terça-feira, 30 de setembro de 2008
Rostos (88)
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Em terras de Sua Majestade, sobre educação...
Ser professor – “Actualmente, a profissão de professor está na tabela das dez melhores, das mais reconhecidas. E muitos dos licenciados que saem do ensino superior querem seguir esta profissão. Em termos de recursos humanos, criamos a figura do assistente do professor. São pessoas com formação para trabalhar em sala de aula, o que liberta os docentes de algum trabalho mais burocrático, de maneira a que se dediquem apenas ao ensino, porque ficam com mais tempo para ensinar. Existem já 13 mil assistentes.”
Matemática e Língua Materna – “A Matemática e o Inglês são as disciplinas onde os alunos têm maiores dificuldades. Aos 11 anos, há muitos alunos com dificuldades na leitura e na escrita, o que não pode ser.”
Pais na Escola – “Também temos escolas que estão a ser construídas em parceria com o movimento cooperativo, onde os pais estão mais envolvidos na gestão das escolas. Mas os pais não querem criar escolas, poucos são os que o querem, os pais querem é que a escola que escolheram seja boa.”
domingo, 28 de setembro de 2008
"Os Lusíadas" em mirandês
sábado, 27 de setembro de 2008
Máximas em mínimas (34)
Hoje, no "Correio de Setúbal"
Português – A língua portuguesa entrou nos corredores da ONU pela voz do Presidente da República, também presidente em exercício da CPLP, com tradução simultânea para todos os presentes. Pode não ser um enorme passo para a difusão da língua portuguesa, mas é, com certeza, um bom contributo para que a nossa língua seja olhada com a importância que lhe devemos dar. Sim, que lhe devemos dar, para que os outros lha dêem, que será uma forma de também o país e os portugueses serem vistos num mais justo lugar no mundo. Iniciativas do género podem valer mais do que acordos ortográficos nascidos como o que recentemente andou em discussão e que… vai vigorando até um dia se afirmar.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Para a família vitoriana
Nas palavras do actual Presidente da Direcção, Luís Lourenço, esta Caderneta “é uma forma diferente de nos mostrarmos, de expormos a nossa actividade, de nos financiarmos, de mostrar que somos muitos e dispostos a deixar a nossa marca na Cidade que amamos”.
A obra conta, pois, um longo percurso iniciado em Novembro de 1910. Cheio de história. Cheio de verde. Cheio de Setúbal. Em que não contam só os ídolos, mas também todos os heróis que, no quotidiano, vão fazendo o clube.
Máximas em mínimas (33)
desde a hora do nascer
até que a vida se acabe."
Claro que, neste caso, a culpa não morre solteira...
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Rostos (87)
Entre as "chapeladas" e a necessidade do chapéu...
Sebastião Fortuna e o gosto de sonhar
Conheço o Sebastião Fortuna há pouco mais de 20 anos. Vi-o pela primeira vez naquele que é agora o Centro de Artes e Ofícios Fortuna, em Quinta do Anjo, por si sonhado, criado e alimentado durante muitos anos. Aliás, essa é uma das características de Sebastião – correr à frente do que sonha, como se o sonho tivesse que o seguir ou… não se sabendo muito bem quem vai à frente, se o sonhador, se o sonho ele mesmo!
O Sebastião cativou-me no primeiro encontro. Pela forma como as suas mãos trabalhavam, modelando barro ou acariciando peças. Pela maneira como me convidou a entrar no sonho das suas aventuras. Pela disponibilidade que exerceu para mostrar, explicar, fazer. Por essa ginástica de uma imaginação sempre alerta, continuamente a trabalhar. Por um certo desprezo pelos valores materiais. Pela conjugação do homem com o sonho. Afinal, Sebastião Fortuna, nas artes plásticas, “cantava a mesma e não menos bela poesia que Sebastião da Gama”, tal como uns anos depois escreveu D. Manuel Martins, bispo de Setúbal (A Seara, Março.1992).
