O Público de hoje resolveu destacar a educação, logo chamando a atenção na primeira página para a resposta de 85 professores a uma pergunta simples: “O que vai fazer [neste ano lectivo] para melhorar a escola?” As 85 respostas são apresentadas e permito-me destacar quatro – três pela frontalidade e uma pela solidariedade. Vamos, então, às da frontalidade: “Vou lidar com os problemas com uma postura mais humana do que a que o Governo tem adoptado para com os professores” (Isabel Santos, 29 anos, 1.º CEB); “Continuar a ser a professora que sempre fui.” (Ana Maria Machado, 59 anos, professora de Português, do ensino secundário) e “Cumprimentar todos com mais entusiasmo: "Bom dia Gente Boa." Vai existir certamente paz.” (Adriano Figueiredo, 58 anos, Ed. Vis., Art. Plást.s, Hist. da Cult. Art., 3.º CEB e sec.). E, agora, vamos à da solidariedade, porque estou na mesma situação: “Como avaliador dos meus colegas, vou pôr engenho e arte na promoção de uma relação sadia, de recorte humanista, na escola que quero democrática.” (Joaquim Vinhas, 54 anos, História, sec.)
Qualquer uma das quatro respostas dá bem a ideia do ambiente que se está a viver nas Escolas. Hoje, uma colega dizia-me que, no ano lectivo anterior, o que se viveu foi o agudizar do confronto entre o Ministério e os professores, mas que aquilo que se vai verificar a partir de agora é a tensão dentro das escolas. Terá valido a pena? Que exemplos podem passar para aqueles em cujo processo educativo estamos embrenhados?
Os vários textos do Público vão ainda mais longe. E não deixa de ser significativo verificar que “Portugal é o país da União Europeia que, ao nível do 2.º ciclo do básico, dedica menos tempo ao ensino da língua e da Matemática. No 3.º ciclo (7.º, 8.º e 9.º anos) apenas a Holanda apresenta uma percentagem da carga horária inferior.” Andou a gente a assistir a essa celebração do acordo ortográfico para quê? Tem andado a gente a sujeitar-se às teorias das disciplinas para tudo e para nada, que cortam em áreas essenciais e surgem como invenções e ocupações dos tempos para quê, quando já toda a gente viu que daria imenso jeito que algumas áreas curriculares pura e simplesmente desaparecessem e dessem lugar a tempos para Língua Portuguesa, Matemática e outras disciplinas? Bom exemplo de identidade a partir da escola!...
Também é curiosa a leitura dos resultados finais. Segundo a Ministra da Educação, "é um facto que os resultados melhoraram e isso significa que mais alunos têm um percurso escolar regular, que transitaram de ano. É isso que se espera das escolas, é isso que se espera dos professores, foi isso que as escolas e os professores fizeram nos últimos anos: trabalhar intensamente, de uma forma diligente, esforçada, para melhorar os resultados". Segundo o Primeiro-Ministro, “os bons resultados [devem-se] às políticas que apostam na Educação”. Segundo Paulo Feytor Pinto, da Associação dos Professores de Português, “a carga burocrática quando se pretende reter um aluno, sobretudo no ensino básico, é muito grande e maior do que era há uns anos. Não nos atirem areia para os olhos porque estes resultados não significam uma melhoria real das aprendizagens”. Onde está a convergência?
E, finalmente, as conclusões de José Manuel Fernandes, director do jornal: “uma grande parte dos professores, talvez a maioria, afirma ou dá a entender que ensinaria melhor se o ministério atrapalhasse menos”; “há instruções para chumbar menos alunos, houve exames mais fáceis e aumentou-se tanto a burocracia que é quase preciso ser um herói para, como se diz em eduquês, "reter" uma criança ou um adolescente”; “ficámos a saber que Portugal é um dos países da União Europeia onde se dedica menos tempo ao ensino da língua pátria e da Matemática, precisamente as duas cadeiras centrais, básicas, de qualquer currículo escolar; ou que os docentes portugueses de todos os níveis de ensino são os que dão mais horas de aulas e os que mais tempo têm de permanecer nas escolas, razão por que é provável que sejam dos que têm menos tempo para preparar as aulas e dos que mais horas gastam a preencher papéis e a desempenhar funções burocráticas”. O director do Público não perde, aliás, tempo e conclui: “Num país onde os níveis formais de qualificação da população continuam ao nível dos da Turquia (só 28 por cento da população entre os 25 e os 64 anos completou o ensino secundário), este teatro político não é uma comédia, é uma tragédia que pagaremos muito caro no futuro.”
Veremos, nesse futuro, de que lado está a razão. Mas não se augura nada de bom. E as respostas dos 85 professores, que não falaram em reivindicações salariais ou sociais, são elucidativas quanto à preocupação de cumprimento profissional, contrariamente à ideia que, ao longo do ano lectivo passado, se gerou dessa mesma profissão. Na educação, o pensamento do futuro deveria ser mais risonho, mesmo porque educar é também uma forma de acalentar a esperança. Infelizmente, como também se antevê do conjunto de trabalhos do Público, o mais importante do ano lectivo que se inicia vai ser a burocracia. Que não tem encanto, não tem grandes compatibilidades com a educação e, como se sabe, tem sido uma das responsáveis pelo atraso do país!
