da história que lhe é contada… Conhece os jardins da cidade, participa em concursos de canídeos, põe-se ao serviço das crianças enquanto resgata brinquedos e posa para um retrato. Percebe os homens, mas age com as regras e as medidas do mundo dos cães – “A quinta do Doutor Aldo era muito maior do que o jardim público, defronte da nossa casa. Para aí umas quinze mijas mais, calculo eu. Para quem não souber, esclareço que mija é uma medida de comprimento de exclusivo uso canino. Os homens usam metros, léguas, milhas. Nós, mijas. Compreende-se. Quando virem um canídeo em posição selecta, a alçar a perna para uma árvore, não julguem que ele está só a aliviar-se das águas. Está também em cálculos de medição. Não o interrompam. Não o distraiam.”
As histórias correm, contadas com prazer. “Pelo-me por aventuras”, diz. Pelas suas aventuras, coisas insignificantes aos olhos dos outros, mas coisas importantes aos olhos de um cão, deste cão, de Caidé. Do lado de cá, o ouvinte ou o leitor estão sempre presentes, numa interpelação contínua – “Espero, no fim, os vossos juízos”. E o leitor sente-se compelido a seguir atento para poder ajuizar. Pelo menos, foi esse o desafio. Mas, no final, a conclusão é apresentada pelo protagonista – “Se, depois destas narrativas, alguma conclusão querem tirar, fiquem-se com esta: nós, os cães, somos todos uns heróis ao lado dos homens, de quem aprendemos a língua, as vontades e até os caprichos. Já era altura de os homens começarem a perceber-nos mais um poucochinho. O que é que acham?” E Caidé acaba o seu discurso.
Afinal, o pequeno cocker, que, no início, “dava tudo para ser um desses cães felizardos que passam o tempo a correr e a ladrar, de uma ponta à outra do écran da televisão (…), sempre a saltarem às canelas dos bandidos, a combaterem com ursos, a escalarem montanhas, a avisarem de fogos, a salvarem gente”, tem uma história recheada de acção, assente nas aventuras do quotidiano, grandes para um cão de companhia.
1 comentário:
qual é o estado civil de António torrado
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