Muitas vezes fui passando pelo Centro de Artes e Ofícios, ouvindo-lhe os desabafos. Umas vezes, ia lá apenas para ver, para estar. Noutras, levava os filhos e amigos. Houve uma vez em que lá levei o Fernando Pessa, convidado que tinha sido para vir à minha escola falar com os alunos sobre jornalismo. Na sabedoria dos seus 90 e picos anos, que já tinha na altura, Fernando Pessa ficou entusiasmado com o trabalho que Sebastião Fortuna levava a cabo… e admirou todo o trabalho com uma fina sensibilidade e alegria.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Ainda sobre os 500 euros do dia 12 de Setembro
Rostos (86) [do cinema (II)]
sábado, 20 de setembro de 2008
Alice Vieira - As opiniões dos 13 anos
É o que se passa em A vida nas palavras de Inês Tavares (Alfragide: Caminho, 2008), obra que tem o subtítulo de “Diário de quem só quer a paz no mundo e o Brad Pitt”, último livro de Alice Vieira. Por lá passa a vida encarada do alto dos 13 anos, com muitas opiniões resultantes da procura e afirmação da identidade, das preocupações juvenis, do ritmo da escola e das vivências com os amigos, da família, da sociedade e das suas convenções, das referências contemporâneas, da alucinação consumista. É uma história próxima no tempo, nossa contemporânea, que vai tendo marcas de acontecimentos recentes, seja pelos concertos, seja pelas opiniões, seja pelos heróis, seja pelos hábitos, seja pelos pequenos eventos que têm sido notícia… A título de exemplo, quase no final, em tempo de Outono e de castanhas, escreve Inês: “E depois há as castanhas. O cheiro das castanhas. O sabor das castanhas. O calor que passa para as nossas mãos quando as agarramos. Mas desde este ano que as castanhas estão diferentes. Por causa de uma lei qualquer, passou a ser proibido embrulhá-las em papel de jornal ou nas folhas das Páginas Amarelas. Agora tem que ser tudo muito limpo, muito sem micróbios, tal como manda a Europa. E, como todos sabemos, a Europa é que manda em nós. Mas ainda me lembro do que eu aprendia num pacote de castanhas.”
Escrita rápida, com humor bastante e um olhar para o mundo de forma descomplexada, o livro cativa pela simplicidade, num oscilar entre o conhecimento do passado e o confronto com o presente cheio de reticências e de desafios, à velocidade de uma forma de ver o mundo e a vida, justificando, aliás, o título. Pelo meio, vai havendo uma ou outra mensagem de apaziguamento e, no final… aquilo que a avó Gi (que foi a ofertante do caderno) nem sonharia: o “diário” acaba também por guardar um segredo que pertenceu ao passado da avó, que explica, por outro lado, o azedume que as duas avós de Inês amorosamente mantinham quando se encontravam.
3. “O Natal devia ser um tempo tranquilo, um tempo em que devíamos ter mais paciência uns para os outros, um tempo de (…) forrarmos de amor o nosso coração. Pois devia. Mas infelizmente não é. O Natal tornou-se um tempo de correrias desenfreadas, de compras desenfreadas (e às vezes vai-se a ver e compramos tudo trocado) e quando finalmente ele termina estamos todos mais cansados do que se tivéssemos andado horas na montanha russa.”
4. “É a sorrir que nos devemos lembrar daqueles que amamos e que já não estão connosco.”
Rostos (85)
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Baptista-Bastos, Sebastião da Gama, Ramalho Eanes e a ética
terça-feira, 16 de setembro de 2008
"Os Lusíadas" em manuscrito, em Setúbal
Três meses depois dessa oferta, em 15 de Setembro de 2008, feriado municipal setubalense, foi apresentada publicamente a edição facsimilada de Os Lusíadas Manuscrito, levada a cabo pela Câmara Municipal de Setúbal, que teve uma tiragem reduzida e cujos exemplares estão a ser vendidos pela autarquia.
