“Pela minha parte, sinto-me feliz por, de algum modo, me ter sido dado contribuir para essa realidade e poder dizer à terra onde nasci: Aqui está o Museu!” Foi com estas palavras que, em Janeiro de 1961, João Botelho Moniz Borba concluiu o seu discurso na inauguração do Museu de Setúbal, velha aspiração local. A partir de 21 de Junho desse ano, este homem, autodidacta em museologia, dirigiu o Museu por um período de quase 17 anos, até ao seu falecimento, em 12 de Dezembro de 1977.
A história surge contada pelo filho deste fundador, Francisco Moniz Borba, na obra recentemente apresentada ao público Museu de Setúbal e o seu fundador João Botelho Moniz Borba (Setúbal: ed. Autor, 2010), álbum que traz para a memória o que foi o Museu de Setúbal durante esse tempo.
O volume, de quase três centenas de páginas, passa por uma biografia de João Borba (de onde não anda arredada a memória do seu autor, como quando lembra que o pai “contava em casa as pequenas descobertas” que ia fazendo), pela apresentação das instalações que o Museu utilizou (minuciosamente pensadas e esquematizadas pelo fundador), pela evocação da actividade do Museu (que, no período entre a sua abertura, em 1961, e 1977 – descontando cinco meses para obras –, teve uma média de 7187 visitantes anuais e uma assinalável diversidade de acções, entre as exposições – em que se contaram artistas como Fernando Santos, Álvaro Perdigão, Celestino Alves, Morgado de Setúbal, Lima de Freitas, entre muitos outros –, os concertos e as conferências), por divulgação de correspondência com João Borba, pela reprodução de quatro textos escritos por João Borba ("Fragmento de vitral da Igreja de Jesus de Setúbal", 1975; "Pequena notícia sobre o Museu de Setúbal e a conservação das suas obras de arte"; "A utilidade das gipsotecas – A gipsoteca do Museu de Setúbal", 1974; "Os sinos medievos da Igreja de Jesus de Setúbal", 1976) e por dados relativos ao património do Museu (incluindo a reprodução fotográfica das fichas individuais de cada peça de pintura religiosa, ourivesaria e gipsoteca, registos meticulosos de João Borba, com as características das obras, referências bibliográficas e história respectiva – proveniência e trânsito por exposições, restauros, etc.)
A obra contém ainda um dvd, em que, além da reprodução das fichas que figuram no livro, divulga o espólio para as áreas da escultura, pintura, desenho e gravura, reproduzindo as respectivas fichas elaboradas por João Borba. De fora ficaram as indicações do suporte livro, apesar de constar o registo da quantidade de items de cada uma das bibliotecas existentes no Museu – arquivo histórico da Misericórdia (1294 volumes), biblioteca Olga Moraes Sarmento (1654 volumes), biblioteca Garcia Perez (4629 volumes), biblioteca Correia da Costa (4264 volumes) e biblioteca do Museu (64 volumes).
A utilidade desta obra não se discute, tão oportuna ela é pelo que traz de volta aos setubalenses e aos estudiosos (haja em vista que o Museu de Setúbal tem, desde há anos, um reduzidíssimo espaço aberto ao público) e pelo contributo que constitui para a memória (seja pelas informações relativas a João Moniz Borba, seja pelos dados alusivos ao Museu, às pessoas que o ergueram e às peças que o constituíam).
Aos setubalenses (e aos visitantes da região) resta esperar que o Museu se reafirme e que a sua menção deixe de ser um eufemismo, ainda que explicado a partir do que (não) tem sido a conservação do Convento de Jesus que o alberga. A propósito, referindo-se à recuperação do Convento de Jesus, na edição do mensário sadino O Sul, de Outubro, o Secretário de Estado da Cultura Elísio Summavielle admitiu que, "dentro de dois a três anos, o monumento esteja utilizável"
5 comentários:
Obra essencial para a cultura setubalense e não só !
João Botelho Moniz Borba, uma figura inesquecivel que bem merece a homenagem que este livro lhe presta.
João Botelho Borba foi uma figura importante e incontornável para o início do museu e para os seus primeiros anos, sem dúvida, mas o Museu não parou em 1977 como este livro erradamente fará pensar. As colecções estão muito maiores e não se resumem, nem por sombras, às fichas feitas pelo homenageado. Essas colecções continuaram a ser estudadas e o Museu tem ao dispor dos investigadores muito mais informação do que teria em 1977. Foram já muitas as contribuições para a educação cultural dos estudantes da cidade e para a história espositiva da cidade, isso tudo após 1977, como aliás qualquer pessoa minimamente informada, ou que se interesse de facto por o ser, sabe. O investimento de trabalho e meios na conservação e resturo dos bens desse Museu, que se efectua desde os primeiros anos da década de 90, tem tido um crescendo e uma intensificação na última década, não apenas nos bens que são propriedade do Estado ou da CÂmara, mas também nos bens depositados e da propriedade da Santa Casa. A falta de salas abertas não é sinónimo de Museu fechado e parado.
Cara "cidadã interessada",
No texto que escrevi, surge claro que o livro pretenderá contar o que foi o Museu durante o tempo em que João Botelho Borba o dirigiu. Só. Visará, portanto, uma parte da história do Museu...
Obrigado pelas informações que acrescenta, relativas ao pós-1977.
No entanto, a "falta de salas abertas", perante o público, torna o Museu num eufemismo... ainda que não se duvide do trabalho que lá possa ser feito. A "falta de salas abertas" não será, porventura, uma boa marca de um museu...
Uma outra coisa é o conjunto das causas que levaram a tão pouco espaço aberto desde há anos, história que eu não sei contar.
Sabe-me dizer como posso adquirir esta obra uma década depois de ser editada?
Grato desde já,
Miguel Martins de Sousa
Caro Miguel Martins de Sousa, ainda há possibilidade de adquirir esta obra. Poderei enviar-lhe a indicação via email, se me contactar: joaoreisribeiro@sapo.pt
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