Há dias, li a mensagem do Mata Fernandes sobre a sua entrada no tempo da aposentação. É um misto de sensações contraditórias, que se sente em quem gostou de ser professor, em quem poderia continuar a ser professor, em quem parte, na senda do descontentamento e da tristeza geral que estão instalados no meio docente.
Curiosamente, isso é sentido pelos próprios alunos. Ontem, numa turma de 9º ano, os alunos diziam-me que, na próxima quinta-feira, será o derradeiro dia de aulas da sua professora de uma dada disciplina e a última aula será com eles. Perguntavam-me se achava bem fazerem-lhe uma festa, com flores e outras coisas… Esta professora acompanhou-os nos dois últimos anos lectivos e mais estes meses do ano que decorre. Conheço a turma suficientemente para acreditar e pensar que não são aquele tipo de grupo que quer festas por tudo e por nada; mas também a conheço por ser uma turma sensível, consciente, participativa e unida. Não houve um aluno que discordasse da ideia. E dei por mim a pensar neste amplo sentido da festa… uma despedida com festa, uma entrada na aposentação com festa.
Não fossem as condições que se estão a viver no ensino e não haveria esta sangria que corre entre os mais velhos; fossem as consequências de um tal acto mais a propósito e a sangria seria muito maior, incrivelmente muitíssimo maior. E assim um grupo profissional se descaracteriza ou se transforma, pela maneira menos interessante e também, provavelmente, pela forma menos respeitável. Não é de fugas que se trata, registe-se; é, antes, um não querer participar na sessão que se anuncia para um tempo a vir.
A tensão emaranha-se nas vidas, o ritmo da escola revela picos de acidez. Continuo a defender que a escola deveria ser um lugar feliz, apesar de ver que esse é um desejo – e um objectivo individual, já agora – cada vez mais utópico e que cada vez menos poderei (poderemos) concretizar. O que está a acontecer? O que tem sido exigido que os professores façam é sinónimo do menor interesse pelo trabalho que os mesmos professores têm desenvolvido até aqui. E não haja piedosas intenções de argumentar com o sucesso, o sucesso, o sucesso, o sucesso, o sucesso. Sempre houve objectivos individuais e sempre houve objectivos de um colectivo, de uma escola. E eles passaram, necessariamente, por cativar os alunos para o saber, para a vida, para a responsabilidade, para o empenho, para o saber-fazer, para o ser. E eles passaram pelas aprendizagens dos alunos e dos professores, pelas pedagogias aplicadas e pelos caminhos encontrados, pelas discussões em grupo e pela procura de formação adequada. Houve muitíssimas mais coisas boas do que más, essa é que é a verdade. Onde aprenderam todos aqueles que hoje governam, que hoje são adultos, que hoje são pais, que hoje são professores? Foi em alguma escola diferente daquela que conheceram até ao momento em que esta amargura começou?
Regresso ao postal do Mata Fernandes: reagindo às mensagens que os colegas de Departamento lhe transmitiram na despedida, afirma acreditar nelas, “sobretudo porque elas foram ditas por todos os meus colegas de departamento que eu vi juntos e determinados a continuar de forma coesa a sua missão de ensinar, apesar de tudo o que foi feito para os separar no último ano em que passámos juntos. Contudo, aqui fica o meu alerta para os anos que aí vêm em que uma avaliação condicionada à partida por quotas pode conduzir não a uma pedagogia partilhada mas a uma competição que pode levar ao individualismo egoísta e selvagem.” Este, sim, corre o risco de vir a ser um objectivo individual, em nada consentâneo com a alegria que a escola deve transmitir. Infelizmente!
Curiosamente, isso é sentido pelos próprios alunos. Ontem, numa turma de 9º ano, os alunos diziam-me que, na próxima quinta-feira, será o derradeiro dia de aulas da sua professora de uma dada disciplina e a última aula será com eles. Perguntavam-me se achava bem fazerem-lhe uma festa, com flores e outras coisas… Esta professora acompanhou-os nos dois últimos anos lectivos e mais estes meses do ano que decorre. Conheço a turma suficientemente para acreditar e pensar que não são aquele tipo de grupo que quer festas por tudo e por nada; mas também a conheço por ser uma turma sensível, consciente, participativa e unida. Não houve um aluno que discordasse da ideia. E dei por mim a pensar neste amplo sentido da festa… uma despedida com festa, uma entrada na aposentação com festa.
Não fossem as condições que se estão a viver no ensino e não haveria esta sangria que corre entre os mais velhos; fossem as consequências de um tal acto mais a propósito e a sangria seria muito maior, incrivelmente muitíssimo maior. E assim um grupo profissional se descaracteriza ou se transforma, pela maneira menos interessante e também, provavelmente, pela forma menos respeitável. Não é de fugas que se trata, registe-se; é, antes, um não querer participar na sessão que se anuncia para um tempo a vir.
A tensão emaranha-se nas vidas, o ritmo da escola revela picos de acidez. Continuo a defender que a escola deveria ser um lugar feliz, apesar de ver que esse é um desejo – e um objectivo individual, já agora – cada vez mais utópico e que cada vez menos poderei (poderemos) concretizar. O que está a acontecer? O que tem sido exigido que os professores façam é sinónimo do menor interesse pelo trabalho que os mesmos professores têm desenvolvido até aqui. E não haja piedosas intenções de argumentar com o sucesso, o sucesso, o sucesso, o sucesso, o sucesso. Sempre houve objectivos individuais e sempre houve objectivos de um colectivo, de uma escola. E eles passaram, necessariamente, por cativar os alunos para o saber, para a vida, para a responsabilidade, para o empenho, para o saber-fazer, para o ser. E eles passaram pelas aprendizagens dos alunos e dos professores, pelas pedagogias aplicadas e pelos caminhos encontrados, pelas discussões em grupo e pela procura de formação adequada. Houve muitíssimas mais coisas boas do que más, essa é que é a verdade. Onde aprenderam todos aqueles que hoje governam, que hoje são adultos, que hoje são pais, que hoje são professores? Foi em alguma escola diferente daquela que conheceram até ao momento em que esta amargura começou?
Regresso ao postal do Mata Fernandes: reagindo às mensagens que os colegas de Departamento lhe transmitiram na despedida, afirma acreditar nelas, “sobretudo porque elas foram ditas por todos os meus colegas de departamento que eu vi juntos e determinados a continuar de forma coesa a sua missão de ensinar, apesar de tudo o que foi feito para os separar no último ano em que passámos juntos. Contudo, aqui fica o meu alerta para os anos que aí vêm em que uma avaliação condicionada à partida por quotas pode conduzir não a uma pedagogia partilhada mas a uma competição que pode levar ao individualismo egoísta e selvagem.” Este, sim, corre o risco de vir a ser um objectivo individual, em nada consentâneo com a alegria que a escola deve transmitir. Infelizmente!
A propósito: votos de uma boa viagem, Joaquim (de quem não fui colega de Departamento, mas a quem me agrada ter visto envolvido na construção da escola e da educação)!
1 comentário:
Escola para ser "escola" tem de ser um lugar feliz!
Por que não poderá ser o 1º dos objectivos individuais de cada professor, «lutar para que tal nunca possa deixar de acontecer»?
MCT
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