Primeira - No final da tarde de 6ª feira, estive na recepção à comunidade educativa promovida pela Câmara Municipal de Palmela, que teve lugar na Escola Básica de 1º Ciclo de Aires (Palmela). Como habitualmente, houve o bem receber por parte da autarquia; como habitualmente, houve a homenagem aos professores que, ao longo do ano lectivo passado, se aposentaram no concelho; como não era habitual, o número de professores nesta última condição atingiu nesta sessão as duas dezenas. Fruto da época, dir-se-á. É claro que sim. Mas entristeceu-me perceber que alguns destes professores continuariam a exercer a sua profissão se não fosse a ideia que se abateu nos últimos tempos sobre a classe docente. Sei isso porque alguns foram meus companheiros de trabalho e sei o quanto à escola e à educação se dedicaram, assim como sei a amargura com que saíram, alguns fazendo anteceder o seu tempo de aposentação, ainda que com prejuízo próprio... É que não estiveram para mais! A homenagem foi um gesto lindo; a razão por que a tiveram foi o percurso de uma vida, muito dele passado no concelho de Palmela; o motivo por que alguns estiveram no lugar de homenageados foi o gesto da sua revolta e da sua indignação.
Segunda - No JL de quarta-feira, quem ocupou a última página, na já habitual secção da "Autobiografia", foi o designer gráfico Armando Alves, nome bem conhecido no mundo das artes e da edição. A gente lê o seu depoimento, intitulado "Voltar à terra", e sente que este homem reconhece que o engenho do seu caminho se ficou a dever, em grande parte... a professores. Estremocense, Alberto Alves relembra mestres que o ensinaram "não apenas pelos ensinamentos que transmitiam, mas, sobretudo, pela grande simplicidade com que o faziam"; recorda mestres que o ajudaram a encontrar o seu rumo - com destaque para Sebastião da Gama, um dos dois professores que ajudaram a convencer os pais do artista "da importância de [o] enviarem para Lisboa para estudar numa escola que desse acesso às Belas-Artes"; memora mestres que o "ajudaram à formação do [seu] carácter e à abertura de conhecimentos no mundo artístico"; evoca mestres que o ensinaram "a desbravar caminho". É uma homenagem à distância do tempo e da saudade? É. Mas é o resultado de marcas para a vida, daquilo que os professores podem transmitir, para lá de toda a oportunidade que seja trazida pela moda, pelo momento, pelas correntes ou pela política. Também é com isto que se homenageiam os professores e, provavelmente, todos teremos pequenas histórias como estas para contar, seja como estudantes, seja já como professores.
1 comentário:
Que ao menos nos reste esse direito, o de sentirmos revolta e indignação!
E com ele, chega-nos algo de muito valioso, o que vamos ouvindo e lendo ...
MCT
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