A Manuel Medeiros foi atribuído, na tarde de hoje, o título de “doutor honoris causa” pela UNISETI de Setúbal. Por razões profissionais, não pude estar presente e não sei o que lá foi dito. Não é já a primeira vez que Manuel Medeiros tem homenagem em Setúbal, felizmente. Mas, para lá das homenagens de pompa e circunstância que as instituições lhe vão promovendo, creio que o melhor reconhecimento devido a este açoriano é o da visita ao seu recanto de trabalho, ninho de saber(es), ponto de encontro com o universo, a livraria Culsete, em Setúbal.
Se digo isto, é porque, já antes de ter vindo viver para Setúbal, frequentava o recanto deste livreiro, que agora teima em ser o Livreiro Velho. Por lá tenho continuado a passar e a descobrir. Pessoas, livros, ideias, momentos de revelação. Porquê? Porque o Manuel Medeiros faz de cada livro uma festa, porque ele nos leva pelo meio dos livros como quem passeia numa biblioteca e não como quem poderia vender salsichas ou automóveis. Porque na Culsete conheci muita gente, convivi com muita outra, mantive conversas com amigos, participei em debates, assisti a apresentações, aprendi. Porque tanto me posso cruzar com a poesia como com o ensaio, com a ficção como com a divulgação, com as enciclopédias como com os fait-divers. Porque o Manuel Medeiros vai cumprimentando os livros como quem se cruza com as palavras pelo passeio, vai falando dos autores como se estivéssemos em tertúlia no café mais próximo, vai levando os visitantes pelas teias dos conteúdos, muito mais do que pelos fascínios do material, vai separando aquilo que é papel do que é um livro, vai escrevendo a sua história e vai abrindo as portas das inscrições e da memória. Já lá levei outros, já lá levei alunos. Continuo a sentir o fascínio da entrada pelos livros a partir de uma livraria como a do Manuel Medeiros, em grande parte devido ao cicerone que ele teima ser.
É excesso isto? Não, de todo. Apenas reconhecimento por um trabalho criterioso, por uma prestação cultural que muito dignifica Setúbal.
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