A iniciativa de manuscrever a obra épica justificou-se, segundo palavras de Maria das Dores Meira, Presidente da Câmara, por três razões: “a íntima e secular ligação de Setúbal ao rio e ao mar”, “a activa participação de inúmeros setubalenses na gesta dos Descobrimentos” e “o estreito contacto entre as histórias de vida dos dois poetas”, Camões e Bocage.
No final da transcrição, há a lista de todos os participantes, com a respectiva indicação dos versos que copiaram e há ainda uma lista de 44 participantes cujas transcrições foram substituídas por conterem anomalias na apresentação.
Uma ideia bonita para recordar a importância que o 10 de Junho de 2007 teve para Setúbal e para lembrar uma iniciativa cultural de fôlego que aqui foi levada a cabo.
Gostaria, no entanto, de dizer uma palavra quanto à listagem dos “substituídos”, porque estou incluído nela. É que, aquando da transcrição que me calhou, logo no dia inaugural da acção, vi que havia erros na transcrição, porquanto a disposição gráfica estava a ser desrespeitada, com avanço de linhas. Chamei a atenção da pessoa que estava a acompanhar a acção para o efeito, tendo-me sido dito que não havia nenhum problema e que copiasse seguindo a ordem, mesmo que ultrapassasse o limite que estava destinado à estrofe que me coubera. Estranhei, mas procedi assim. Foi essa a razão do erro, que não sei onde começou… A minha colaboração (na estrofe 21 do canto I), bem como a dos outros 43, permitiu então, que mais pessoas participassem e assim ficassem ligadas aos Lusíadas. Também não foi mau!
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Bocage à vista (55) no seu dia - 2ª série
Madonna, em "Sticky and Sweet Tour"
domingo, 14 de setembro de 2008
Bocage à vista (54) - 2ª série
"Bocage e as Musas", de Adelino Silva (1983), [ver "Bocage e as Ninfas", de Fernando Santos (1929)]
sábado, 13 de setembro de 2008
Bocage à vista (53) - 2ª série
A propósito do Dia do Diploma, que as escolas viveram ontem
A polémica suscitada pela entrega de um prémio de 500 euros aos melhores alunos do 12.º ano não é apenas mais um episódio do velho debate sobre o que é e para que serve a escola nos dias de hoje. É óbvio que por ali se cruzam as concepções dos filhos de Rousseau e dos adeptos do ensino mercantilista, os crentes do poder de transformação social da escola e os que insistem em vê-la apenas como uma peça no sistema de produção económica, os militantes de uma corrente dominada pela mediania do colectivo e os que apelam à necessidade de se cumprir o potencial individual de cada um dos alunos. Mas além de um debate ideológico condimentado pela propensão maioritária da classe docente para o conservadorismo, o que vale a pena questionar é se o espectáculo que o Governo montou para distribuir os prémios está de acordo com o espírito que justifica a sua existência ou se, pelo contrário, o subverte.
