segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"Charroque da Prrofundurra", escrever setubalense

Começou por ser nome de blogue, eminentemente dedicado a Setúbal. Agora, virou livro, reunindo alguns postais publicados no blogue e também no mensário sadino O Farol. Chama-se Charroque da Prrofundurra – O Livrro (Setúbal: ed. Autor, 2010).
Logo pelo título, o leitor percebe que o título se relaciona com o falar setubalense, do “r” gutural, assim algo que, na pronúncia, soa entre o “r” e o “g”, muito característico dos setubalenses autóctones, talvez derivado de influência francesa do tempo em que os industriais gauleses por aqui andaram… Depois, no conteúdo, o leitor vê que, de facto, não se tinha enganado e embarca na companhia de cinco parceiros que costumam pescar a bordo do “Marrgarrida do Sáde”: o Toine (que se apresenta como o autor dos dizeres), o Chique, o Manel, o Ptinga e o Russe. Paixões, para além do mar (na faina): o Vitórria (com hino transcrito, acentuando os “rr”), o “polve seque”, as “mines”, o Fiat 127 “vermelhinhe”, o choco frito. Razão de ser dos textos (e do blogue e do livro): “uma grrande necessidade de acrreditarr que a nossa cidade vai sairr da obscurridão das desgrráças”, porque “há 20-30 anes nã acontcia nada e ia tudo prra Lisboa currtirr” e “agorra acontece e fica tude em casa”, o que anuncia que “tames aqui com um prrublema”.
O livro fala do Vitória (momentos bons e menos bons) e da Arrábida, de figuras e personalidades locais (Zé dos Gatos, Maurício Abreu, Finura), de questões sociais (a crise – “ê cá gostava que em prrimêrre lugarr me dêxassem mandarr a crrise à merrda: Crrise vai à merrda!”; os assaltos; a política), de questões locais (obras do Forum Luísa Todi; a luta contra o fecho das urgências pediátricas – “Os Setubalensses conseguirrem prruvarr que têm munta forrça e que podem ganharr batalhas futurras!”), de hábitos (pulseira do equilíbrio, viagem à Disney). A escrita, que tenta reproduzir as sonoridades de um determinado falar setubalense (em declínio), confere humor aos textos, ainda aumentado por algumas situações hilariantes que são relatadas e pelos retratos fornecidos das próprias personagens envolvidas.
Em paralelo, uma outra leitura vai sendo feita, surgida no rodapé de cada página, onde são reproduzidas frases características, em que abunda o tom provocatório, mas em que vale a riqueza das imagens, muitas vezes hiperbólicas – “levas um murre pus bêces q’até ficas a fazêrre dóminó pós dôs lades”, “à pá sóce… nã vêje nada com estes sapátes!”, “já tas mazé a porr muita mante’ga do pão!”
O leitor passeia por uma centena de páginas de bom humor e vê que há muitas verdades sobre Setúbal, ao mesmo tempo que é cumprido o preceito estipulado no prefácio: “este livrre é o suprassúme do garrgalharr com Setúbal e em Charroquês”.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que delícia. Euq uero este livro, mas não em formato digital. conta lá João, onde achaste? Ana Vieira

João Reis Ribeiro disse...

Onde encontrar o Charroque da Prrofundurra?
blog: http://charroquedaprrofundurra.blogspot.com
loja virtual: www.charroco.net
e-mail: charroque@gmail.com
loja real: charroco.net - R. Fran Paxeco, 62, em Setúbal.