Na crónica “Ao pé da letra” publicada na revista “Actual”, no Expresso de ontem, António Guerreiro voltou a reflectir sobre o vazio de significado que algumas palavras transportam, tomando o caso de nomes com que, nos últimos tempos, se tem feito o ramalhete da crítica ao sistema educativo – “eduquês” e “facilitismo”, termos fáceis para esconder as razões menos boas no próprio sistema.
No mesmo saco mete Guerreiro o lamento por Camilo não integrar os programas do ensino secundário, no que me parece ser um “esticar a corda” desnecessário, mesmo tendo em conta as considerações que faz para as ausências da escrita camiliana.
Lamentar o silêncio sobre Camilo Castelo Branco nos programas escolares não pode ser visto apenas como algo pertencente ao grupo das “palavras de ordem”. A retirada é facilmente demonstrável, o que não acontece com os outros termos apresentados. No entanto, é forte o que é dito para explicar a ausência de Camilo: não é só dos programas, mas também do mundo da edição e, consequentemente, das livrarias.
De vez em quando lá vão surgindo umas edições de obras camilianas, por vezes até de custo bastante acessível. O que acontece é que vão sendo acontecimentos avulsos, devorados pelas novidades e pelas publicidades, muitas vezes sem direito a lugar nos escaparates.
A escola deve ser superior aos modismos, é verdade. Mas também é preciso que os programas escolares o sejam. E, nestas coisas, os cânones valem muito. Dependendo de por quem e como são estabelecidos. Ler Camilo na escola não pode ser um acto de missionação ou de gosto de um determinado professor, mas deve ser uma questão de obrigatoriedade. Quer pela literatura, quer pela identidade cultural.
A pergunta com que Guerreiro conclui a sua crónica é avassaladora, sobretudo pelo que sugere. É necessário que as instituições honrem o seu estatuto, é indispensável que a escola seja o território do saber, da cultura e da identidade. Camilo desancaria forte e acutilantemente nesta escola que omite os clássicos da sua cultura, estou certo!
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