Numa perspectiva crua da realidade, os prémios concedidos aos melhores alunos limitam-se a transportar para as escolas um modelo de emulação que já existe nas empresas e instituições privadas e que, a curto prazo, passará também a vingar nas várias camadas do funcionalismo público. Aqui, em vez de promoções ou de prémios de desempenho, há um cheque para o vencedor absoluto, quadros de honra para alunos que se destacaram pelas mais variadas razões ou quadros de excelência para os que obtiveram melhores notas. Em vez de enquadrar o desempenho no abstracto da turma ou da comunidade escolar, o que o sistema educativo começa também agora a privilegiar é o resultado obtido por um indivíduo numa competição directa com os seus colegas. Pode ser pouco romântico, pode significar a renúncia definitiva do papel transformador da escola na procura de um mundo idílico ou justo, mas o que é facto é que a iniciativa obriga os jovens estudantes a confrontarem-se com a realidade que os espera no mundo do trabalho. E a perceberem que o mérito é devidamente reconhecido e premiado.Não havendo razões de fundo para se censurar o princípio, vale a pena questionar o método como o Governo o aplicou no terreno, com 23 ministros e secretários de Estado a distribuírem cheques a eito pelas escolas. Percebe-se que o Governo veja na medida uma aposta com enorme significado para melhorar os resultados das escolas. Mas o aparato com que a embrulhou ameaça o seu sentido e utilidade imediata. Porque se é bom distinguir os melhores, essa distinção não se deve assemelhar a uma entrega de Óscares que justifica até a presença de tantas e tão altas figuras da governação. Tem de ser feita no quadro de uma reflexão ao nível da comunidade escolar na qual têm de ser considerados também os que lutaram e ficaram perto do prémio ou os que, por diferentes motivos, não têm bases para entrar na competição. Em idades problemáticas como as dos alunos do 12.º ano, a institucionalização de uma elite em galas triunfais pode muito facilmente tornar-se um factor de desinteresse, inveja ou frustração para os que se sentem à partida incapazes de competir com os melhores. Não parecendo haver razões para o alarme catastrófico dos sindicatos, a entrega de prémios aos melhores alunos dispensa a feira de vaidades montada pelo Governo. Num país viciado na mediocridade, é bom que se enalteça o mérito, mas, ao fazê-lo com tantos ministros, jornalistas e televisões, corre-se o risco de se perder o seu poder de exemplo para se entrar numa gala de celebridades onde se cava um fosso entre vencedores e vencidos. Que haja prémios, quadros de honra e de excelência, que se leve os alunos a perceber que o trabalho, a dedicação e o esforço são reconhecidos é uma coisa; que se faça com o seu sucesso uma encenação triunfal é um erro crasso, que se pode reflectir nas estatísticas do insucesso. Que é, afinal, o problema mais grave da educação no país.
Hoje, no "Correio de Setúbal"
Condecorações – Numa reunião recente da Câmara Municipal de Setúbal, foram aprovados os nomes dos cidadãos e entidades a serem contempladas com a medalha de mérito municipal no próximo feriado, em 15 de Setembro. Até aqui, tudo pareceria normal, independentemente de se concordar ou não com os nomes propostos. O estranho surgiu do facto de, publicamente, os nomes apresentados terem sido escrutinados individualmente na mesma sessão, tendo o executivo chegado à conclusão de que três desses nomes deveriam ser retirados da lista de condecorações a haver. Toda a gente ficou a saber que, a par de uns quantos nomes que vão ser contemplados, houve uns tantos que foram rejeitados, tendo os mesmos sido divulgados e publicadas notícias a propósito. Qual é o direito que protege um cidadão de se ver publicamente rejeitado por uma coisa que não pediu? Até que ponto pode o nome das pessoas ser assim jogado, entre aprovações e recusas, na apreciação pública de um prémio a que não se candidataram? Injusta, muito injusta, esta exposição não requerida!
Ano lectivo – Aqui está o 2008/2009. Seria bom que este ano lectivo corresse sem atropelos e sem demagogias (sejam elas dos números, dos princípios, das práticas ou das decisões) em favor da aprendizagem dos alunos e de um ambiente pacífico nas escolas. Seria bom! É que… “para ser professor, também é preciso ter as mãos purificadas”, porque “a toda a hora temos de tocar em flores” e “a toda a hora a Poesia nos visita”. É que o sublime é ser o professor “a lição em pessoa – que é isso mais importante e mais eficaz que sermos o papel onde a lição está escrita”! Quem disse estas verdades foi Sebastião da Gama, bem conferidas pela prática que no seu “Diário” regista. A todos cabe conceder alguma atenção a estes princípios.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
A inscrição, a memória, a arte pública... em Setúbal?
