No domingo, encerrou a exposição de pintura de Sebastião Fortuna, que esteve patente na igreja de S. João, em Palmela. Não estive presente no encerramento, mas visitei-a no dia anterior, em que pude aproveitar uma viagem guiada por todos os quadros através do dizer e do sonho do pintor, privilégio trazido por uma tarde fria, de poucas saídas e com outras opções.
Conheço o Sebastião Fortuna há quase três décadas e sempre o vi como o homem que se enreda nos sonhos, nas histórias… e na tentativa de concretização de tudo o que idealiza. Cada um dos quadros expostos foi pretexto de uma narrativa, indo muito para lá do contar como ou porque nasceu; foi, antes, uma motivação para deambular pelas palavras, pelas ideias e pelos símbolos, assim como quem governa o seu barco no rio, construindo a viagem e tomando conta dela, ou como quem idealiza espaços ou tempos, vidas.
Cada título de um quadro de Sebastião Fortuna é a entrada para um poema. Ou é um poema mesmo que ele vai desfiando enquanto fala dos seus pintares. Longe dos títulos abstractos e inóquos, as palavras que Fortuna escolhe para denominar (e explorar ou explicar) as suas telas comprometem-se com a simplicidade e com o sentir, obrigando a leituras plurais e ao encontro com valores. Foi por isso que tive de lhe dizer que ele não poderia passar sem registar esses poemas por escrito. “Pois, eu sei…” E a gente vai esperando. E, quando se deixou fotografar junto ao quadro “Eu gosto das piteiras”, comentou: “Como não hei-de gostar? Está a ver? Elas são altas, verticais, seguras… Como se deve ser na vida… Eu gosto de piteiras!”
Sem comentários:
Enviar um comentário