Mágoas da escola, de Daniel Pennac (Porto: Porto Editora, 2009, com edição original datada de 2007) é relato autobiográfico e memorialístico do aluno que foi, do professor que veio a ser e do escritor que é Pennac. A escola e os professores vistos pela lupa de um aluno cábula ou as reflexões sobre o(s) sentido(s) da escola constituem motivos suficientemente fortes para esta leitura. Mas há mais: lemos e somos levados a assumir o confronto ou a concordância com o aluno que fomos ou com o docente que somos. Não sei se será um livro de leitura indispensável para os professores, mas que é um livro a ser lido por quem na educação tenha interesse (pais, alunos, políticos, jornalistas, professores, entre outros)… disso não tenho dúvidas. Os relatos e as considerações pensam e retratam, quais espelhos, pistas para que se olhe a escola, as pessoas que a habitam, numa prática em que os métodos, os saberes, as atenções, os progressos, as reformas, as atitudes, a pedagogia e os comportamentos ganham... se houver amor. Tão simples (?) quanto isto! E, seja permitida a quase “intromissão”, Sebastião da Gama já o defendia (e praticava) há 60 anos, conforme está registado no seu Diário.
O que fica
1. “Todo o mal que se diz da escola esquece o número de crianças que salvou das taras, dos preconceitos, do desprezo, da ignorância, da estupidez, da cupidez, do imobilismo ou fatalismo das famílias.”
2. “O nascimento da delinquência está no investimento secreto de todas as faculdades da inteligência na astúcia.”
3. “Sempre encorajei os meus amigos e os meus alunos mais espertos a tornarem-se professores. Sempre pensei que a escola é feita, em primeiro lugar, de professores. Quem me salvou na escola, senão três ou quatro professores?”
4. “Ensinar (…) é recomeçar até ao nosso necessário desaparecimento como professores. Se não conseguirmos instalar os nossos alunos no presente do indicativo da nossa aula, se o nosso saber e o gosto de o levar até eles não pegarem nesses rapazes e nessas raparigas, no sentido botânico do verbo, a sua existência descambará para as fendas pantanosas de uma carência indefinida.”
5. “Um ano de escolaridade perdido: é a eternidade numa redoma.”
6. “Na sociedade em que vivemos, um adolescente instalado na convicção da sua nulidade (…) é uma presa fácil.”
7. “A presença dos meus alunos depende intimamente da minha: da minha presença na turma toda e em cada aluno em particular, da minha presença na minha disciplina, também, da minha presença física, intelectual e mental, durante o (…) que dura a aula.”
8. “Seja qual for a matéria ensinada, um professor descobre rapidamente que, para cada pergunta feita, o aluno interrogado dispõe de três respostas possíveis: a certa, a errada e a absurda. (…) Classificar [a resposta absurda] – na correcção de um teste escrito, por exemplo – é aceitar classificar seja o que for e, por conseguinte, cometer um acto pedagogicamente absurdo.”
9. “A nossa época assume deveres em prol da juventude: importa ser jovem, pensar jovem, consumir jovem, envelhecer jovem, a moda é jovem, o futebol é jovem, as rádios são jovens, as revistas são jovens, a publicidade é jovem, a televisão está cheia de jovens, a Internet é jovem, os colunáveis são jovens, os últimos baby boomers vivos souberam manter-se jovens, os nossos políticos acabaram por ter de rejuvenescer. Viva a juventude! Glória à juventude! É preciso ser jovem!”
10. “São as marcas que vos dão cabo do juízo, e não os professores! (…) Dão-vos cabo do juízo, do dinheiro, do vocabulário, e ainda do corpo, como um uniforme, transformam-vos em publicidade viva, como os manequins de plástico das lojas! (…) Se as marcas fossem medalhas, os adolescentes das nossas ruas tilintavam como generais de opereta.”
11. “Apresentar a escola como local criminogénico é, em si mesmo, um crime insensato contra a escola.”
12. “São infames aqueles que fazem da juventude mais desgraçada um objecto fantasmático de terror nacional! São a escória de uma sociedade sem honra que perdeu o próprio sentimento de paternidade.”