Em Setúbal, no "Quartel do 11", reivindicação na parede
Bocage à vista (52) - 2ª série
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
O início do ano lectivo no "Público" de hoje
Qualquer uma das quatro respostas dá bem a ideia do ambiente que se está a viver nas Escolas. Hoje, uma colega dizia-me que, no ano lectivo anterior, o que se viveu foi o agudizar do confronto entre o Ministério e os professores, mas que aquilo que se vai verificar a partir de agora é a tensão dentro das escolas. Terá valido a pena? Que exemplos podem passar para aqueles em cujo processo educativo estamos embrenhados?
Os vários textos do Público vão ainda mais longe. E não deixa de ser significativo verificar que “Portugal é o país da União Europeia que, ao nível do 2.º ciclo do básico, dedica menos tempo ao ensino da língua e da Matemática. No 3.º ciclo (7.º, 8.º e 9.º anos) apenas a Holanda apresenta uma percentagem da carga horária inferior.” Andou a gente a assistir a essa celebração do acordo ortográfico para quê? Tem andado a gente a sujeitar-se às teorias das disciplinas para tudo e para nada, que cortam em áreas essenciais e surgem como invenções e ocupações dos tempos para quê, quando já toda a gente viu que daria imenso jeito que algumas áreas curriculares pura e simplesmente desaparecessem e dessem lugar a tempos para Língua Portuguesa, Matemática e outras disciplinas? Bom exemplo de identidade a partir da escola!...
Também é curiosa a leitura dos resultados finais. Segundo a Ministra da Educação, "é um facto que os resultados melhoraram e isso significa que mais alunos têm um percurso escolar regular, que transitaram de ano. É isso que se espera das escolas, é isso que se espera dos professores, foi isso que as escolas e os professores fizeram nos últimos anos: trabalhar intensamente, de uma forma diligente, esforçada, para melhorar os resultados". Segundo o Primeiro-Ministro, “os bons resultados [devem-se] às políticas que apostam na Educação”. Segundo Paulo Feytor Pinto, da Associação dos Professores de Português, “a carga burocrática quando se pretende reter um aluno, sobretudo no ensino básico, é muito grande e maior do que era há uns anos. Não nos atirem areia para os olhos porque estes resultados não significam uma melhoria real das aprendizagens”. Onde está a convergência?
E, finalmente, as conclusões de José Manuel Fernandes, director do jornal: “uma grande parte dos professores, talvez a maioria, afirma ou dá a entender que ensinaria melhor se o ministério atrapalhasse menos”; “há instruções para chumbar menos alunos, houve exames mais fáceis e aumentou-se tanto a burocracia que é quase preciso ser um herói para, como se diz em eduquês, "reter" uma criança ou um adolescente”; “ficámos a saber que Portugal é um dos países da União Europeia onde se dedica menos tempo ao ensino da língua pátria e da Matemática, precisamente as duas cadeiras centrais, básicas, de qualquer currículo escolar; ou que os docentes portugueses de todos os níveis de ensino são os que dão mais horas de aulas e os que mais tempo têm de permanecer nas escolas, razão por que é provável que sejam dos que têm menos tempo para preparar as aulas e dos que mais horas gastam a preencher papéis e a desempenhar funções burocráticas”. O director do Público não perde, aliás, tempo e conclui: “Num país onde os níveis formais de qualificação da população continuam ao nível dos da Turquia (só 28 por cento da população entre os 25 e os 64 anos completou o ensino secundário), este teatro político não é uma comédia, é uma tragédia que pagaremos muito caro no futuro.”
Veremos, nesse futuro, de que lado está a razão. Mas não se augura nada de bom. E as respostas dos 85 professores, que não falaram em reivindicações salariais ou sociais, são elucidativas quanto à preocupação de cumprimento profissional, contrariamente à ideia que, ao longo do ano lectivo passado, se gerou dessa mesma profissão. Na educação, o pensamento do futuro deveria ser mais risonho, mesmo porque educar é também uma forma de acalentar a esperança. Infelizmente, como também se antevê do conjunto de trabalhos do Público, o mais importante do ano lectivo que se inicia vai ser a burocracia. Que não tem encanto, não tem grandes compatibilidades com a educação e, como se sabe, tem sido uma das responsáveis pelo atraso do país!
