Há mais vida para lá da avaliação
Para que serve o sistema educativo? Para promover o conhecimento ou para explorar o seu valor económico?
Que poderia eu dizer, em jeito de balanço de 2008, que não tivesse já dito? Não seria pura perfídia fazer bons votos para um 2009 que, todos sabemos, não pode ser bom? Falemos então da vida que está para lá da avaliação. A evolução dos sistemas educativos das sociedades democráticas jamais dependerá da vontade exclusiva dos governos. A eficácia das transformações que aí se produzam será sempre função da capacidade de gerir os dinamismos que relacionam uma multiplicidade de actores: professores, alunos, pais, sindicatos, partidos políticos, empresas e comunicação social, entre outros. Quando se avança (ou recua, segundo a perspectiva) sem que os movimentos sejam precedidos de suficiente debate social, a sua duração é efémera. Apesar de submersos em mudanças, os sistemas educativos podem, então, regredir. Quando se estudam os processos de desenvolvimento dos países mais ricos e industrializados, é fatal que se evidencie uma correlação positiva entre esses processos e a melhoria do nível de educação das respectivas populações. Mas quando se estudam os processos de desenvolvimento dos seus sistemas educativos, a dificuldade de apreensão das suas enormes complexidades brinda-nos com mais hipóteses que evidências. Em todo o caso, a persistência na análise permitirá verificar que, em todos eles, houve um momento importante de debate social visando encontrar respostas que legitimem as decisões políticas. Nas democracias adultas, as questões que se seguem foram sempre alvo desse debate. Para que serve o sistema educativo? Para promover o valor intrínseco do conhecimento ou para explorar o valor instrumental do conhecimento? Deve ter por objectivo a formação das mulheres e dos homens, em obediência a um quadro de referência concebido pela sociedade que o paga? Ou deve ter por objectivo o desenvolvimento de cada ser, em todas as suas dimensões, por forma a tentar transformar em acto as potencialidades diferentes de cada um, sem sujeição a quadros de chegada? Deve dar prioridade ao desenvolvimento igual de todos ou deve-se orientar para a selecção e formação de elites?
Que poderia eu dizer, em jeito de balanço de 2008, que não tivesse já dito? Não seria pura perfídia fazer bons votos para um 2009 que, todos sabemos, não pode ser bom? Falemos então da vida que está para lá da avaliação. A evolução dos sistemas educativos das sociedades democráticas jamais dependerá da vontade exclusiva dos governos. A eficácia das transformações que aí se produzam será sempre função da capacidade de gerir os dinamismos que relacionam uma multiplicidade de actores: professores, alunos, pais, sindicatos, partidos políticos, empresas e comunicação social, entre outros. Quando se avança (ou recua, segundo a perspectiva) sem que os movimentos sejam precedidos de suficiente debate social, a sua duração é efémera. Apesar de submersos em mudanças, os sistemas educativos podem, então, regredir. Quando se estudam os processos de desenvolvimento dos países mais ricos e industrializados, é fatal que se evidencie uma correlação positiva entre esses processos e a melhoria do nível de educação das respectivas populações. Mas quando se estudam os processos de desenvolvimento dos seus sistemas educativos, a dificuldade de apreensão das suas enormes complexidades brinda-nos com mais hipóteses que evidências. Em todo o caso, a persistência na análise permitirá verificar que, em todos eles, houve um momento importante de debate social visando encontrar respostas que legitimem as decisões políticas. Nas democracias adultas, as questões que se seguem foram sempre alvo desse debate. Para que serve o sistema educativo? Para promover o valor intrínseco do conhecimento ou para explorar o valor instrumental do conhecimento? Deve ter por objectivo a formação das mulheres e dos homens, em obediência a um quadro de referência concebido pela sociedade que o paga? Ou deve ter por objectivo o desenvolvimento de cada ser, em todas as suas dimensões, por forma a tentar transformar em acto as potencialidades diferentes de cada um, sem sujeição a quadros de chegada? Deve dar prioridade ao desenvolvimento igual de todos ou deve-se orientar para a selecção e formação de elites?
Que fazer para democratizar os sistemas educativos, sendo certo que factores exteriores continuam a influenciar de forma determinante os percursos dos estudantes? Que fazer para injectar qualidade na quantidade?
Como se combatem o insucesso e o abandono escolares, os sentimentos de perda e falhanço, sem diminuir a exigência e o rigor? Como interiorizar, em todos, que a corrida, a qualquer preço, aos diplomas e a falsos resultados não promove a verdadeira realização pessoal a que os alunos têm direito, nem gera a eficácia colectiva de que as economias carecem?
Que valorizar mais na formação dos professores? O conhecimento científico ou os métodos para os transmitir aos alunos? As dimensões psicológica e pedagógica ou a dimensão estritamente disciplinar? Como mantê-los actualizados ao longo da carreira? Como motivá-los em permanência? Como compatibilizar a tendência para tudo pedir à Escola com os limites humanos dos seus profissionais? O que podem os critérios administrativos impor a um professor sem ferir a sua indispensável autonomia intelectual e pedagógica?
Que esforço de financiamento está a sociedade disponível para fazer pela sua Escola, que esforço é legítimo esperar que ela faça, no cotejo com os outros sistemas vitais para o bem-estar colectivo?
Amanhã vota-se na Assembleia da República a suspensão da avaliação do desempenho dos professores. No dia 19 há de novo greve. Gastámos um ano perfazendo um círculo de conflitos violentos. Encerrámo-lo, rodeados de cacos, no ponto de partida. Entramos 2009 como passámos 2008, sem atender a que há mais vida para lá da avaliação. Um dia acordaremos. E seja em que ano for, esse será um bom ano!
Santana Castilho. "Há mais vida para lá da avaliação". Público: 7 de Janeiro de 2009.
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