* “O que é o passado? Isto: tempo que cada vez ocupa menos espaço (…). O presente – agora, este momento –, pelo contrário, ocupa todo o espaço que nos rodeia.” (est. 2)
* “Tudo é único e diverso na natureza. Ninguém quer equilíbrios numa floresta.” (est. 17)
* “Os homens fazem sempre o papel de turistas quando próximos da água.” (est. 26)
* “A hipocrisia é das velharias mais difíceis de o homem se livrar; apegou-se ao homem como o lixo ao trapo já sujíssimo de pó.” (est. 28)
* “Nem mesmo os santos, que não sejam mentirosos, têm o passado límpido. A suavidade permanente não é terrestre, é, sim, mentira, e falsa: ninguém acredita.” (est. 39)
* “O veneno, quando enviado em forma bela, é recebido como um condimento pacífico.” (est. 52)
* “Os amigos são animais como os outros. Muito mais inofensivos são os inimigos, pois mantêm-se longe, por medo da nossa arma ou preparando armadilhas que já esperamos, enquanto os amigos, esses, cheiram ombro a ombro a mesma flor que nós, dividindo, pela proximidade, a alegria que o mundo atira para um metro quadrado de jardim. / E os amigos dão conselhos, o que é perigosíssimo. Inimigos acumulam ameaças, mas essas suportam-se bem. (…) As ameaças dos inimigos são pois os verdadeiros conselhos.” (est. 53/54)
* “A ética não é assunto de células, envolve sim a vontade, a decisão inequívoca de avançar por um lado e não por outro.” (est. 64)
* “Somos inseparáveis do nosso pior. Pode-se fingir durante anos, mas cada um é inseparável da sua maldade. (…) A vida é desleal para os vivos porque ninguém se conhece por completo.” (est. 84)
* “Quando sozinhos e com os nossos hábitos não nos defendemos. Não há esconderijo para um homem que está feliz. E mais facilmente é caçado um cidadão apaixonado que um coelho num campo deserto.” (est. 87)
* “O dinheiro torna os homens previsíveis, como a galinha que segue até ao fim dos dias uma linha recta traçada no chão. O dinheiro existe nas montanhas, planícies, cidade e campo. Destrói reis, carpinteiros e santos. (E quando não há, ainda destrói mais.)” (est. 97)
Gonçalo M. Tavares. Uma Viagem à Índia. Alfragide: Leya / Caminho, 2010.
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