Bocage à vista (50) - 2ª série
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Camões, grande Camões...
A obra vai ser apresentada em Lisboa, no salão nobre da Universidade Aberta, em 25 de Setembro, pelas 17h30.
Gosto de ler Camões, sempre me deixei entusiasmar com a sua poesia lírica (manancial de descobertas e inesgotável fonte de formas de dizer o “eu”, o amor e a vida). Não podia, pois, ficar insensível a mais esta iniciativa que passa a alargar a leitura camoniana e a mostrar aos interessados um dos contributos da cultura portuguesa para o Renascimento. (Como estamos em mês de Bocage, tive que lhe pedir emprestado o título deste postal, parte de um dos seus versos...)
Ah, o silêncio!...
«O que é que estamos a dizer quando estamos calados? A pergunta pode parecer paradoxal, mas não é. Enquanto seres humanos, estamos sempre a comunicar. Se não dizemos nada, falamos através dos gestos ou da roupa. E mesmo se desaparecermos do campo visual dos outros seres humanos, estamos a dizer aos outros que desaparecemos. E os outros perguntam: mas afinal de contas, por que é que ele desapareceu?
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Bocage à vista (48) - 2ª série
domingo, 7 de setembro de 2008
Eduardo Lourenço - "O homem que ensina Portugal a pensar"
Livro – “O relacionamento com os livros – que vem de todos os livros que a gente lê quando é jovem – torna-os bocados de nós próprios. São as tábuas privadas das nossas leis. As escritas e as não escritas. Faltará qualquer coisa quando a nossa relação com eles for puramente electrónica.”
Geração – “Cada geração não é mestra de si mesma. Há sempre um ou dois que são um pouco as referências ou as pessoas que influenciam os outros. Ou porque são mais velhos ou porque são mais brilhantes.”
Poesia – “A grande poesia é aquela que, de repente nos oferece um mundo, no qual a vivência deste se altera em cores e dimensões não sonhadas. É a criação de um outro mundo que se acrescenta realmente ao nosso mundo visível. É isso e não os versos que são muito bonitos.”
Camões – “Tem uma percepção dos valores humanos que não é essa, tranquila e tranquilizadora, que a ortodoxia, a visão católica normal do mundo inculcava. Há já ali uma grande angústia. Apesar de ele ser o autor da nossa epopeia, há nele uma visão pessimista do mundo. É uma visão que anuncia várias coisas.”
Fernando Pessoa – “Não há questão nenhuma, ainda hoje, que nos interesse, que de uma maneira ou de outra não esteja na obra do Pessoa. (…) O Pessoa, se o releio, é sem a sensação de releitura. Se estou muito tempo sem o ler, torno a receber as mesmas impressões, os mesmos choques.”
Homem – “O Homem é um ser ficcionante. Independentemente do que seja o objecto dessa ficção. Nós estamos sempre ficcionando. A nossa relação com o real é uma relação imaginária.”
Escritor – “O que me interessa é o auto-retrato que cada um de nós traça escrevendo. Seja o que for. Nós não precisamos de psicanalista para nada. A gente dá-se. Vende-se. A escrita é realmente a escrita do nosso inconsciente. Uma pessoa não pode trair-se a si própria.”
Outro – “Eu próprio sinto que estou em dívida. Estou em dívida para com a Humanidade inteira, de qualquer modo.”
Gabriela Llansol – “É um caso. Penso que muito se falará dela no futuro. Provavelmente, será – penso eu – o próximo grande mito literário português. A escrita dela é fulgurante. Não há nada que se possa comparar àquilo. (…) Também ela, de uma maneira diferente do Pessoa, vem de um planeta estranho: é aquele mundo flamengo, aqueles Boschs, aquele misticismo renano, aquelas coisas complicadas que aparentemente têm pouco a ver connosco. Já tiveram, em tempos. É poesia da mais alta. Sem se oferecer imediatamente com esse valor da poesia.”
