Hoje, Rogério Fernandes faria 78 anos. Coincidentemente, hoje, em Palmela, no cine-teatro S. João, foi inaugurada a exposição “Rogério Fernandes – Vida e Obra – 1933/2010”, integrada no programa da Recepção à Comunidade Educativa, promovido pela Câmara Municipal de Palmela.
A exposição, resultante de parceria entre a Universidade Lusófona e a Fundação Calouste Gulbenkian, perpassa pelas diversas áreas de intervenção em que Rogério Fernandes ficou conhecido: a literatura, o jornalismo, o ensaísmo, a educação, a intervenção cívica e política e a investigação. Além dos painéis concebidos por Henrique Cayatte, o visitante poderá ainda apreciar considerável número de espécimes bibliográficos da obra de Rogério Fernandes nas áreas da investigação, da literatura e da tradução. A abertura da exposição teve ainda a participação de Daniel Pires, do Centro de Estudos Bocageanos, que traçou o perfil do homenageado, abordando não apenas o percurso biográfico, mas também o seu legado, sobretudo na afirmação da Seara Nova.
Recordo o que se passou há pouco mais de 31 anos, quando, em 27 de Maio de 1980, com mais três colegas, entrei no gabinete de Rogério Fernandes, ali para os lados de Picoas. Andávamos às voltas com um trabalho sobre o conto “Idílio Rústico”, de Trindade Coelho, destinado a uma cadeira da Faculdade de Letras orientada pela professora Fátima Freitas Morna. Entre a bibliografia de que obtivemos informação, constava o Ensaio sobre a Obra de Trindade Coelho, de Rogério Fernandes (Lisboa: Portugália Editora, 1961). A rapariga que integrava o grupo obteve o contacto do local de trabalho de Rogério Fernandes e resolvemos telefonar-lhe a pedir um encontro para nos falar sobre o autor transmontano. Acedeu e marcou-se data. Quando lá chegámos, nesse dia 27, Rogério Fernandes recebeu-nos com a oferta de um exemplar da obrinha para cada um de nós, já previamente autografado e com dedicatória individualizada. Fiquei impressionado e comovido com o gesto, porque, estudante universitário que era, ainda no início da licenciatura, não esperava tão especial atenção de um autor, que conhecia já de nome… Mais entusiasmado fiquei depois com a conversa – durante quase duas horas, conversámos sobre Trindade Coelho, sobre a universidade, sobre participação. Rogério Fernandes desfez-se em bonomia, em atenção, em generosidade, em empenho e pediu que, depois, lhe fizéssemos chegar uma cópia do nosso trabalhito…
Cruzei-me mais duas vezes com Rogério Fernandes – uma vez, numa reunião em que se debateu o papel da Inspecção-Geral de Educação, promovida por Marçal Grilo, então Ministro da Educação; outra vez, em Setúbal, em 2005, quando Rogério Fernandes aqui veio palestrar no programa do segundo centenário da morte de Bocage. Em ambas as ocasiões lhe relembrei o fascínio que o seu gesto de 1980 tinha exercido sobre mim e a conversa era acompanhada de um sorriso de bonomia, não sei se por lembrança, se por contentamento de ver a memória do meu fascínio, se porque o relacionamento deve ser apenas assim.
Hoje, tive de lembrar estes fragmentos de vida que me deixaram saudade. E houve uma frase patente no catálogo da exposição que me revelou parte do quase mistério daquele sorriso – “educar é aceitar e respeitar a pessoa, ajudando-a a criar a sua felicidade e a participar na felicidade dos outros.” Na memória, agradeci, uma vez mais, a Rogério Fernandes o privilégio daqueles momentos.
Por tudo o que foi o percurso de Rogério Fernandes, esta exposição não pode passar em vão. Ela pode ser vista naquele espaço até 15 de Dezembro.
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