Depois de ler A instalação do medo, de Rui Zink
(Lisboa: Teodolito, 2012), alguns sublinhados, mesmo porque se prende com uma
desconstrução (mais ou menos parodística) do que tem sido o discurso político
que nos tem embalado (ou que nos tem sido inoculado), apresentadas por ordem
alfabética do tema.
Crise – “A ‘crise’ é sempre ‘económica’. As ‘reformas’ são sempre ‘estruturais’.
O ‘futuro’ é sempre ‘melhor’. Ou ‘para os nossos filhos’. As ‘medidas’ são
sempre ‘necessárias’. Se não fossem necessárias não seriam medidas. Não há
alternativa. (…) Os outros fazem política. Nós não fazemos política. A nossa
política é a virtude. A nossa política é o trabalho. A nossa política é o medo.”
Espectáculo – “Todo o espectáculo, por melhor que seja, tem um
prazo de validade e não devemos fatigar o auditório com encores. O artista que sai de cena deixando a plateia a implorar só mais uma, só mais uma é sensato, ao
contrário do que se deixa levar pela ilusão do aplauso e acaba a saturar os
ouvidos das pessoas que, minutos antes, pareciam enlouquecidas pelo desejo.”
Ignorância – “A ignorância por vezes pode ser uma excelente camada
protectora.”
Medo – “Um dos muitos efeitos do medo é deixarmos de controlar os
intestinos, é por aí que o medo primeiro nos apanha.”
Mundo (em mudança) – “O mundo mudou e as pessoas não percebem isso.
Já não há pessoas nem há mundo e as pessoas (talvez por já não existirem) não
percebem isso. E quem tentar compreender o mundo é idiota. Qual o sentido de
tentar entender uma coisa que já não existe? O mundo mudou. Mas como pode o
mundo mudar se as pessoas não mudam? Ou como pode o mundo mudar se as pessoas não
o sentem? O certo é que factos são factos e contra factos não há mundo ou
pessoas que resistam.”
Suplício – “Até o mais breve dos suplícios dura uma eternidade.”
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