No Público de hoje, há uma entrevista a Eduardo Lourenço feita por José Manuel Fernandes (do Público) e por Graça Franco (da Rádio Renascença). Aos 85 anos, Eduardo Lourenço reflecte sobre a actualidade e sobre o mundo com a frescura (e também o pessimismo) que o caracteriza(m). Eis sete pensamentos recolhidos dessa entrevista.
Passado – “A fixação no nosso passado é muito de tipo onírico. Mesmo as pessoas menos ilustradas têm impressa a marca do que fomos. Vejam os portugueses emigrados. Na zona onde vivo, Vence, onde os portugueses vieram quase todos da zona de Espinho, quando fazem as suas festas recorrem sempre à simbologia das caravelas. A nossa imagem de marca lá fora ainda é essa, a de gente que descobriu uma parte do mundo. Isso aprende-se na escola, transmite-se oralmente, e ser português é ser o antigo descobridor. E como não temos presente à altura desse tipo de façanhas - nem barcos temos... -, temos imaginação.”
Os dois blocos da Europa – “O maior acontecimento cultural da modernidade europeia foi a revolução protestante que dividiu a Europa em dois blocos. Essa linha continua a passar pelo interior da Europa, a dividi-la. São duas Europas, pois não devemos esquecer que as maiores divisões que há dentro das nações são do tipo religioso.”
Europa e os outros – “[O] problema (…) das minorias muçulmanas é o principal problema do futuro da construção europeia. Ainda não é muito visível, porque são uma minoria, mas a questão é como poderemos resolver, antes da Europa se afirmar em todas as suas dimensões, o problema de relacionamento com uma civilização com a qual, historicamente, sempre nos confrontámos. Não sou apologista das guerras de civilizações, mas elas existem.”
A realidade e a ilusão – “Vivemos hoje tempos melhores do que os que conhecemos no nosso passado recente, e só quem não passou por eles pode desvalorizar esta evolução. Não podemos ser tão pessimistas, talvez tenhamos de reconhecer que os intelectuais, e eu também, sofrem por vezes de um excesso de espírito sonhador, até com uma carga utópica. Depois desiludimo-nos porque a realidade não desaparece e está onde está para nos tirar as ilusões.”
Pós-11 de Setembro – “Foi isso o 11 de Setembro, essa espécie de apocalipse virtual. Entrámos numa zona de tempestades onde nos confrontamos com crises como a que hoje vivemos e que há dez ou vinte anos julgaríamos impossíveis de acontecerem. A nossa surpresa também deriva de estarmos habituados a ver o mundo de acordo com os parâmetros do modelo europeu, um modelo que fomos nós, portugueses, sem o saber, que começámos a difundir, e depois vimos como universal. Já o Fernando Pessoa dizia, "a Europa está em toda a parte". Só que essa "toda a parte" não é a Europa nossa, pelo que o triunfo do nosso modelo não foi tão absoluto como imaginávamos, sobretudo no domínio dos valores e dos comportamentos. Outras culturas foram resistindo e hoje estamos confrontados com os desafios que nos colocam.”
Primeiro, o religioso – “Devíamos ter presente que, por regra, a primeira expressão da Humanidade em cada país é uma expressão do religioso.”
Portugal – “Somos um povo entre os povos, não somos o centro do mundo. Já Camões se tinha apercebido de que éramos uma espécie de milagre... Esse milagre é uma coisa que nos enlouqueceu. Mas todos precisamos de loucura para suportar a vida. Não temos é necessidade de querer estar sempre nas primeiras páginas do mundo.”
Os dois blocos da Europa – “O maior acontecimento cultural da modernidade europeia foi a revolução protestante que dividiu a Europa em dois blocos. Essa linha continua a passar pelo interior da Europa, a dividi-la. São duas Europas, pois não devemos esquecer que as maiores divisões que há dentro das nações são do tipo religioso.”
Europa e os outros – “[O] problema (…) das minorias muçulmanas é o principal problema do futuro da construção europeia. Ainda não é muito visível, porque são uma minoria, mas a questão é como poderemos resolver, antes da Europa se afirmar em todas as suas dimensões, o problema de relacionamento com uma civilização com a qual, historicamente, sempre nos confrontámos. Não sou apologista das guerras de civilizações, mas elas existem.”
A realidade e a ilusão – “Vivemos hoje tempos melhores do que os que conhecemos no nosso passado recente, e só quem não passou por eles pode desvalorizar esta evolução. Não podemos ser tão pessimistas, talvez tenhamos de reconhecer que os intelectuais, e eu também, sofrem por vezes de um excesso de espírito sonhador, até com uma carga utópica. Depois desiludimo-nos porque a realidade não desaparece e está onde está para nos tirar as ilusões.”
Pós-11 de Setembro – “Foi isso o 11 de Setembro, essa espécie de apocalipse virtual. Entrámos numa zona de tempestades onde nos confrontamos com crises como a que hoje vivemos e que há dez ou vinte anos julgaríamos impossíveis de acontecerem. A nossa surpresa também deriva de estarmos habituados a ver o mundo de acordo com os parâmetros do modelo europeu, um modelo que fomos nós, portugueses, sem o saber, que começámos a difundir, e depois vimos como universal. Já o Fernando Pessoa dizia, "a Europa está em toda a parte". Só que essa "toda a parte" não é a Europa nossa, pelo que o triunfo do nosso modelo não foi tão absoluto como imaginávamos, sobretudo no domínio dos valores e dos comportamentos. Outras culturas foram resistindo e hoje estamos confrontados com os desafios que nos colocam.”
Primeiro, o religioso – “Devíamos ter presente que, por regra, a primeira expressão da Humanidade em cada país é uma expressão do religioso.”
Portugal – “Somos um povo entre os povos, não somos o centro do mundo. Já Camões se tinha apercebido de que éramos uma espécie de milagre... Esse milagre é uma coisa que nos enlouqueceu. Mas todos precisamos de loucura para suportar a vida. Não temos é necessidade de querer estar sempre nas primeiras páginas do mundo.”
[foto: Eduardo Lourenço fotografado por Daniel Rocha, no Público de hoje]
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