Gostar – “Não é obrigatório gostar da Gioconda. Mas é uma pena não gostar da Gioconda.”
sábado, 6 de setembro de 2008
Força, Simone!
José Leon Machado nas memórias da Primeira Grande Guerra
Vasques, narrador de si mesmo, em jeito de memórias, reconstrói o seu percurso em capítulos que intervalam a narrativa do vivido na guerra e a vida depois da guerra, quando tem 44 anos (em 1938), justificando-se: “Escrevermos sobre uma coisa que nos aflige ou incomoda é uma forma de exorcizá-la, tornando-a inofensiva.” Esta justificação confirma o que se passa no primeiro contacto do leitor com a personagem, logo no início da história, um Luís Vasques que, vinte anos depois de a guerra ter acabado, ainda tem “pesadelos da guerra”.
No percurso de Vasques, há lugar para a história de Rato, seu vizinho, soldado, impedido, aventureiro e amigo, e para a de Aninhas, que, de beleza avistada no cais de uma estação, chegou a esposa do ex-combatente.
Ao mesmo tempo que quer contar a guerra, o narrador não esconde o seu ressentimento com essa mesma guerra, até ao ponto de ter arrumado no sótão os escritos memorialísticos que outros produziram sobre esse tempo, decisão que não esconde espírito crítico quanto ao valor desses testemunhos – “O meu contacto com a guerra, depois que regressei, têm sido os livros de memórias que colecciono e que vão sendo publicados por um ou outro veterano. Tenho algumas dezenas e são de valor irregular, quer literário, quer de fidelidade aos acontecimentos. Uns são mais patrioteiros, louvando a coragem, a determinação e o valor dos soldados portugueses. Outros são mais críticos, quer ao desempenho do CEP na Flandres, quer à decisão dos políticos portugueses em arrastar o país para a guerra. Alguns livros, escritos por oficiais subalternos, limitam-se a descrever os acontecimentos do dia-a-dia nas trincheiras. Estes últimos, li-os com interesse e senti que havia algures alguém que sofria como eu. Acabei por perder o interesse por esses livros e guardei-os no sótão da casa dentro de um caixote. Fi-lo, não por receio de que me desse a tentação de novamente os folhear, mas para evitar que alguma visita da casa desse com eles na biblioteca e se pusesse a falar do assunto.”
A narrativa ganha verosimilhança com os cruzamentos havidos entre as personagens e personalidades que tiveram responsabilidade na história portuguesa, seja através de opiniões exaradas, seja pelo facto de algumas dessas personalidades se transformarem também em personagens – além de Oliveira Salazar, professor de Vasques em Coimbra, há referências aos nomes de Norton de Matos, Afonso Costa, Gomes da Costa, Tamagnini, Simas Machado, João Chagas, Sidónio Pais. Mas, tratando-se de uma obra de ficção, há também indicadores que a acentuam, como a referência a convívio de um antepassado de Vasques com João da Ega e Carlos da Maia, personagens queirosianas…
Depois de 34 capítulos em que Vasques conta a sua história – passada entre o nascimento, em 1894, e 1938 – e em que o leitor pensa assistir ao final da narração, volve meio século e o romance entra no “epílogo”. É ainda o mesmo Vasques, já com 93 anos (em final da década de 80), que escreve, rabiscando em papel almaço o seu encontro com o bisneto do Rato (Joaquim Domingues), estudante na Universidade do Porto, que pretendera ouvi-lo a testemunhar sobre a participação na Grande Guerra, com vista a um trabalho académico para a disciplina de Cultura Portuguesa. Nessa altura, Vasques reabre a arca do sótão, alegoria de um caminhar pelas memórias, de onde tira o seu manuscrito e regista: “Amanhã entregarei tudo ao rapaz. Talvez ele encontre nestas páginas o que procura, ou talvez encontre o que não procura, e que é aquilo que a vida, o pó e a cinza a que todas as coisas se reduzem lhe reservaram.” Ainda não é, contudo, o final do romance. Uma “nota do editor”, escrita duas décadas depois, apresenta um outro narrador – o bisneto do Rato, na casa que fora de Luís Vasques, a preparar a edição das memórias que lhe tinham sido ofertadas e a dar conta do destino de várias personagens que o tempo foi devorando, assim se fazendo a ponte entre uma das linhas temáticas fortes deste romance (a participação lusa na Primeira Grande Guerra) e a actualidade.