13. “Em vez de coleccionar e publicar as pérolas dos cábulas, que tanto divertem as salas de professores, devia escrever-se uma antologia dos bons professores. (…) Se, para além do retrato dos professores célebres, esta antologia apresentasse o retrato do inesquecível professor que quase todos nós encontrámos pelo menos uma vez durante a nossa escolaridade, talvez alguma luz nos iluminasse sobre as qualidades necessárias à prática deste estranho ofício.”
14. “Os professores passam o tempo a refugiar-se nos métodos, quando, no fundo, sabem perfeitamente que o método não basta. Falta-lhe qualquer coisa. (…) Amor.”
2. “O nascimento da delinquência está no investimento secreto de todas as faculdades da inteligência na astúcia.”
3. “Sempre encorajei os meus amigos e os meus alunos mais espertos a tornarem-se professores. Sempre pensei que a escola é feita, em primeiro lugar, de professores. Quem me salvou na escola, senão três ou quatro professores?”
4. “Ensinar (…) é recomeçar até ao nosso necessário desaparecimento como professores. Se não conseguirmos instalar os nossos alunos no presente do indicativo da nossa aula, se o nosso saber e o gosto de o levar até eles não pegarem nesses rapazes e nessas raparigas, no sentido botânico do verbo, a sua existência descambará para as fendas pantanosas de uma carência indefinida.”
5. “Um ano de escolaridade perdido: é a eternidade numa redoma.”
6. “Na sociedade em que vivemos, um adolescente instalado na convicção da sua nulidade (…) é uma presa fácil.”
7. “A presença dos meus alunos depende intimamente da minha: da minha presença na turma toda e em cada aluno em particular, da minha presença na minha disciplina, também, da minha presença física, intelectual e mental, durante o (…) que dura a aula.”
8. “Seja qual for a matéria ensinada, um professor descobre rapidamente que, para cada pergunta feita, o aluno interrogado dispõe de três respostas possíveis: a certa, a errada e a absurda. (…) Classificar [a resposta absurda] – na correcção de um teste escrito, por exemplo – é aceitar classificar seja o que for e, por conseguinte, cometer um acto pedagogicamente absurdo.”
9. “A nossa época assume deveres em prol da juventude: importa ser jovem, pensar jovem, consumir jovem, envelhecer jovem, a moda é jovem, o futebol é jovem, as rádios são jovens, as revistas são jovens, a publicidade é jovem, a televisão está cheia de jovens, a Internet é jovem, os colunáveis são jovens, os últimos baby boomers vivos souberam manter-se jovens, os nossos políticos acabaram por ter de rejuvenescer. Viva a juventude! Glória à juventude! É preciso ser jovem!”
10. “São as marcas que vos dão cabo do juízo, e não os professores! (…) Dão-vos cabo do juízo, do dinheiro, do vocabulário, e ainda do corpo, como um uniforme, transformam-vos em publicidade viva, como os manequins de plástico das lojas! (…) Se as marcas fossem medalhas, os adolescentes das nossas ruas tilintavam como generais de opereta.”
11. “Apresentar a escola como local criminogénico é, em si mesmo, um crime insensato contra a escola.”
12. “São infames aqueles que fazem da juventude mais desgraçada um objecto fantasmático de terror nacional! São a escória de uma sociedade sem honra que perdeu o próprio sentimento de paternidade.”
13. “Em vez de coleccionar e publicar as pérolas dos cábulas, que tanto divertem as salas de professores, devia escrever-se uma antologia dos bons professores. (…) Se, para além do retrato dos professores célebres, esta antologia apresentasse o retrato do inesquecível professor que quase todos nós encontrámos pelo menos uma vez durante a nossa escolaridade, talvez alguma luz nos iluminasse sobre as qualidades necessárias à prática deste estranho ofício.”
14. “Os professores passam o tempo a refugiar-se nos métodos, quando, no fundo, sabem perfeitamente que o método não basta. Falta-lhe qualquer coisa. (…) Amor.”
1 comentário:
Obrigada, amigo, pela sugestão.
Hoje, mais do que nunca, acredito que pelo Amor é que vamos.
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