Neste novo ano, o país deveria assumir como prioridade o combate sem tréguas à indisciplina e a promoção de uma cultura de exigência nas nossas escolas. No nosso sistema de ensino, são estes os problemas credores de uma resposta imediata.
Não se ignoram as deformações estruturais do "sistema": o centralismo burocrático castrador de diversidade e inovação, os programas e currículos desfasados ou a insustentável taxa de abandono escolar. Do que aqui se pretende tratar hoje é, porém, do curto prazo. Da "crise", do impasse, da angústia que se vive nas nossas escolas.
Se quisermos encontrar atenuantes para o aumento do número de casos de desrespeito, indisciplina e até violência, não nos faltarão munições. Ele é o contexto familiar, as dificuldades de integração, a exclusão social ou até a influência dos videojogos. Contudo, a crescente pressão do lado das "causas externas à escola" só deve ampliar a responsabilidade daqueles de quem se espera que defendam, sem tibiezas, que a escola é um espaço de formação cívica e não um recreio para delinquentes. Exige-se uma atitude diferente, de intransigência, de pais e professores. Mas, em primeira instância, impõe-se uma inversão da complacência que tem caracterizado o ministério. A desvalorização permanente dos casos mais mediáticos é um factor reprodutor de indisciplina nas salas de aula.
O país tem assistido à imposição ideológica de uma cultura de facilitismo. A coberto da "escola inclusiva", despreza-se o esforço, desincentiva-se o mérito e alarga-se a distância entre os que podem recorrer a outras fontes (familiares e privadas) e os que têm de se resignar à decrepitude do ensino estatal. Este Governo tem horror a exames, fomenta os "diplomas" a granel e rejeita reprovações de "potenciais excluídos", isto é, de quem pouco ou nada sabe. Esta política pode criar rosadas ilusões, mas conduz o país para uma mediocridade que as novas gerações pagarão a um preço elevado. Portugal precisa do oposto: de uma aposta na exigência, trabalho, mérito, conhecimento, nas competências e na qualidade de ensino. Não há outra via para o sucesso. É por isso que é incompreensível a obsessão governativa na imposição de um modelo de avaliação de professores que só tem causado instabilidade, desmotivação e perda de autoridade dos professores.
O Governo tem exibido uma confrangedora impotência para ultrapassar o impasse em que se atolou. É hora de acabar com esta teimosa e insuportável guerrilha e de encontrar uma solução equilibrada que garanta que os professores passarão a ser avaliados, com um modelo justo e fazível. Só falta vontade política.
Enquanto não há arte e engenho para dar este simples passo, o ambiente nas escolas degrada-se e o Governo vai perdendo força e energia para se concentrar nas questões verdadeiramente relevantes e complexas do nosso modelo de ensino. Um novo ano pode ser um bom pretexto para uma nova atitude.
Pedro Duarte. "2009 e a escola portuguesa". Público: 7 de Janeiro de 2009.
Tudo bem. E como se poderá construir a diferença? É que votar no Parlamento uma moção a favor ou contra, defendendo a permanência ou exigindo a suspensão, é algo que depende do número de votos, que nem sempre das opiniões, isto é, depende, em muitos casos, do jogo político, como se tem estado a ver. E as consequências? E as alternativas? Umas devem ser medidas (e nem sempre o são), outras devem ser apresentadas (é para isso que as diferenças existem no Parlamento e entre as pessoas). O debate tem que primar por mais incisão, informação e coerência.
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