Um mapa do concelho de Terras de Bouro indica, bem próximo da vila de Gerês, o “Banco de Ramalho Ortigão”. No entanto, na estrada, não há qualquer registo do monumento. Em conversa com um natural, fica-se a saber da localização – no lugar de Assureira, num jardim com ar abandonado, junto de uma rotunda, à esquerda de quem desce do Gerês para Rio Caldo. “Mas olhe que vai encontrar aquilo em mísero estado, ninguém conserva aquilo, tem sido destruído, já partiram parte da obra, mas ainda lá há uma inscrição.”
Aquilo terá sido espaço ajardinado e terá sido cuidado… há muito tempo, embora haja marcas de limpeza florestal recente. O banco lá permanece, com marcas evidentes de vandalismo, já sem a tal inscrição. “Até isso desapareceu há uns tempos… Sei lá se foi por ser em bronze…”, comenta outro local.
Muitas considerações poderiam ser feitas a partir daqui quanto ao estado do património ou quanto à responsabilidade de quem detém os espaços públicos. Aliás, os dois interlocutores confessavam que, desde que aquele espaço passou para a responsabilidade do Parque [Nacional da Peneda Gerês], a degradação do sítio tem sido crescente.
Ramalho Ortigão não se sentou naquele banco. Tendo falecido em 1915, a peça escultórica, com a assinatura de Raul Lino, só seria inaugurada em 1920, por iniciativa da Sociedade de Propaganda de Portugal, para homenagear o escritor. Ramalho Ortigão era visita do Gerês e escreveu sobre aquela região e sobre as suas termas. Amante das caminhadas, conta-se que as fazia longas e, no sítio onde foi implantado o monumental “Banco de Ramalho Ortigão”, costumava ele sentar-se sobre uma pedra, tendo sob o alcance da vista a paisagem do Rio Caldo.
Quanto à inscrição contida na placa, o seu texto contava a história e ainda se consegue ler na net (num blogue) a transcrição: “Em umas toscas pedras que os frequentadores do Gerez chamavam os bancos do Ramalho costumava vir aqui sentar-se lendo e escrevendo o notável escritor José Duarte Ramalho Ortigão que tanto honrou a sua terra e tanto quis a esta região. A Sociedade de Propaganda de Portugal no mesmo lugar mandou levantar-lhe esta singela homenagem delineada pelo arquitecto Raul Lino de Lisboa no ano de 1920”.
Assim, vale a pena que o mapa editado pela Câmara Municipal de Terras de Bouro indique a existência do “Banco de Ramalho Ortigão”, podendo o visitante conhecer uma obra de Raul Lino, manter a memória dessa figura importante da cultura do século XIX que foi Ramalho e… contemplar o que vai havendo de incúria e de menosprezo neste país! Que boa “farpa” estes quotidianos merecem!...
[fotos: Banco do Ramalho Ortigão em postal sem data e na actualidade]
1 comentário:
Estive lá um destes dias e notava-se já alguma recuperação do espaço e do banco... Da placa, nem sombra.
Enviar um comentário