Qualquer uma das quatro respostas dá bem a ideia do ambiente que se está a viver nas Escolas. Hoje, uma colega dizia-me que, no ano lectivo anterior, o que se viveu foi o agudizar do confronto entre o Ministério e os professores, mas que aquilo que se vai verificar a partir de agora é a tensão dentro das escolas. Terá valido a pena? Que exemplos podem passar para aqueles em cujo processo educativo estamos embrenhados?
Os vários textos do Público vão ainda mais longe. E não deixa de ser significativo verificar que “Portugal é o país da União Europeia que, ao nível do 2.º ciclo do básico, dedica menos tempo ao ensino da língua e da Matemática. No 3.º ciclo (7.º, 8.º e 9.º anos) apenas a Holanda apresenta uma percentagem da carga horária inferior.” Andou a gente a assistir a essa celebração do acordo ortográfico para quê? Tem andado a gente a sujeitar-se às teorias das disciplinas para tudo e para nada, que cortam em áreas essenciais e surgem como invenções e ocupações dos tempos para quê, quando já toda a gente viu que daria imenso jeito que algumas áreas curriculares pura e simplesmente desaparecessem e dessem lugar a tempos para Língua Portuguesa, Matemática e outras disciplinas? Bom exemplo de identidade a partir da escola!...
Também é curiosa a leitura dos resultados finais. Segundo a Ministra da Educação, "é um facto que os resultados melhoraram e isso significa que mais alunos têm um percurso escolar regular, que transitaram de ano. É isso que se espera das escolas, é isso que se espera dos professores, foi isso que as escolas e os professores fizeram nos últimos anos: trabalhar intensamente, de uma forma diligente, esforçada, para melhorar os resultados". Segundo o Primeiro-Ministro, “os bons resultados [devem-se] às políticas que apostam na Educação”. Segundo Paulo Feytor Pinto, da Associação dos Professores de Português, “a carga burocrática quando se pretende reter um aluno, sobretudo no ensino básico, é muito grande e maior do que era há uns anos. Não nos atirem areia para os olhos porque estes resultados não significam uma melhoria real das aprendizagens”. Onde está a convergência?
E, finalmente, as conclusões de José Manuel Fernandes, director do jornal: “uma grande parte dos professores, talvez a maioria, afirma ou dá a entender que ensinaria melhor se o ministério atrapalhasse menos”; “há instruções para chumbar menos alunos, houve exames mais fáceis e aumentou-se tanto a burocracia que é quase preciso ser um herói para, como se diz em eduquês, "reter" uma criança ou um adolescente”; “ficámos a saber que Portugal é um dos países da União Europeia onde se dedica menos tempo ao ensino da língua pátria e da Matemática, precisamente as duas cadeiras centrais, básicas, de qualquer currículo escolar; ou que os docentes portugueses de todos os níveis de ensino são os que dão mais horas de aulas e os que mais tempo têm de permanecer nas escolas, razão por que é provável que sejam dos que têm menos tempo para preparar as aulas e dos que mais horas gastam a preencher papéis e a desempenhar funções burocráticas”. O director do Público não perde, aliás, tempo e conclui: “Num país onde os níveis formais de qualificação da população continuam ao nível dos da Turquia (só 28 por cento da população entre os 25 e os 64 anos completou o ensino secundário), este teatro político não é uma comédia, é uma tragédia que pagaremos muito caro no futuro.”
Veremos, nesse futuro, de que lado está a razão. Mas não se augura nada de bom. E as respostas dos 85 professores, que não falaram em reivindicações salariais ou sociais, são elucidativas quanto à preocupação de cumprimento profissional, contrariamente à ideia que, ao longo do ano lectivo passado, se gerou dessa mesma profissão. Na educação, o pensamento do futuro deveria ser mais risonho, mesmo porque educar é também uma forma de acalentar a esperança. Infelizmente, como também se antevê do conjunto de trabalhos do Público, o mais importante do ano lectivo que se inicia vai ser a burocracia. Que não tem encanto, não tem grandes compatibilidades com a educação e, como se sabe, tem sido uma das responsáveis pelo atraso do país!
1 comentário:
«Quanto à organização do tempo de trabalho dos professores, o relatório da OCDE mostra que os docentes portugueses de todos os níveis de ensino são os que dão mais horas de aulas e os que mais tempo têm de permanecer nas escolas. Isto apesar de o seu horário de trabalho global ser ligeiramente inferior ao da média da OCDE e da União Europeia».
Agora? Obrigada!!!!
Teríamos precisado destas verdades há uns tempos atrás, mas nessa altura andava muito boa gente encantada com a ideia dos professores irem finalmente perder as suas regalias(!) ...
O argumento (que até parecia sério)era que havia "coisas" a mudar na escola. Sim, de todo, mas não "estas" que mudaram.
Enfim ... os que podem comentar e ser ouvidos, poderão também recorrer ao privado quando as coisas correrem para o torto.
Não será esta a ideia?
MCT
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