A notícia é do Público. E a adesão dos franceses à obra camiliana pode deixar-nos satisfeitos pelo reconhecimento de um dos nossos escritores em França, mas deve deixar-nos descontentes pelo pouco que pela sua obra se tem feito, designadamente no âmbito dos programas escolares. Camilo continua a ser um mestre - da escrita e do conhecimento e retrato da sociedade portuguesa. Continua a ser acutilante nas suas críticas e apreciações, quer dizer: é actual.
Camilo Castelo Branco deveria ser de leitura obrigatória. Obrigatória, insisto.
Imagino que Eco, Padura e Sepúlveda se sentirão honrados por acompanharem o nome de Camilo na lista dos mais vendidos...
Já agora, que razão terá levado o Público a mencionar o título de Sepúlveda em francês, quando temos esse título já traduzido para português?
[Foto: busto de Camilo Castelo Branco em Seide,Vila Nova de Famalicão]
3 comentários:
A propósito de Os Mistérios de Lisboa posto em cinema pelo Ruiz eis o que conto.
Há a velha "portuguesada" de comparar Camilo e Eça. Ora, os dois homens da pluma pertencem a épocas diferentes, "formaram-se" literariamente em campos distantes, viveram diversas experiências pessoais, pisaram mundos e sociedades nem paralelas nem demonstrativas de qualquer semelhança.
Li o Amor de Perdição pelos meus 11 anos, depois, as Cenas da Foz, o Eusébio Macário, A Corja, A Queda de um Anjo e outros e só me cheguei aos Mistérios mais tarde, já depois de ler e entusiasmar-me com o Eça.
Tive como companheiro no defunto "Liceu Salazar" - defunto como Liceu e como o seu patrocinador, defunto como o passado que se foi obrigado a deixar numa mala velha num porão afogado em lama e em pedaços de vidas - um descendente de Camilo, o Jorge Castelo Branco Graça: apreciador de leitura, de arroubos fantasistas e de efabulações que em nada ficavam a dever às do antepassado unindo divagações e realidades do quotidiano. Assim, em 1955, conheci a irmã, a Ana Maria Plácido; ela, os nossos filhos e netos deram-me entrada na família Castelo Branco, sangue que documenta lampejantes gotas de loucura e de humanidade que o grande novelista fixou, preto sobre o branco, como nenhum outro escritor português.
No tempo em que Os Mistérios se estrearam na Cinemateca era sua directora a Dr.ª Maria João Seixas (não sei se ainda se mantém no cargo nem cuido de saber porque, já se sabe, muda o governo e logo há uma enxurrada de mudanças para que a giga-joga partidária rode pelos alcatruzes da nora, uns chorando de desgosto ao serem despedidos enquanto sobem outros, contidos na alegria que no entanto se lhes rebola no olhar vivo, o de vencedores).
Apesar de conterrâneo da Sr.ª Dr.ª Maria João Seixas, a diferença de idades e de situação social - o pai dela, o Eng.º Seixas, era chefe do meu nos Caminhos de Ferro - fez com nunca nos cruzássemos, excepto uma vez - creio que na Sociedade de Estudos (?) em L. M., hoje Maputo - numa sessão de Poesia (?) em que uma jovem do círculo em que se encontrava a Dr.ª Maria João Seixas, leu um poema arrojado, daqueles de deixar o queixo caído às almas, corações e agonias das gentes bem educadas, formais e hipócritas da burguesia "laurentina".
Ora, acontece que a Cinemateca nos convidou para a antestreia de Os Mistérios… Lá fomos; estava uma sala bem composta; à chamada faltou o nosso filho Miguel que se encontrava na antigamente chamada Indochina em campanha de recolha de informes para o doutoramento.
Tudo correu pelo melhor, os artistas do filme e o produtor Paulo Branco receberam palmas e a Sr.ª Directora da Cinemateca agradeceu, primeiramente, à então Ministra da Cultura Gabriela Canavillas a sua presença na sala e, para meu espanto, a Senhora Ministra não ouviu, sequer, o mais discreto cumprimento.
A sala ficou muda. Não foi o silêncio do medo, antes o reflexo de um completo e cáustico desencanto.
Percebi muito claramente que o governo Sócrates estava em estertor e que em Lisboa se perdera toda e qualquer consideração pelos governantes, como, aliás, já acontecera muita vez desde a chegada do Liberalismo e da entronização da burguesia, essa mancha de óleo queimado e queimante que nos sufoca tanto ou mais do que as nojentas e selváticas hordas ditatoriais.
O silêncio das palmas foi cortado por outro agradecimento da Dr.ª M. J. Seixas. Olhando a fila em que nos encontrávamos agradeceu a presença da Ana Maria, trineta do casal de escritores, Camilo-Ana Plácido.
A Ana enterrou-se, ainda mais, na cadeira, levantou a medo o braço direito como que agradecendo a homenagem ao antepassado enquanto a sala vincava o "vibrato" das palmas.
O texto vai imenso pelo que me fico por aqui. Foi um minuto, pelo menos um, de emoção na homenagem a Camilo que partiu há 120 anos e cuja arte continua a enredar os leitores e, ainda, os espectadores do cinema feito com base nos seus textos. Dessa feita Os Brocas estiveram presentes. VW
É SÓ PARA LEMBRAR Q O REALIZADOR CENTRO-AMERICANO(?) SE FINOU HÁ POUCOS DIAS...COMO TAL RECEBEU TODOS OS ELOGIOS DO MUNDO...E AQUI ESTÁ O MEU!
aqrosa
O REALIZADOR ERA CHILENO (faleceu a 19) LOGO SUL-AMERICANO,DESCULPE A IGNORANCIA...
aqrosa
Enviar um comentário