A falta que os professores não cometeram
«(…) A teoria e a prática da gestão têm avançado no sentido de organizações cognitivas ou inteligentes. A gestão da Educação parece não ter ido nesse sentido. O que é surpreendente, pois a tutela é detentora de um capital intelectual fantástico: o nível de instrução do seu pessoal docente.
Por outro lado, a audição dos envolvidos numa dada estrutura, quando o gestor pretende tomar medidas geradoras de mudança, torna‐se uma prática requerida por concepções teóricas, resultados previsíveis e bom senso social. Não falo de negociação, esta implica a igualdade das partes, em relação à mesma, o que não seria o caso.
Que fizeram, então, os professores para se sentirem ultrapassados nas concepções teóricas, nas boas práticas de gestão e no bom senso? Uns poucos terão andado distraídos, a maior parte, entregue aos seus ideais educativos, desactualizados, parece, sem saberem bem porquê.
(…) Que falta cometeram os professores para verem: os valores saírem da escola? O número de alunos a crescer, na sala de aula, à espera da saída? A aprendizagem a tornar‐se insignificante e os resultados escolares irrelevantes? O esforço, o trabalho e o mérito a abandonarem a escola? Seja qual for a razão, essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores têm salários mais altos que os das profissões correspondentes. – Diz-se. Admita‐se o facto, se ele for verdadeiro; verbalize‐se, pois a língua que apreende e comunica o mundo aproxima e solidariza os cidadãos; também essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores tinham um horário de trabalho liberal e estavam demasiado tempo fora da escola. – Ouve‐se. Fundamente‐se o facto e afira‐se a verdade; compare‐se o que, antes, faziam fora com o que, agora, fazem dentro da escola: talvez os 45% de homens e os 60% de mulheres do sector dos serviços, em Portugal, sintam a profissão do professor mais próxima da sua, mas os pais senti‐la‐ão bem mais longe da educação e da instrução dos seus filhos; também essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores já não ensinam nem os alunos aprendem e sabíamos mais nós com a 4ª classe que eles com o 9º ano. ‐ Exclamam alguns pais. Tire‐se a limpo a situação e a frase; saber‐se‐á do que se fala; concluiremos: a comparação é inverosímil, pois mudaram o tempo, o espaço e as pessoas; também essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores já são inúteis… ‐ Alguém decretou. Resta saber para que tarefas. Para a educação, não; para a instrução, não; para a formação do carácter, da vontade, da perseverança, do esforço, da sublimação, do altruísmo, não; também essa falta, os professores não cometeram.
Quem melhor que eles para conduzir crianças e jovens ao património / ideal educativo, clássico e moderno, em: Dos Deveres, de Cícero ou Da Educação das Crianças de Séneca; Da Natureza das Coisas de Lucrécio ou, mais tarde, do Discurso sobre a Dignidade do Homem, de Pico della Mirandola? Mais próximos de nós, em: Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, de Andre‐Comte‐Sponville ou A Sociedade em Busca de Valores de Edgar Morin e, ainda, Em Busca de um Mundo Melhor, de Karl R. Popper, entre outros. É verdade, também essa falta, os professores não cometeram.
Ai da sociedade cujos pais perderam a pergunta que, desde a Fenícia, iniciava o diálogo pai / filho, de regresso a casa: ‐ Que aprendeste hoje, meu filho, com o mestre, na “casa da tabuinhas” (a escola)?»
Por outro lado, a audição dos envolvidos numa dada estrutura, quando o gestor pretende tomar medidas geradoras de mudança, torna‐se uma prática requerida por concepções teóricas, resultados previsíveis e bom senso social. Não falo de negociação, esta implica a igualdade das partes, em relação à mesma, o que não seria o caso.
Que fizeram, então, os professores para se sentirem ultrapassados nas concepções teóricas, nas boas práticas de gestão e no bom senso? Uns poucos terão andado distraídos, a maior parte, entregue aos seus ideais educativos, desactualizados, parece, sem saberem bem porquê.
(…) Que falta cometeram os professores para verem: os valores saírem da escola? O número de alunos a crescer, na sala de aula, à espera da saída? A aprendizagem a tornar‐se insignificante e os resultados escolares irrelevantes? O esforço, o trabalho e o mérito a abandonarem a escola? Seja qual for a razão, essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores têm salários mais altos que os das profissões correspondentes. – Diz-se. Admita‐se o facto, se ele for verdadeiro; verbalize‐se, pois a língua que apreende e comunica o mundo aproxima e solidariza os cidadãos; também essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores tinham um horário de trabalho liberal e estavam demasiado tempo fora da escola. – Ouve‐se. Fundamente‐se o facto e afira‐se a verdade; compare‐se o que, antes, faziam fora com o que, agora, fazem dentro da escola: talvez os 45% de homens e os 60% de mulheres do sector dos serviços, em Portugal, sintam a profissão do professor mais próxima da sua, mas os pais senti‐la‐ão bem mais longe da educação e da instrução dos seus filhos; também essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores já não ensinam nem os alunos aprendem e sabíamos mais nós com a 4ª classe que eles com o 9º ano. ‐ Exclamam alguns pais. Tire‐se a limpo a situação e a frase; saber‐se‐á do que se fala; concluiremos: a comparação é inverosímil, pois mudaram o tempo, o espaço e as pessoas; também essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores já são inúteis… ‐ Alguém decretou. Resta saber para que tarefas. Para a educação, não; para a instrução, não; para a formação do carácter, da vontade, da perseverança, do esforço, da sublimação, do altruísmo, não; também essa falta, os professores não cometeram.
Quem melhor que eles para conduzir crianças e jovens ao património / ideal educativo, clássico e moderno, em: Dos Deveres, de Cícero ou Da Educação das Crianças de Séneca; Da Natureza das Coisas de Lucrécio ou, mais tarde, do Discurso sobre a Dignidade do Homem, de Pico della Mirandola? Mais próximos de nós, em: Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, de Andre‐Comte‐Sponville ou A Sociedade em Busca de Valores de Edgar Morin e, ainda, Em Busca de um Mundo Melhor, de Karl R. Popper, entre outros. É verdade, também essa falta, os professores não cometeram.
Ai da sociedade cujos pais perderam a pergunta que, desde a Fenícia, iniciava o diálogo pai / filho, de regresso a casa: ‐ Que aprendeste hoje, meu filho, com o mestre, na “casa da tabuinhas” (a escola)?»
J. Esteves Rei. "A falta que os professores não cometeram".
Correio da Educação: nº 344, 16.Abril.2009.
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