quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A mega-ficha do Mega-Agrupamento

Há tempos, começou a circular por aí um conjunto de quase 30 páginas que seriam as "Fichas de Registo de Avaliação" de professores do Mega-Agrupamento da Península de Setúbal, tudo em nome da objectividade na avaliação do desempenho docente. A gente lia e ficava a pensar que aquilo era apenas um exercício de especulação. Ainda hoje não sei bem como possa classificar aquele documento, mas pela via eufemística não iria com certeza! O que mais intriga é que ele não vem dos corredores da Avenida 5 de Outubro de Lisboa; vem daqui, das escolas que nos cercam e que conhecemos. Afinal, o excesso de burocracia começa aqui mesmo ao lado. Bem podem os formadores andar a dizer que não se pretende avaliar pessoas, mas sim desempenhos! Bem podem! O dito lote que constitui a "Ficha" pode ser visto aqui. É requerida alguma dose de paciência para levar a leitura até final. E não é recomendável que a mesma se faça depois de um dia de trabalho: é que, com facilidade, podemos desacreditar daquilo que fizemos como sendo o mais próximo do melhor.
Depois de ver a "mega-ficha", socorro-me de uma observação de Domingos Fernandes no opúsculo Avaliação do Desempenho Docente: Desafios, Problemas e Oportunidades (Lisboa: Texto Editores, 2008), quando refere os princípios que as escolas e os professores, os avaliadores e os avaliados devem ter em conta quando implementarem o sistema de avaliação - ao falar da simplicidade, diz: "Qualquer sistema de avaliação estará seguramente condenado ao fracasso se estiver inundado de listas infindáveis de objectivos, de competências, de indicadores, de descritores e de outras coisas do género que, por sua vez, dão origem a outras tantas grelhas ou listas de verificação que tornam inviável qualquer avaliação séria. A avaliação tem de ser o mais simples possível, sem ser simplista, devendo basear-se em conceitos fortes e naquilo que é verdadeiramente estruturante e fundamental. É um erro pensar-se que se pode avaliar tudo. Deve avaliar-se o que é realmente importante e isso é, normalmente, pouco. Não precisamos de muita avaliação. Precisamos de melhor e mais profunda avaliação." Aí está!