Guerra - “Não se pode falar da guerra a quem nunca a viveu. Por mais pormenores que se contem do horror por que passámos, o que escuta nunca o poderá compreender inteiramente. Alguns fazem até um ar de incredulidade, como se não fossem possíveis tais atrocidades.”
Identidade - “Cada homem está sujeito à cultura onde nasceu e foi criado e é com os olhos desfocados por essa mesma cultura que vê e julga a cultura dos outros."
Memória I - “A memória, quando espicaçada, assemelha-se a um rio que transborda e inunda as terras à volta. A água barrenta espalha-se irregularmente pelos campos e pelos matos e pode ou não chegar às habitações. A memória inunda o papel almaço em gatafunhos apressados e só tarde me dou conta de quão longe chegou a água das palavras.”
Memória II - “Tudo nunca se pode saber. (…) O que sabemos ou podemos contar são pequenas parcelas, pedaços do passado, transformados pelo tempo e pela memória, sempre imperfeita e pouco segura.”
Sede - “Onde há homens, há sede. Se está calor, os homens bebem para refrescar; se está frio, bebem para aquecer. Para já não falar de outras motivações, mais do foro pessoal que atmosférico.”
Vida - “Quando o que está em causa é a defesa da própria vida ou a do camarada, toda a argumentação contra a guerra e a violência se desfaz em pó.”
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Bocage à vista (45) - 2ª série
Coisas de que Octávio Machado fala (1)
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Profissões quase extintas na "Magazine Reportagem"
Por estas objectivas passam as experiências e as vidas de quatro pessoas: de Maria Emília Pinhal e Domingos Marçal Caiado, agricultores, em Caixas; de José Guilherme Páscoa Simões, barbeiro; de Abílio Caetano Carvalho, relojoeiro (falecido enquanto era preparado este número da revista).
Os textos – pequenas reportagens – descrevem as profissões respectivas e dão a palavra aos actores, excepto no último caso em que a fala é de Rita Carvalho, a viúva. Qualquer um deles constitui um bom pretexto para a identidade local e para a memória e o facto de usarem uma linguagem acessível pode mesmo possibilitar que entrem na sala de aula para estudar um género jornalístico como a reportagem ou o retrato ou para conhecer as profissões (ainda que quase em extinção) e a sociedade local, mesmo porque todos os retratados são também interessantes figuras humanas pelo seu exemplo.
Um pouco do “mundo à frente das objectivas”, pois. Que se vê com prazer, claro.
Bocage à vista (44) - 2ª série
Bocage, por Júlio Pomar (1983)
[a partir de programa do Prémio Literário Bocage 2001, promovido pela LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão)]
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Mistérios que o tempo resolve: a lápide que lembrava Tomás António Santos Silva, em Setúbal
Pois ainda se está a tempo, assim haja conjugação de vontades! A memória desta terra agradeceria o gesto da reposição.
Aqui reproduzo a fotografia de O Setubalense com a lápide encontrada, cuja inscrição é a seguinte: "N'esta casa nasceu em 12 de Abril de 1751 o distincto Poeta Thomaz Antonio dos Santos Silva na Arcadia Thomino Sadino /A redacção de A Mocidade por subscripção publica mandou collocar esta lapide no anno de 1909".